Reinaldo Azevedo
Fiz, sim, uma dura crítica ao
desempenho do governo do Rio — especialmente do governador Sérgio Cabral — no
caso dos desabamentos dos três prédios. Não retiro nem matizo uma miserável
palavra e creio que outras tantas devam ser acrescentadas, como farei. Antes,
no entanto, são necessárias algumas considerações.
É uma tolice, uma bobagem,
afirmar que critiquei “o Rio”. Não! Eu reprovei o comportamento de Cabral e
classifiquei de desastrada a ação de resgate das vítimas, com retroescavadeiras
operando no canteiro poucas horas depois da tragédia. É um procedimento
inaceitável. Mais: faltaram peritos para orientar o trabalho, o que poderia ser
vital para se chegar às causas do desastre. Diz-me um engenheiro que o modo
como quebra uma viga, o retorcimento da ferragem e até o tamanho dos escombros
são pistas essenciais do que aconteceu.
Em nenhum momento sugeri que a
população do Rio não sabe votar. Se o sujeito, porque eleito, tem de ficar
imune à crítica — ou, então, se estará atacando a maioria que o escolheu —,
instituamos a ditadura por intermédio das urnas. É o sonho dourado dos
totalitários.
Sugiro a alguns exaltados
fluminenses, especialmente a alguns cariocas, e a uns tantos críticos
contumazes do Rio que deixem de bobagem. Infelizmente, dadas a baixa qualidade
da fiscalização e a corrupção da máquina pública, em todas as esferas, o que se
viu pode acontecer em qualquer cidade. Mas é preciso reconhecer a
particularidade quando diante de uma. Carregar corpos de vítimas junto com
entulho é uma manifestação brutal de incompetência. Ela não revela nada do povo
do Rio. Isso é besteira. O tratamento dispensado ao caso é que expõe a
blindagem dos governantes locais, o que considero ruim para a cidade e para o
estado.
Qualquer profissional de
imprensa e qualquer leitor sabem que evento idêntico em São Paulo levaria os
governantes locais para o corredor polonês. Não se trata de culpar esse ou
aquele pelo desabamento. Trata-se de reconhecer uma operação desastrada de
salvamento, de que os fragmentos de corpos no entulho são provas cabais. Em
nenhum país do mundo se decreta não haver mais chance de resgatar vítimas com
vida depois de 24 horas. E se fez isso no Rio. Sob o silêncio cúmplice da
imprensa, que também não estranhou aquelas absurdas retroescavaderias no local
já nas primeiras horas de quinta-feira.
Clima de “Estamos todos
juntos”
O Rio, infelizmente, tem assistido
a uma seqüência de eventos trágicos. Imediatamente, as TVs convocam a rede de
solidariedade, o que é compreensível e correto. Mas isso não pode se confundir
com inibição da crítica e da cobrança — e ouso dizer que isso está, sim,
acontecendo. Reparem que não há, na grande imprensa, a fala de um só
especialista em resgate. A história dos corpos despedaçados nos entulhos é
tratada como uma fatalidade, um dano marginal, coisa própria a operações dessa
natureza. E isso simplesmente não é verdade.
O Rio vem de uma sucessão de
governos realmente desastrados e desastrosos. Sérgio Cabral, muito em razão da
supervalorizada — e também pouco questionada — implementação das UPPs,
conseguiu operar acima do padrão histórico. Entendem muitos formadores de
opinião na cidade — e pode até ser que tenham razão; não debato isso — que as
eventuais alternativas podem ser piores. Ok. Isso, no entanto, não deve impedir
de se caracterizar o erro como um “erro”, ou quem perde é a população.
Regionalismo, meus queridos,
para atacar ou para se defender, é sempre um argumento burro. Eu não estou
dizendo que a imprensa carioca deva detestar o Rio, assim como a paulista, ou
boa parte dela, detesta São Paulo. Ao contrário: deve amá-lo ainda mais. E uma
boa maneira de fazê-lo é chamando o erro de “erro” e o acerto de “acerto”. O
fato de Anthony Garotinho criticar Cabral não deve tornar Cabral imune à
crítica até de quem não é Anthony Garotinho, não é mesmo?
Para encerrar: ilações feitas
na imprensa estrangeira de que o desabamento pode indicar risco para os que
forem aos estádios na Copa são, claro!, exageros estúpidos. Mas não venham me
dizer que o exemplo escancarado de ineficiência no resgate deveria ter sido
ignorado. Afinal, é o estado brasileiro que responde pela segurança do evento,
não?
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 30-01-2012
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30-01-2012. Foto: Bia Alves/Fotoarena/Especial para Terra. A notícia está aqui.
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