sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Afinal, qual seria o crime de Eduardo Bolsonaro?

J.R. Guzzo

O cidadão deste país não tem mesmo sossego. Já não basta a saraivada mensal de boletos, os aborrecimentos do trabalho e as demais ciladas do cotidiano. Você abre o noticiário, hoje em dia, e descobre que tem um inimigo que nem imaginava – Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do complexo ex-presidente Jair Bolsonaro. Pior que tudo, é um inimigo que a polícia, o PT e a mídia registram como de “alta periculosidade”: nada menos que um “traidor da pátria”, uma mistura de Calabar e Silvério dos Reis que vai nos levar à perdição.

“Que pânico é esse?”, perguntaria Jorge Ben. No caso da sua canção, era alarme falso: o que tínhamos então era só um Spyrogyra, um bichinho verdinho que dá na água e que, se deixado aos seus próprios afazeres, não dava prejuízo a ninguém. Aqui a coisa complica. O líder do PT exige a prisão imediata de Eduardo Bolsonaro. A esquerda, em peso, quer cassar o seu mandato de deputado federal. A mídia, em cólera, pede as duas coisas ao mesmo tempo. Só não requerem a sua extradição dos Estados Unidos, onde ele reside hoje. Parecem ter cansado de pedir extradições aos americanos e ouvir sempre a mesma resposta: esquece, aqui a gente não extradita perseguidos políticos. Sorry.

O pelotão de fuzilamento perfilado contra Eduardo Bolsonaro se declara escandalizado com seu papel nas sanções comerciais aplicadas contra o Brasil. Mas desde quando os Estados Unidos, a maior potência do planeta, precisa das recomendações de Eduardo para fazer ou não fazer alguma coisa?

Tudo certo, mas no fim das contas que raios fez esse Eduardo Bolsonaro, no mundo das realidades concretas, para despertar tamanho clamor de linchamento? Olha-se de perto, com um mínimo de bom senso, respeito aos fatos e honestidade, e a única resposta possível é: “Nada. Ele não fez nada”. Eduardo Bolsonaro foi para os Estados Unidos, tempos atrás, para denunciar ao governo americano, à mídia internacional e a quem mais se dispôs a ouvi-lo, que o Brasil foi reduzido a um Estado policial por um grupo de juízes que jamais receberam um voto na vida – e que já decidiram condenar seu pai a 30 anos de prisão.

É um direito humano universal, básico e indiscutível expor, em qualquer lugar do mundo e a qualquer tempo, atos ilegais praticados por tiranias. A esquerda, por sinal, é a maior usuária mundial desse direito, mesmo quando não há ditadura nenhuma envolvida, nem ilegalidade. Foi o que fez, ainda há pouco, com as suas caravanas ao redor do mundo para dizer que Dilma Rousseff tinha sido deposta por um “golpe de Estado”, ou que Lula estava na cadeia como “preso político” e não como ladrão e lavador de dinheiro, condenado por nove juízes diferentes e em três instâncias.

Se pode com Lula e Dilma, por que não poderia com Bolsonaro? Mais: no seu caso, ao contrário dos outros dois, não se está gastando dinheiro público – nem o salário de Eduardo Bolsonaro na Câmara de Deputados, visto que ele pediu licença sem vencimentos para a sua viagem aos Estados Unidos. Não se sabe também qual lei brasileira ele está violando por dizer em Washington as mesmas coisas que diz em Brasília – e que alguns milhões de brasileiros dizem o tempo todo e em todo o Brasil. Sim, o presidente DonaldTrump e outros pesos pesados do governo norte americano ouvem o que Eduardo diz, e desprezam o governo brasileiro – mas, de novo, que crime seria esse?

O pelotão de fuzilamento perfilado contra Eduardo Bolsonaro se declara escandalizado com seu papel nas sanções comerciais aplicadas contra o Brasil. Mas desde quando os Estados Unidos, a maior potência do planeta, precisa das recomendações de Eduardo para fazer ou não fazer alguma coisa? O governo americano tomou essa decisão no exercício de sua própria soberania. Se o Brasil tem o direito de impor taxas a quem quiser, por que os Estados Unidos não teriam? Se acha que Alexandre de Moraes ofendeu a lei americana que criminaliza condutas como a sua, por que seria Eduardo o responsável por isso – e não Moraes, que foi quem cometeu os atos incriminados?

Eduardo Bolsonaro foi denunciar nos Estados Unidos o que estão fazendo com o seu pai porque aqui não há Justiça a quem ele possa recorrer. O ex-presidente está sendo julgado ilegalmente por um grupo fechado de cinco juízes dos quais quatro são seus inimigos declarados – ainda não deram a sentença, mas já disseram que ele é culpado. Acima deles, não há a quem recorrer. É essa a democracia que ele está ameaçando? É por dizer o que tantos outros dizem que ele deve ter o mandato cassado? O Brasil está positivamente do avesso.

Título e Texto: J. R. Guzzo, Gazeta do Povo, 31-7-2025, 17h36

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2 comentários:

  1. US sanctions against Brazil's authoritarian judge have enraged Brazil's leftists, who revere him. But in 2018, the left accused Moraes of being a white supremacist fascist and coup-monger. Brazil's leading leftist said Moraes committed GENOCIDE against poor black people when he was head of São Paulo's state police. Brazilian leftists decided none of that mattered once he began censoring and imprisoning their political opponents. Now they revere someone who - just six years ago - they accused of racist genocide and fascism.

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  2. A Folha chama de interesses nacionais a prisão de idosos, mães de família e trabalhadores inocentes. Ao que parece, o folhetim acha que as graves violações de direitos humanos, do regime que ela ajudou a criar, são de interesse da nação.

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