quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O vento invisível


Marcelo Duarte Lins

Platão nos deixou um aviso que atravessa séculos: não é a vela enfunada que faz andar o barco, mas o vento que não se vê. É uma metáfora simples e profunda. A vida, afinal, não se move pelo espetáculo das aparências, mas pelas forças silenciosas que nos animam: o desejo, a fé, o sonho que insiste em existir mesmo quando tudo parece desabar.

Diante das dificuldades, muitos param, como se o obstáculo fosse o fim do caminho. Mas o que sustenta a travessia não é a ausência de pedras, e sim a presença de sonhos. É o que toca a alma que, em última instância, indica a direção.

O risco é ignorar essa bússola interior e ceder à tentação das maiorias. O erro, ainda que vestido de consenso, não se converte em verdade. O certo permanece certo mesmo quando caminha só; o errado continua errado ainda que receba aplausos de todos os lados.

Por isso, talvez a tarefa mais difícil seja manter o equilíbrio. Nem se deixar inflar pelos elogios, nem sucumbir às críticas. O que protege de ambos é o autoconhecimento — essa forma de serenidade que nos impede de oscilar ao sabor das marés externas.

Vivemos obcecados em prolongar os anos, como se o simples acúmulo de tempo fosse garantia de plenitude. Esquecemos que viver muito não depende de nós, mas viver bem, sim. O que nos cabe é a densidade dos instantes, não a contagem deles.

No fundo, somos todos barcos em viagem. O leme pode ser firme, a vela pode estar aberta, mas o que realmente nos move é o vento invisível — esse sopro imaterial que não se explica, apenas se sente. O segredo é confiar nele. E seguir.

Título e Texto: Marcelo Duarte Lins

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