Paul Coyer
(...)
No plano político, o PCC
(Partido Comunista da China) viu a sua autoridade posta em causa de maneira
inesperada em Hong Kong no ano passado, quando manifestantes pró-democracia
empunharam bandeiras americanas e portaram imagens de Donald Trump para elogiar
a vontade dele de modificar a política americana das últimas décadas em relação
a Pequim, e a liderança autoritária da China.
A máquina de propaganda do
PCC, tão aclamada, parece não ser mais tão eficaz quanto no passado. A cólera
do povo (traduzida em violentas manifestações) ultrapassou todas as tentativas
de repressão e povo chinês está muito menos inclinado a acreditar na narrativa
do seu governo no tocante ao papel deste na luta contra o coronavírus. Aliás,
muito menos do que grande parte da mídia ocidental.
A credibilidade do PCC já estava
seriamente comprometida, e a crise do coronavírus empurrou-a para um nível
baixíssimo, quer nacional quanto internacionalmente.
É indiscutível hoje que as
ações do regime permitiram ao coronavírus tornar-se a pandemia mundial em que se
transformou. Em vez do “ganhar tempo para o resto do mundo”, como o PCC
tentou reescrever, um estudo da Universidade de Southampton estimou que o
impacto do coronavírus poderia ter sido reduzido em 95% se as autoridades
chinesas tivessem sido transparentes, se tivessem respondido positivamente aos médicos
de Wuhan que pediam uma ação imediata para conter o vírus em vez de os punir e
de os silenciar, se elas tivessem agido imediatamente informando o mundo e
procurado cooperar plenamente com os experts internacionais.
As informações filtradas pela
China indicam que o verdadeiro nível de infecções e mortes é muito superior aos
números oficiais, e que Pequim manobra cinicamente para tirar vantagem
geopolítica da crise mundial que ela ajudou a criar.
A gestão do vírus pelo PCC,
baseada na dominação brutal e desumana no território nacional e de seu comportamento
contrário ao respeito dos direitos humanos, sublinhou o fato de que a China sob
a dominação do PCC jamais será um membro responsável ou digno de confiança da comunidade
internacional.
A amplitude dos efeitos do
coronavírus no país e o impacto final internacional da pandemia ainda está por
determinar, mas é evidente que a ira generalizada da população chinesa contra o
regime não será facilmente contida.
Parece igualmente provável que
a China perderá a sua posição de centro de produção mundial, o que terá
consequências negativas sobre a sua economia e repercussões importantes sobre a
região indo pacífico, porque as cadeias de abastecimento que já se retiravam
por causa das guerras comerciais acelerarão essa mudança.
O regime parecia em plena ascensão.
Estava forte e deveria se transformar num líder regional e mundial. Muito
provavelmente tudo será diferente nos próximos anos.
Título e Texto: Paul Coyer,
CONFLITS, nº 27, maio/junho de
2020
Tradução: JP, 28-5-2020
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