quinta-feira, 28 de maio de 2020

A China não será mais a mesma

Paul Coyer

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No plano político, o PCC (Partido Comunista da China) viu a sua autoridade posta em causa de maneira inesperada em Hong Kong no ano passado, quando manifestantes pró-democracia empunharam bandeiras americanas e portaram imagens de Donald Trump para elogiar a vontade dele de modificar a política americana das últimas décadas em relação a Pequim, e a liderança autoritária da China.

A máquina de propaganda do PCC, tão aclamada, parece não ser mais tão eficaz quanto no passado. A cólera do povo (traduzida em violentas manifestações) ultrapassou todas as tentativas de repressão e povo chinês está muito menos inclinado a acreditar na narrativa do seu governo no tocante ao papel deste na luta contra o coronavírus. Aliás, muito menos do que grande parte da mídia ocidental.

A credibilidade do PCC já estava seriamente comprometida, e a crise do coronavírus empurrou-a para um nível baixíssimo, quer nacional quanto internacionalmente.

É indiscutível hoje que as ações do regime permitiram ao coronavírus tornar-se a pandemia mundial em que se transformou. Em vez do “ganhar tempo para o resto do mundo”, como o PCC tentou reescrever, um estudo da Universidade de Southampton estimou que o impacto do coronavírus poderia ter sido reduzido em 95% se as autoridades chinesas tivessem sido transparentes, se tivessem respondido positivamente aos médicos de Wuhan que pediam uma ação imediata para conter o vírus em vez de os punir e de os silenciar, se elas tivessem agido imediatamente informando o mundo e procurado cooperar plenamente com os experts internacionais.

As informações filtradas pela China indicam que o verdadeiro nível de infecções e mortes é muito superior aos números oficiais, e que Pequim manobra cinicamente para tirar vantagem geopolítica da crise mundial que ela ajudou a criar.

A gestão do vírus pelo PCC, baseada na dominação brutal e desumana no território nacional e de seu comportamento contrário ao respeito dos direitos humanos, sublinhou o fato de que a China sob a dominação do PCC jamais será um membro responsável ou digno de confiança da comunidade internacional. 

A amplitude dos efeitos do coronavírus no país e o impacto final internacional da pandemia ainda está por determinar, mas é evidente que a ira generalizada da população chinesa contra o regime não será facilmente contida.

Parece igualmente provável que a China perderá a sua posição de centro de produção mundial, o que terá consequências negativas sobre a sua economia e repercussões importantes sobre a região indo pacífico, porque as cadeias de abastecimento que já se retiravam por causa das guerras comerciais acelerarão essa mudança.

O regime parecia em plena ascensão. Estava forte e deveria se transformar num líder regional e mundial. Muito provavelmente tudo será diferente nos próximos anos.
Título e Texto: Paul Coyer, CONFLITS, nº 27, maio/junho de 2020
Tradução: JP, 28-5-2020 

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