António Gonçalves Rodrigues
A aplicação da última versão do acordo ortográfico vai ser mais simples para os portugueses do que foi para os brasileiros. A convicção é do linguista brasileiro Evanildo Bechara, manifestada esta tarde, à margem da sessão de abertura do IX Colóquio Anual da Lusofonia, em Bragança.
![]() |
O uso do hífen será um dos problemas, prevê o linguista Evanildo Bechara, foto: Miguel Madeira |
Segundo Evanildo Bechara, “o acordo faz com que os brasileiros abram mão de muitos mais princípios do que os portugueses”, nomeadamente na acentuação. “Os brasileiros têm vogais muito mais abertas” e terão, com o acordo, de retirar alguma acentuação que utilizavam anteriormente.
Quanto aos portugueses, será positivo “para as crianças, que deixarão de ser obrigados a usar uma consoante que não lêem”, como em “Egipto”, que passa a Egito, enquanto “egípcio mantém o ‘p’”.
No Brasil, o acordo assinado em 2008 já está em vigor desde 1 de Janeiro 2009. “Inicialmente foi [uma aplicação] titubeante”, porque “já faz parte da tradição o Governo assinar e depois voltar atrás. Aconteceu em 1943, quando Portugal assinou e depois saiu. Em 1945 o Brasil assinou, mas depois voltou ao de dois anos antes”. Por isso, este foi “um momento histórico, ter reunido à mesa representantes de sete países e todos eles assinarem o acordo”.
Em Portugal, a sociedade tem reservas “naturais”, como “sempre acontece quando há mudanças”. “É normal, ainda para mais numa língua que tem mudanças ortográficas de dez em dez anos, porque o público escreve por memória visual”, considera o linguista brasileiro, que aponta o uso do hífen como o mais problemático.
Nas escolas “tem sido perfeito”, observa Bechara . “Todos os professores já usam acordo. E como o maior cliente das editoras é o Governo, que compra milhares de exemplares de livros didácticos para distribuir gratuitamente pelos alunos, já há dois anos que se determinou que as compras de 2011 estejam de acordo com a reforma”.
Já o linguista português João Malaca Casteleiro considera que o atraso na implementação do novo acordo nos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) se deve ao facto de Portugal “não ter ainda tomado uma decisão quanto à entrada em vigor do acordo”.
“O Brasil tomou essa iniciativa e tinha sido muito importante que Portugal e Brasil o tivessem feito ao mesmo tempo. [Não o terem feito] atrasa o processo nos outros países”.
Mesmo assim, em Portugal há algumas iniciativas, como as de alguns órgãos de comunicação social, que já aplicam as novas regras, e “foi anunciado pelo Ministério da Educação que o novo acordo entraria em vigor em 2011-2012, para dar tempo a que se fizessem as alterações nos manuais”, sublinhou Casteleiro, destacando o facto de ser a “única língua de grande projecção internacional com duas versões”.
António Gonçalves Rodrigues, Público, 27-09-2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-