Jean-Baptiste Noé
“As forças de uma nação se revelam nas
provações”
A onda de choque da vitória do
Japão sobre o império russo em 1905 foi grande. Pela primeira vez, uma nação
europeia era derrotada por uma potência asiática. O choque não era tanto
militar ou político: o resultado desta guerra obrigava a repensar o ordenamento
do mundo. A derrota é um apocalipse: ela revela as fendas e as falhas que se
camuflavam e que se acreditava inexistentes, ela nos mergulha de maneira
brutal, na realidade do que nós somos.
1798 para o Egito, 1898 para a
Espanha, 1940 para a França, a história das nações é percorrida por derrotas apocalípticas.
O desafio posto é o de saber o que devemos fazer: eliminar ou renovar.

A França se gabava de ter um
sistema de saúde invejado óleo mundo inteiro. Ela acabou com milhares de
mortos, apesar das medidas impositivas e de despesas muito elevadas.
A União Europeia demonstrou a
sua impotência: foram as nações que agiram. Será difícil para esta estrutura
política (EU) justificar um poder político depois de tamanha evaporação de
legitimidade.
Um desafio moral. O
número diário de mortos na França, durante o pico, não tem comparação com os
atentados. Por mais dramáticos que foram os atentados islamitas, eles mataram
menos em vinte anos do que um dia de pandemia. Desde 1945 a França só conheceu crises
de ter, com este vírus ela conheceu uma crise do ser.
As dificuldades econômicas e o
desemprego são lamentáveis, mas isso torna-se menor em comparação com a perda
da vida e ter de deixar os parentes morrerem sós, sem possibilidade de os
acudir.
Como Tucídides já havia
percebido por ocasião da peste de Atenas, o perigo está em abandonar a civilidade
para assumir a barbárie.
É ilusório acreditar que
depois desta crise “tudo vai mudar”, ou que “nada mais será como dantes”. Para as nações da Europa o desafio não será
tanto econômico, mas moral. As guerras mundiais foram muito mais destruidoras
do que esta epidemia; por mais dura que seja a situação para as empresas, será possível
recuperar as perdas materiais, pelo trabalho e inovação.
Em contrapartida, será mais
difícil recuperar as liberdades fundamentais restringidas sob o pretexto de
guerra sanitária. Mais difícil ainda será compreender as razões do nosso
fracasso sanitário e político e de tomar as medidas adequadas para enfrentar as
próximas pandemias.
Motivos de esperança. As crises são o apocalipse das nossas
falhas, mas também revelam as grandezas escondidas de nossas sociedades, bastantes
motivos de esperança.
Foi graças à solidariedade que
o choque pôde ser aguentado e superado: as nações, as famílias, as amizades, as
redes sociais, toda esta mobilização permitiu que se pudesse assistir os mais frágeis
e de manter a atividade econômica.
Seja o corpo social sanitário,
enfermeiros e enfermeiras, médicos, bombeiros etc. que aguentou, apesar da
fadiga e da falta de meios, o corpo social da inovação e os empreendedores, que
modificaram as cadeias de produção para fabricar máscaras, testes e material
hospitalar, inovando para encontrar novos produtos capazes de responder à
urgência, ou o corpo social da continuidade das atividades essenciais:
professores, padeiros, comerciantes, serviços técnicos e informáticos etc.
A sociedade civil foi o
fator-chave da luta sanitária. A revelação desta crise foi a de ter demonstrado
a importância do seu papel como pilar essencial do poder. Se o exemplo do
cavalo de Troia ilustra o fato que as civilizações morrem do seu interior,
também é no seu seio que se encontram os meios do renascimento e da renovação.
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