João
Miranda
A qualidade
da informação em Portugal é tão fraquinha ao ponto de as pessoas debaterem
incessantemente Chipre sem saberem quase nada sobre Chipre, o que obviamente só pode
levar a conclusões erradas ou absurdas. Os pontos seguintes são essenciais para
perceber as opções da União Europeia em relação a Chipre, mas raramente são
mencionados nos debates ou nas notícias:
1. Chipre não tem capacidade de se
financiar nos mercados e precisa de ajuda externa.
2. Os maiores bancos cipriotas estão
falidos. Falidos mesmo. Não é um problema de liquidez como o Banif ou o BCP, estão
falidos mesmo, como o BPN (algumas pessoas também não percebem esta diferença,
mas pronto).
3. Só seria possível salvar os bancos
cipriotas com injecções de dinheiro a fundo perdido, coisa que a UE não pode
fazer porque as regras não o permitem. Nem a UE quer porque isso beneficiaria
os infractores que não cumprem as regras do euro.
4. Chipre poderia salvar os bancos
assumindo as dívidas destes, como fez a Irlanda. Mas essa opção não é viável.
Chipre não teria capacidade para pagar a dívida e a União Europeia não aceita
essa opção porque não empresta dinheiro que sabe não poder nunca recuperar. O
FMI idem.
Por que é que estas informações são omitidas? Porque facilita a narrativa
infantil de que a UE e a Alemanha só
querem fazer maldades a Chipre e ao Sul da Europa. É isso que as pessoas
querem ouvir. Os factos são irrelevantes.
Título e
Texto: João Miranda, Blasfémias,
26-03-2013
Tem mais
uma (importante) informação:
Demetris Christofias, atual presidente
de Chipre, eleito em 17 de fevereiro de 2008, era o secretário-geral do AKEL, antigo Partido Comunista de
Chipre que mudou o nome para Partido Progressista dos Trabalhadores (Progressive Party for the Working People). Em Chipre, o presidente é chefe de Estado e de
Governo.

Agradecendo ao leitor Miguel Madeira que nos privilegiou com o seu comentário, acrescento:
Em 24 de fevereiro de 2013,o candidato pró-troika e que
pretende um afastamento da relação privilegiada da ilha com a Rússia, Nicos Anastasiades, apoiado pelo
partido de direita Aliança Democrática (DISY), ganhou a segunda volta das
presidenciais por 57,48%. Na primeira volta recolhera 45,46%. O candidato
derrotado, Stavros Malas, apoiado pelo Partido Comunista e pelo governo e
presidente incumbentes, passou de 26,91% na primeira volta para 42,52%.
Fonte: Expresso
Quanto à atual denominação do
Partido Comunista de Chipre, no seu próprio site,
se lê Progressive Party for the Working
People. Ele mudou o nome, mas não a ideologia e/ou os valores que
representa e defende.
Dois correcções (que reconheço nem são muito relevantes) ao ultimo ponto:
ResponderExcluirDemetris Christofias já não é o presidente de Chipre (foi eleito um novo presidente há umas semanas, do partido DYSI, de direita)
O Partido Comunista de Chipre não "mudou de nome" para Partido Progressista dos Trabalhadores - sempre foi o seu nome (bem, mudou de nome em 1941, mas isso já foi há tanto tempo que podemos considerar que a sua dominição tradicional é mesmo P.P.T.)); isto é, não estamos a falar de um partido ex-comunista (como aqueles que mudaram de nome em 1990) - é mesmo um partido comunista assumido (que por acaso não tem "Comunista" no nome, mas isso não é inédito)
Muito obrigado, Miguel.
ResponderExcluirAcrescentei esses esclarecimentos no post.
Abraços./-