Grupo vai na contramão da OMS, que
suspendeu testes com o medicamento para tratamento da covid-19
Anderson Scardoelli
Um grupo formado por 25
cientistas brasileiros defende que a hidroxicloroquina seja utilizada em
tratamentos contra a covid-19. Em carta pública, a equipe liderada pelo químico
e professor Marcos Eberlin defende que o medicamento seja, inclusive, adotado
para as fases iniciais no combate ao novo coronavírus. O posicionamento foi
divulgado na última sexta-feira, 22.
Foto: André Rodrigues/Agência Brasil |
Para os 25 cientistas
brasileiros, porém, o uso da hidroxicloroquina não pode ser interrompido por
nenhum instante. O grupo salienta que há países que estão adotando protocolos
que utilizam esse e outros medicamentos. São os casos, por exemplo, dos Estados
Unidos e de Israel. O mesmo vem ocorrendo, segundo os cientistas, em ao menos
três nações da Europa: Espanha, França e Itália.
No decorrer da extensa carta
(íntegra abaixo), o time capitaneado por Marcos Eberlin enfatiza que uma única
entidade, ou especialista, não pode falar em nome da ciência. “Mas que
‘ciência’ seria essa para qual apelam? E quem, em nome dessa “ciência”, estaria
autorizado a falar?”, chegam a questionar os 25 cientistas. A nota pontua,
ainda, que a hidroxicloroquina estaria em meio a disputas meramente políticas.
Confira a carta:
Ao
Brasil,
A
“ciência” da Pandemia
Nessa
pandemia, o termo “ciência” tem sido utilizado “ad nauseam”. Repetem a
exaustão: “Ciência, ciência, ciência”, eu sou “pró-ciência”, e “por ela, nela e
para ela” me guio e atuo. “Eu, portanto, estou certo, coberto de razão”. É
nítida aqui a intenção de conduzir-nos todos à ideia de decisões alicerçadas em
algo inquestionável e infalível, tão científico com uma lei, como a lei da
gravidade.
Grupos
de “experts da ciência” ou famosos cientistas do YouTube, muito deles “mirins”,
alguns com mínima ou nenhuma experiência em combates de pandemias, são
selecionados pelo establishment e pela mídia para dar um “verniz científico”
para o isolamento social e a condenação da hidroxicloroquina (HCQ) como uma
droga ineficaz; pior, mortal.
Simulações
desastrosas apocalípticas do “Imperial College” – esse nome pomposo que nos
remete à ideia de um centro de excelência e saber infalível, onipotente e
inquestionável, um “Colégio Imperial” – são usadas para colocar todo mundo em
casa, e para então comparar dados como sendo a referência absoluta da verdade.
“Algo fizemos e por isso, esse tanto de óbitos reduzimos. Salve a ‘ciência’”!
Mas
que “ciência” seria essa para qual apelam? E quem, em nome dessa “ciência”,
estaria autorizado a falar? Ciência (sei que há controvérsias, pois cientistas
divergem até sobre o seu significado) é “a busca desapaixonada pela verdade
sobre o Universo e a vida”. Mas por ironia, buscamos verdades que nem sequer
sabemos como essas verdades seriam, ou onde estariam. Por isso, às vezes, por
ironia, mesmo quando cientistas acham uma verdade de fato verdadeira, duvidam
até de tê-la achado. Ziguezagamos literalmente no escuro em busca de soluções
para os nossos problemas. Por isso, falamos às vezes que: “comer ovos é ruim,
aumenta o colesterol; às vezes que é bom, coma à vontade”.
Richard
Feynman assim a classificou: “A ciência é a cultura da dúvida”. E eu
acrescento, “ciência é a cultura do embate, da divergência de opiniões”.
Raras
são as situações em que alcançamos consenso em ciência, mesmo que provisório.
Uns defendem o “Big Bang” e a evolução, outros os questionam, entre eles, eu.
Uns com dados defendem o papel central do homem no aquecimento global, outros
afirmam com os mesmos dados que é irrelevante. Cientistas são seres, portanto,
céticos e questionadores que podem e devem sim falar por si, como cientistas
que são, mas NUNCA UM CIENTISTA OU UM GRUPO DELES PODE SE DECLARAR AUTORIZADO A
FALAR EM “NOME DA CIÊNCIA!”
Ninguém,
absolutamente ninguém está autorizado a falar pela ciência ou declarar que por
ela é “guiado”! Em tempos de pandemia, essa impossibilidade é maior ainda, pois
enfrentamos um inimigo ainda pouco conhecido. Dados ainda estão sendo
coletados, e as pesquisas são feitas por cientistas divididos por suas
cosmovisões e preferências políticas e partidárias.
Quem
disse que agiu em nome da ciência, desonestamente usurpou o prestígio dela.
Pois que tipo de “ciência” foi essa, unânime e consensual, que dela ninguém nunca
ouviu falar? Poderiam me passar seu endereço para com ela seu consentimento eu
confirmar? Telefone, e-mail, WhatsApp?
Quanto
à hidroxicloroquina (HCQ), o embate científico inevitável entre teses fica
nítido quando cientistas renomados por todo o mundo e no Brasil, como o
virologista Paolo Zanotto (com 7,4 mil citações científicas) e os médicos
Didier Raoult (com 148 mil citações), Philip M. Carlucci e Vladimir Zelenko,
defendem seu uso baseados em estudos e artigos, enquanto outros, também
renomados e baseados nos mesmos e em outros estudos e artigos, a condenam.
Inúmeros países como EUA, Espanha, França, Itália, Índia, Israel, Rússia e
Senegal usam o fármaco no combate à covid-19, enquanto outros eximem-se em
utilizá-lo como uma das estratégias para contenção da pandemia, apostando em
táticas também controversas.
Quem
fala então aqui em nome da “ciência”? Qual grupo tem o monopólio da razão e a
autorização exclusiva de ser da “ciência” seu porta-voz? Cadê a autorização?
Escolha
uma opinião, e baseie nela sua estratégia, tudo bem, mas não cometa o
sacrilégio de proteger sua decisão e correr o risco de manchar com ela o “manto
sagrado da ciência”.
Indignado,
ouço todos os dias prefeitos e governadores afirmando, a plenos pulmões, que
“seguem a ciência”. Presidentes de conselhos e alguns de seus conselheiros, e
de academias, e reitores em seus gabinetes escrevem cartas em nome de toda a
sua comunidade, como se fosse uma posição de todos, consensual. Nada mais
falso.
Seguem
a ciência? Seguem nada! Seguem a ala da ciência que gostam, e os cientistas que
do seu lado eles escolheram colocar. Desprezam a outra ala da ciência, pois há
também centenas de cientistas e artigos que se opõe às suas posições e medidas.
Pior,
cientistas não são anjos. Cientista é gente, e gente tem gostos e desgostos,
paixões e opiniões político-partidárias. Ou não teriam? Há muitos cientistas,
portanto, que fazem o bem sem olhar para quem, conheço e admiro muitos. Mas há
pseudocientistas que usam a ciência para defender sua opinião, seu bolso, ou
sua paixão.
Cientistas trabalharam e ainda trabalham com
afinco e desprendimento para contribuir para o bem da humanidade, muitos dos
quais estão hoje em laboratórios, arriscando suas vidas para desenvolver novos
métodos de detecção do coronavírus, drogas e vacinas, quando poderiam ficar em
casa. Mas, para ilustrar, conheço cientistas que publicaram artigos, uns até na
“Science” ou na “Nature”, com dados fabricados de madrugada, outros que
retiraram pontos de suas curvas, e outras estratégias afins. Muitos cientistas
estavam ao lado de Hitler, ou não estavam? Agiram eles em nome da “ciência”?
Outros desenvolveram bombas atômicas. Outros desenvolvem ainda hoje armas
químicas e biológicas e drogas ilícitas, de design.
O
trabalho de Manaus com a cloroquina (CQ) publicado no Journal of the American
Medical Association (JAMA) é emblemático nessa discussão de “ciência”.
Cientistas lá usaram, o manuscrito revela, doses letais em pacientes
debilitados, muitos em estados grave e com comorbidades. O perfil do grupo
parece não ter sido “randomizado”, pois nota-se uma nítida “preferência” no
grupo da ALTA DOSE por fatores de risco. Usou-se cloroquina, mais tóxica, e
parece que cometeram “erros infantis” até em cálculos simples de
estequiometria, dobrando com o erro a dosagem. Não sei julgar intenções, a
justiça julgará. O ex-ministro Mandetta citava esse estudo, o apoiou, e com
base nele declarava categoricamente: “Não aprovo a cloroquina pois me baseio em
“ciência, ciência, ciência”!
Outro
estudo publicado por pesquisadores chineses no British Medical Journal (BMJ) e
que ainda é insistentemente usado contra a HCQ foi também no mínimo revoltante.
Nele os autores declaram: “administramos 1.200 mg por 3 dias, seguido de 800 mg
por 12 a 21 dias, em pacientes com sintomas de moderado a severo”. Ou seja,
administraram um “caminhão” da droga que poderia chegar no final ao absurdo de
20 gramas, e deram tarde demais (deve-se administrar a HCQ nos primeiros
sintomas ou até antes). E pior, superdosagem de HCQ ou qualquer outra droga
para casos severos é venenoso. O que você achou, foi boa ciência? A dosagem
recomendada desde ontem (20/05/2020), pelo Ministério da Saúde, para sintomas
leves é de 2 vezes 400 mg no primeiro dia (de 12h em 12h) e 400 mg por 5 dias
num total de 2,8 gramas.
Em
outros estudos publicados, também nessas revistas de renome internacional como
The New England Journal of Medicine, JAMA e BMJ (3-5), mais uma vez nota-se
claramente “problemas”, pois ou os pacientes foram randomizados de maneira
irregular, colocando-se nos grupos pacientes mais graves e hipoxêmicos, ou mais
homens (quase 3 vezes mais mortais por covid que mulheres), ou mais negros (nos
USA negros apresentam maior mortalidade) e mais fumantes, e onde a maioria das
mortes ocorreu nos primeiros dias dos estudos (sinais que foram de pacientes
graves, que nessa fase seriam mais “intoxicados” do que “tratados” com a HCQ),
ou administraram a HCQ sozinha, quando se sabe que é preciso associá-la pelo
menos à azitromicina. Um desses estudos administrou a HCQ apenas no décimo
sexto dia de sintomas (para tratamento realmente precoce, deve-se iniciar
administração da HCQ até o quinto dia), ou seja, já no fim da doença, quando o
remédio pouco ou nada pode fazer.
Esses
trabalhos indicam que ou esqueceram como se faz “ciência” ou que há um enorme
esforço para provar que a HCQ não funciona, custe o que custar. Como alguém ou
até Conselhos e Academias de Medicina podem citar tais trabalhos como a
“ciência” de suas decisões? Como?
Na
contramão, o estudo publicado e hoje já com mais de 3 mil pacientes testados, e
realizado pelo Dr. Didier Raoult na França, usando a dosagem correta e na hora
certa, com uma baixíssima taxa de mortalidade (0.4%), e a experiência clínica
da Prevent Senior no Brasil, também bastante alentadora, são desqualificados
com argumentos deveras “fúteis” como: “Didier Raoult é um pesquisador polêmico
e indigno de crédito”, “Na Prevent não tinham certeza do diagnóstico” (mas
quase nenhum internado com sintomas claros de COVID morreu), “efeito placebo”
(que poder sobrenatural da indução de nossa mente que reduz de 40% para zero a
mortalidade, eu quero este placebo!), “estudo feito por plano de saúde” (esses
eu não duvido que queiram salvar vidas, pois sobretudo são seus clientes, que pagam
suas contas), e efemeridades afins.
Posto
em meu Facebook, quase que diariamente, trabalhos, estudos e relatos incríveis
a favor da HCQ. Muitos comigo se solidarizam, mas alguns são veemente
contrários, e me confrontam com argumentos tipo: “como pode um cientista de seu
gabarito perder seu prestígio para defender esse presidente?”. Alguns eu
conheço pessoalmente, outros pesquiso em seus perfis. Pode existir, eu sei, mas
não encontrei sequer um desses amigos até agora que não seja de esquerda,
combata o atual presidente do Brasil e, via de regra, não seja favorável ao
desastrado #FiqueEmCasa.
Mas
a pergunta mais importante creio que seria esta: estamos absolutamente certos
pela “ciência” que a HCQ é eficiente e salva vidas? Creio que não. A chance é
alta, mas certo nenhum cientista está. Daqui a alguns anos, talvez. Estamos
absolutamente certos hoje que a HCQ não salva? Claro que não, ninguém
honestamente está. Quero, portanto, deixar a “ciência da dúvida” de lado, pois
cientistas divergem, e apelar para outra área: o direito. Inclusive, remeteram
a questão até para lá, para que juízes julguem com base na “ciência”. Basta
saber quem por ela falará. Mas há, em Direito, um princípio, esse
inquestionável e consensual, que deveria ser usado para definir o dilema:
“In
dubio pro reo”. Ou seja, na dúvida, favorecimento ou absolvição do réu (no caso
a HCQ).
Se
há então dúvida, pela “ciência”, e uma possibilidade plausível é a cura, com a
HCQ, e se a droga é barata, quase de graça, disponível e distribuída por vários
laboratórios no Brasil (Cristália, Apsen, EMS, Forças Armadas, Sanofi-Aventis),
e se ela apresenta efeitos colaterais mínimos em dosagem agudas de só 5 dias
(muitos tomam a droga diariamente por anos), como todo o fármaco (vide a
aspirina e o paracetamol), e se o réu corre ou pode correr maior risco de vida,
se não medicado, então PRÓ-VIDA!
QUE
TODOS, ABSOLUTAMENTE TODOS OS BRASILEIROS QUE ASSIM DESEJEM, TENHAM O DIREITO
DE SER TRATADOS COM A HCQ.
Decisão
jurídica justa. E ponto final.
Isso
sim é ciência, não a “ciência” que eu gosto ou a que usurpam por aí, mas a
“ciência” que temos aqui e agora, baseada nos fatos de hoje, na razão.
Por
fim, lembremos todos que diante da uma doença nova e da sua progressão
extremamente veloz nos mais debilitados com complicações gravíssimas, e de
tantas incertezas no diagnóstico, e por tratarmos não papéis nem exames, mas
PESSOAS, faz-se imperativo ao médico decidir no olho a olho com seus pacientes,
invocando não a “ciência” de alguns, mas a bússola valorosa da medicina que
salva vidas desde os primórdios da medicina: “A CLÍNICA É SOBERANA!”
Título e Texto: Anderson
Scardoelli, revista Oeste, 25-5-2020, 17h32
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