A suposta caçada às fake news, que embasa
os recentes atos brutais do STF, é o truque para tentar calar a opinião pública
livre
Guilherme Fiuza
O Supremo Tribunal Federal
está brincando de ditadura. Mas esse tipo de brincadeira não dá para brincar
sozinho. O STF só tem coragem de mandar invadir a casa dos outros para
confiscar o direito de opinião porque tem a cobertura dos democratas de
auditório. Eles criaram a novelinha do Gabinete do Ódio para poder amordaçar
geral fingindo defender a liberdade.
Vamos deixar aqui uma modesta
sugestão aos democratas de fachada — que estão há um ano e meio dedicados a seu
fetiche fascista e não se conformam com a democracia: saiam de seu armário
cívico. Assumam publicamente seu horror à soberania da vontade popular. Declarem-se
milicianos de seus interesses particulares, de seus políticos de proveta
fabricados pelo Clube dos Ricos, de suas ONGs hipócritas, de suas associações
sombrias fantasiadas de salvacionismo global, de seus inconfessáveis projetos
de usar o charme cosmopolita para subjugar o Estado e mandar na porra toda.
A suposta caçada às fake
news — que embasa os recentes atos brutais do STF — é o truque para
tentar calar a opinião pública livre. Não é difícil de ver. Antes mesmo da
eleição de 2018, a armadilha já estava montada. Então na presidência do
Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luiz Fux declarou que a comprovação
de fake news na campanha presidencial poderia levar à anulação
da eleição. Uma declaração genérica, preparando uma diretriz flácida, insidiosa
e malandra. Quem iria determinar, e com quais critérios, o que eram fake
news — e, principalmente, se interferiram ou não no sufrágio?
Adivinhe.
O novo governo era
“ilegítimo”. Tinha sido ungido por uma conspiração de iPhone
Claro que nunca se ouviu uma
única bravata togada, nunca se viu uma única e suprema pirueta contra a
enxurrada de panfletos que diziam que o adversário do PT ia acabar com o Bolsa
Família. O papo de fake news na eleição, obviamente, era para
tentar controlar as redes sociais e outras mídias não controláveis.
Evidentemente, ali estava a nova frente de formação de consciência democrática
— e isso é muito perigoso. Foi assim que nasceu, após a eleição de Bolsonaro, a
tese patética do golpe de WhatsApp.
Fascistas diabólicos tinham
espalhado para as tias que o príncipe Haddad era chato, bobo e feio — e foi
assim que elas migraram para o adversário. Até ali, ninguém tinha nem notado que
Haddad era um suplente de presidiário.
A “profecia” de Luiz Fux se
cumpriu com essa narrativa idiota, que dominou a grande imprensa ao raiar do
novo governo. Ele era ilegítimo, tinha sido ungido por uma conspiração de
iPhone. Foi então preparada a fanfarra da CPI das Fake News, irmã gêmea desse
inquérito extraterreno do STF que embasou a invasão ditatorial de domicílios
contra a liberdade de opinião. A CPI das Fake News foi criada para avalizar as
teses conspiratórias de Gabinete do Ódio e golpe de WhatsApp — e acabou
desmoralizando-as, com detalhes sórdidos trazidos pelas próprias fontes que
embasavam a dramaturgia “democrática”. O circo saiu pela culatra.
As fake news de
grife não suportam a democratização da opinião
Mas eles não descansaram. O
Brasil foi às ruas diversas vezes, em manifestações pacíficas de apoio à agenda
reformista aprovada nas urnas, e isso também era sempre uma orquestração
fascista do Gabinete do Ódio. O povo na rua pedindo a reforma da Previdência
(aprovada) era, na leitura prévia da resistência cenográfica, articulação
miliciana para dar palanque ao fascismo. Contando ninguém acredita. Mas foi
exatamente assim.
Nunca se viram antes
tentativas de embargar, previamente e no grito, manifestações populares de rua.
Mas isso passou a acontecer a partir de 2019. Rodrigo Maia e sua tropa
fisiológica ameaçavam sabotar as reformas — com declarações ostensivas na
grande imprensa contra a equipe econômica — e o povo se mobilizava para
defender nas ruas a agenda de Paulo Guedes. Imediatamente brotavam manchetes e
fofocas sobre um movimento obscurantista contra o Parlamento. Confundir repúdio
à sabotagem com ameaça ao Congresso foi um dos esportes preferidos, no último
ano e meio, do Gabinete do Amor.
As fake news de
grife não suportam a democratização da opinião e o aprofundamento da liberdade
de expressão para além de seus domínios. O STF não daria um pio sem a cobertura
desses democratas de auditório. A Suprema Corte é covarde. A ditadura é mais
embaixo.
Título e Texto: Guilherme
Fiuza, revista Oeste, 29-5-2020, 10h07
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-