Lucas Terra
Os cariocas parecem que não
têm um dia de paz. Não bastasse a grave crise do Coronavírus, agora, o
governador Wilson Witzel [foto]está sendo investigado na Operação Placebo, da
qual a Polícia Federal já realizou apreensões de celulares e computadores do
atual mandatário do Rio de Janeiro.
Antes de falar do atual
governador em si, é necessário lembrar o grande histórico de governadores do RJ
que tiveram que enfrentar a Justiça. Inclusive, os 5 últimos foram presos –
Moreira Franco, Luiz Fernando Pezão, Anthony Garotinho, Rosinha Matheus e
Sérgio Cabral (este permanece preso). Agora, o atual governador sendo
investigado.
Parece que o Rio de Janeiro
vive um eterno estado de caos. O atual governador, ex-juiz federal, foi uma das
grandes surpresas nas eleições de 2018, quiçá a maior entre os governadores do
Brasil.
Até a eleição, era uma figura
desconhecida da maioria do povo carioca. Apareceu em debates levantando a
bandeira do combate à corrupção, se apresentou também como uma nova política, e
ainda teve o apoio do filho do presidente Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro,
hoje senador e que, recentemente, pediu desculpas por ter apoiado o governador
do RJ durante a campanha.
Em uma eleição marcada pela
grande polarização política, ”fake news” e uma grande participação das redes
sociais, o atual governador se apresentou como um político novo, com ideias
novas, dizendo que o povo carioca não deveria mais votar nos velhos políticos
que sempre faziam a ”velha política”.
Como tratado anteriormente, os
últimos governadores do RJ, apesar de hoje responderem seus respectivos
processos em liberdade, já foram presos – salvo Sérgio Cabral, que continua na
cadeia. O povo carioca, então, quis apoiar o então candidato, que se
apresentava como novo e diferente.
O Rio de Janeiro, no entanto,
não é um estado para amadores. Para morar no RJ e ser eleitor, tem que ter
”carcaça”, tem que saber que tudo pode acontecer, principalmente no que tange
ao assunto política.
Wilson Witzel, que atualmente
se encontra em grande briga política com a família Bolsonaro – o que causa
grande estranheza, porque parece que o governador só quis o apoio da família
para conseguir sua eleição e, depois de ter realizado o feito, se desvencilhou
-, agora está sendo investigado pelas mesmas práticas antigas da ”velha polític”a
que ele tanto criticou. Mas, repare: o atual governador se torna o 6º
mandatário do estado a ser investigado. Será que o RJ também terá um ”7 a 1”,
só que na política? Sete governadores contra um judiciário? Ironias à parte,
todos esperam que não, no entanto, não duvidem da capacidade dos que governam
esse estado. Parece que aqui acontecem coisas que até Deus duvida.
Só que é necessário reparar um
detalhe muito importante: o atual governante do RJ ainda é investigado, ou
seja, é inocente para todos os fins até que se prove o contrário. Mas por que
afirmar isso? Porque a Constituição é categórica em seu artigo 5º, inciso LVII,
que ninguém será considerado culpado até a sentença penal condenatória
transitada em julgado.
”Art. 5º Todos são iguais
perante à lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”
E, por mais que a situação
gere uma grande revolta em qualquer pessoa, o governador também deve ter seus
direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição respeitados,
princípios básicos do Devido Processo Legal, Contraditórios e Ampla Defesa.
O governador, até então, tem
se defendido, dado declarações de que ajudará nas investigações e que seu
sigilo pode ser quebrado sem problema nenhum, alegando sua inocência, o que é
seu direito.
No Brasil, o povo está tão mal
acostumado com escândalos de corrupção, que, quando um político aparece como
investigado, a sociedade já o considera um condenado, o que não é a verdade e
não deve ser considerado assim, pois é necessário seguir todo o rito
processual, até que se chegue à conclusão se é realmente culpado ou não.
É inevitável o sentimento de
revolta ou de tristeza com relação a essas investigações. O que ainda é mais
devastador é que é em um momento de pandemia. Saber que aqueles que deveriam
representar o povo, concretizando os direitos da população, supostamente estão
se beneficiando, desviando verbas públicas, cometendo atos ilícitos, e em um
momento delicado, onde diversas pessoas estão morrendo, onde muitos perderam
entes queridos, e a população ainda tem que lidar com esse tipo de situação,
saber que os políticos estão sendo investigados e que podem ser condenados por
esses atos… É complicado.
Parece que a ”velha política”
sempre vai estar presente, pelo menos no estado do Rio de Janeiro. E, para
piorar, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) protocolou
um pedido de impeachment, com base nos documentos da Operação Placebo, alegando
o mau uso do dinheiro público, que poderia configurar a exoneração de Witzel do
cargo.
Sem entrar em detalhes sobre o
pedido de impeachment, duas perguntas são necessárias: o povo do Rio de
Janeiro, além de tudo que está vivendo, vai conseguir suportar um processo de
impeachment do governador? No meio de toda essa situação, vai fazer bem para ao
estado um processo de impeachment?
Todos sabem que um processo de
saída do governante é algo demorado, e pode gerar uma instabilidade ainda
maior. O Rio de Janeiro se encontra em uma completa ”sinuca de bico”.
Por fim, essa coluna não
poderia deixar de expressar seu posicionamento ao atual governo. Apesar de o
atual governador ser novo na política, assim como seus aliados, eles cometem os
mesmos atos da ”velha política”, governam como a mesma política de sempre.
Sendo futuramente condenados ou absolvidos – essa não é a questão -, o fato é
que, apesar de novos, as ideias são velhas, os hábitos e a forma de governar
são os mesmos dos que já passaram, em nada diferem.
A população brasileira, em
especial o povo carioca, tem que parar de votar em políticos que se denominam
os salvadores da pátria, tem que parar de votar no ”mais ou menos”, ou parar de
votar em um para que o outro não possa ser eleito. É hora de votar naquele que
apresenta ser o melhor candidato e, principalmente, eleger mais do que um político
em si. O que o RJ precisa hoje e sempre vai precisar é de um administrador, e
não de um salvador da pátria.
Título e Texto: Lucas Terra,
Diário do Rio, 29-5-2020
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