Ernesto Ribeiro
OK, galera: tudo tem o seu
lado bom e o lado ruim. Vamos por partes.
Teia Velha: A parte
ruim é exatamente o que os cri-críticos intelectualóides mais elogiaram: a
trama "séria" com o tal "romance adolescente" é uma
porcaria INACREDITÁVEL no pior mau sentido possível. Mal escrita, mal dirigida,
mal interpretada. A morte do tio Ben é patética. Nenhuma surpresa: a
dramaturgia só podia ser um desastre, considerando que é a mesma equipe do
draminha "idioteen" 500 Dias Com Ela — aquele filme cocozinho,
do mesmo diretor cocozinho, com aquela atriz cocozinho, fazendo um personagem
cocozinho. O roteiro é constrangedor de tão forçado, e não convence nem
criancinha. Só mesmo num filme bobo as pessoas agem assim... É o caso de se
perguntar se o ‘cineasta’ Marc Webb ganhou esse emprego só pelo sobrenome. Na
hora de imprimir um tom de ‘seriedade, profundidade, complexidade’, o imbecil
erra tudo como um velhote com a cabeça cheia de teia (web).
O tom exagerado, empostado,
artificial das atuações estraga o esforço do elenco talentoso. Até da atriz
principal. Ele só trocou os enormes olhos azuis da morena Zooey Deschanel pelos
imensos olhos azuis da loira Emma Stone. Pior: a caracterização dela é
prejudicada justamente pelo excesso de segurança, a voz grave demais e a dicção
hiper-articulada de mulher adulta, aparentando 37 anos — totalmente deslocada
num personagem adolescente que diz ter apenas 17 anos e ainda anda pelos
corredores da escola abraçando os cadernos. É o primeiro filme em que a mocinha
tem a voz muito mais grossa do que o mocinho.
Como eu disse:
inacreditável.
A parte do filme que mais
deveria conquistar a empatia do público é a menos convincente.
Teia Nova: A parte boa
é surpreendentemente aquela em que ninguém esperava ser melhor do que a
trilogia anterior: sim, a ação, a diversão, o espetáculo e o escapismo puro
conseguem ser incrivelmente REALISTAS e ao mesmo tempo ESPETACULARES. Sem
contar a revolução técnica e artística nos efeitos visuais e na qualidade das
imagens EXTRAORDINÁRIAS, com tudo em maiúsculas mesmo. Você vai entender
porquê. É ver pra crer.
Prepare-se para assistir ao
primeiro filme com imagens em Altíssima Definição. A direção de arte e
fotografia de John Schwartzman nos dão uma experiência de imersão inédita em
termos de detalhismo e texturas. Numa cena de chuva, com a câmera enquadrando
de cima em contra-plongé, podemos enxergar distintamente cada gota
caindo. O uniforme colante parece uma pele de tubarão ultra-fina, onde
distinguimos cada pontinho e saliência como se fossem os poros da pele humana
respirando.
Mais? A trama central da
origem é muito melhor resolvida, inteligente e instigante. É especialmente
intrigante saber que o pai de Peter Parker era um gênio científico, biólogo
geneticista cujas pesquisas científicas indiretamente resultaram na
transformação do filho num ser sobre-humano; que a origem do herói e do vilão
estão ligadas pelo mesmo evento assombroso; e que o velho desaparecido doutor
Parker pode ser...??? O mistério continua, com ganchos dramáticos que nos fazem
roer as unhas de ansiedade, esperando o próximo filme da série.
E a filosofia humanista é a
mesma da trilogia anterior: o Lagarto nem se vê como um vilão.
O plano de dominação mundial
dele é na verdade desejar sinceramente ajudar para o bem da Humanidade.
Os personagens agora são mais
fiéis ao original dos quadrinhos. Todo aranhanólogo sabe muito bem que aquela
Mary Jane boba dos outros 3 filmes era o exato oposto da ruiva piriguete
que usava os rapazes e não se prendia a ninguém. Até admitiram o óbvio: criaram
uma personagem novo e pintaram o cabelo dela de vermelho. Mas, não importa.
Desta vez, temos o grande amor do nosso rapaz brilhando como a verdadeira
mocinha: Gwen Stacy é um doce de coco e encantadora como se tivesse saído das
páginas dos gibis.
Sim, todos os atores são muito
talentosos. Sim, Andrew Garfield é um Peter Parker bem melhor, mais esperto e
mais próximo do mundo real. Ele jamais seria um otário de recusar um emprego
num laboratório da Oscorp, como fez o antecessor.
Ao contrário, o garoto é
sagaz, malandro e corre atrás, até mesmo roubando a identidade de outro. E
"traz o equilíbrio perfeito de rebeldia adolescente com rigidez moral e um
oceano de culpa e responsabilidade." (Estadão). Ele chega a ser quase um
sádico, arrebentando os criminosos. Claro que ele usa a super-força dele pra se
vingar dos valentões que o espancavam. Claro que essa é a verdadeira vingança
dos nerds.

A cena mais bela e poética do
filme, icônica e realmente ANTOLÓGICA, que já entrou para a História do Cinema
por sua beleza plástica e conteúdo humanista, é uma sinfonia silenciosa de
gigantescas máquinas no céu noturno de Nova Iorque, movendo-se em perfeita
coordenação, operadas por humildes trabalhadores da construção civil, em
solidariedade ajudando o Homem-Aranha a alcançar o vilão e desobedecendo as
ordens das autoridades arrogantes que querem prender o herói. É uma visão tão
linda e arrebatadora quanto comovente e enternecedora. De inspirar lágrimas de
admiração. É nesses momentos de VERDADEIRO cinema clássico, de adrenalina
desenfreada e contemplação quase narcisística, que a obra-prima da Marvel Films
justifica o seu título: absolutamente ESPETACULAR.
Título, Imagens e Texto (formatação original): Ernesto Ribeiro,
28-7-2012
Lord Jim das Teias, você é um espírito sensível, igual a mim. Estou emocionado. Muito obrigado.
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