Quem duvidar que os finlandeses são gente empreendedora que explique como é que dois deles foram governadores do Alasca, antecedendo Sarah Palin em dois séculos? É que o seu país fazia parte do império russo e o Alasca também… até ser vendido aos Estados Unidos. Mas, por muito dinâmicos que sejam, e mesmo à beira de celebrar cem anos de independência, os finlandeses continuam discretos, tirando Martti Ahtisaari, Nobel da Paz, Alvar Aalto, clássico da arquitectura, e meia dúzia de tipos bons a acelerar (da Fórmula 1 aos rallies, passando pelos dez mil metros em que um tal de Lasse Viren roubou o ouro a Carlos Lopes nos Jogos Olímpicos de 1976). OK! Rovianemi, mesmo em cima do círculo árctico, também tem sabido vender-se planeta fora como a terra do Pai Natal. E a sauna, invenção deste povo, é tão popular que se tornou a única palavra finlandesa que entrou sem tradução para o inglês ou o português.
Mas a maior prova do génio finlandês é a Nokia, outra palavra que já entrou no vocabulário global. Fundada em 1865 como fábrica de celulose numa terriola chamada Nokia, a empresa tornou-se um gigante dos telemóveis. Hoje controla 33% do mercado, o que quer dizer que uma marca de um país de cinco milhões de habitantes exporta todos os anos perto de 400 milhões de telemóveis. Só no primeiro trimestre de 2010, teve encomendas de 108 milhões, mas mesmo assim sente que está em crise, antecipando os ataques da Apple ou da Google, que a cada dia que passa prometem ultrapassar em tecnologia os velhos colossos - não só a Nokia, mas também a Samsung, a Motorola ou a Ericksson.
Mesmo um povo corajoso sabe que de vez em quando tem de importar um herói. E os finlandeses conhecem bem a sua história. Afinal não foi um general com antepassados holandeses, C. G. Mannerheim, que na Segunda Guerra Mundial fez a vida negra a um Exército Vermelho que achava que a Finlândia tinha de voltar a ser de Moscovo? Pela primeira vez, a Nokia vai ter um número um estrangeiro, Stephen Elop, um canadiano que vem da Microsoft. A entrada em funções está marcada para amanhã e, atento a certa sensibilidade cultural por parte dos finlandeses, Elop já evocou a sintonia entre países árcticos. Uma tirada que lhe valeu ser comparado a Palin, quando um dia, para explicar as credenciais em política externa, a então candidata a vice-presidente americana afirmou que da sua casa no Alasca se via a Rússia. Já Elop do Canadá veria a Finlândia. Mas o que os finlandeses esperam é que abra as portas da América do Norte à mais querida das suas empresas, que vale 2% do PIB. E um bom sinal seria convencer Palin a trocar o seu Blackberry de fabrico canadiano por um telemóvel made in Finland.
Leonídio Paulo Ferreira, Diário de Notícias, 20-09-2010
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