Francisco Vianna
Além da perda de acesso ao
oceano Pacífico que resultou da Guerra do Pacífico, entre o
Chile e a Confederação Peru-Bolívia entre 1879 e 1883, a Bolívia agora represa o rio Silala para a criação de
trutas, num curso d’água considerado internacional pelo Chile, o que segundo os
chilenos, torna a prática ilegal.
Evo Morales, o presidente
cocaleiro da Bolívia inaugurou ontem, quinta-feira, um criadouro de trutas
construído por militares em Potosí (Bolívia), na fronteira com o Chile,
utilizando as águas do chamado ‘manancial’ do Silala que, segundo afirmou, “não
é um rio internacional como assegura o governo vizinho, mas binacional, com
cada país soberano quanto à parte que o toca.
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Evo Morales, brandindo uma truta, inaugura criadouro no Rio Silala que Chile diz ser ilegal. |
Para a Bolívia, as águas do
‘manancial Silala’, foram desviadas artificialmente para o território chileno
e, portanto, a Bolívia “tem o direito de se aproveitar delas”, enquanto o Chile
argumenta que “se trata de um rio internacional cujo curso não deve ser
interrompido ou represado”.
A instalação de criadouros de
trutas nas águas do Silala (ao sudoeste do país) tende a acentuar a ameaça
boliviana de levar o Chile perante o Tribunal Internacional de Haia por causa
de sua reivindicação centenária de recuperar o acesso ao oceano Pacífico,
perdido na guerra de 1879.
O projeto pretende a criação
de até 21.000 trutas para o abate, com uma geração máxima de 5.400 kg dessa
carne de peixe por ano, o que deverá garantir empregos e segurança alimentar às
populações dessa região montanhosa dos Andes, de escassos recursos
agropecuários. A fase inicial – inaugurada por Morales – é composta de seis
piscinas de piscicultura cuja administração estará a cargo de uma unidade
militar acantonada na área. Na fase em que se encontra, o projeto é muito mais
simbólico do que ameaçador, uma vez que ainda não afetará substancialmente o
caudal do rio que flui para o norte de Chile e que se destina ao consumo
humano.
Na verdade, existe a intenção não ocultada de complementar a iniciativa estatal com outras iniciativas, como a instalação de uma fábrica de engarrafamento de água e uma usina hidrelétrica, além do desvio das águas do rio até a Laguna Colorada, a 10 km de distância do local.
O senador governista, Eduardo
Maldonado, que é nativo dessa região, disse no Congresso boliviano que, “em
termos quantitativos, não existe uma real modificação no volume e na qualidade
de água que irá fluir para o lado chileno, mas isso deve ser apenas o início da
concorrência entre novas e futuras iniciativas (...) em benefício do país com
diferentes usos do rio”.
Já o Governador do Estado de
Potosí, Félix Gonzales, argumentou que “desde há mais de cem anos, o Chile tira
proveito das águas do Silala e a Bolívia não recebe nem um centavo sequer do uso
dessas águas que nascem em território boliviano”. Gonzáles sugeriu que, com
tais empreendimentos, “a Bolívia tentasse “secar as águas do Silala” para que o
caudal do rio não chegue ao Chile” e com isso obrigar Santiago a reiniciar uma
suspensa negociação pelo pagamento do seu uso. Santiago alegou que trocaria a
quitação de metade de uma dívida histórica boliviana pelo uso definitivo das
águas.
Durante sua peroração, o
Governador de Potosí reivindicou o direito da Bolívia de voltar ao oceano
Pacífico “com soberania”, possibilidade que as autoridades do Palácio de La
Moneda têm rechaçado firmemente. Diferentemente de Gonzáles, o presidente Morales
não fez alusão explícita ao tema marítimo, mas se referiu à integração
regional, que segundo o governo do altiplano é obstaculizada pela renúncia do
Chile em outorgar uma saída soberana ao mar à Bolívia. “Temos que começar a
planejar como recuperar nossa água do rio Silala para que preste serviço ao
povo boliviano; é a nossa água”, explicou Morales às autoridades presentes.
Em linguagem figurada, alegou
que “a Bolívia deve ir ‘fechando a torneira’ do Silala gradualmente”, com novos
projetos de aproveitamento de suas águas.
Bolívia e Chile não dispõem de
relações diplomáticas e nas últimas semanas têm trocado duros argumentos com
relação ao centenário do contencioso marítimo. O Parlamento boliviano aprovou
recentemente a retirada da cláusula de reserva do Pacto de Bogotá de 1948, que
habilita a Bolívia a levar a causa aos tribunais internacionais, não apenas a
da demanda de um acesso soberano ao Pacífico, mas também resolver as diferenças
com seu vizinho sobre o uso das águas do rio Silala. La Paz alegaria, além
disso, perante tal tribunal uma regulamentação sobre o uso das águas do rio
Lauca, cujo caudal foi desviado unilateralmente pelo Chile na década de 1960.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 29-03-2013
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