Ana Suspiro
Mariana Abrantes de Sousa foi controladora financeira do Ministério das
Obras Públicas no primeiro governo de Sócrates
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Foto: Rodrigo Cabrita |
A economista Mariana Abrantes
de Sousa será das pessoas em Portugal que melhor conhecem o universo das
parcerias público-privadas (PPP). O seu percurso profissional passa pela banca
comercial que financiou a Lusoponte, concessionária da Ponte Vasco da Gama, até
ao Banco Europeu de Investimentos (BEI) e ao Estado, onde assumiu funções de
controladora (controller) financeira no Ministério das Obras Públicas de Mário
Lino e Paulo Campos, do governo de José Sócrates. Hoje segue o tema com paixão
no seu blogue (PPP Lusofonia). Na hora de apurar responsabilidades pela
aventura portuguesa das PPP não poupa o Ministério das Finanças, então liderado
por Teixeira dos Santos, que falhou no controlo da despesa de uma factura que
era adiada, nem o Banco Europeu de Investimentos (BEI), que financia sem correr
o risco e sem assumir a responsabilidade por apoiar projectos não viáveis.
Participou no projecto da
Lusoponte, a que chamam a primeira PPP portuguesa. Um ano depois de assinado, o
contrato teve de ser revisto.
Eu trabalhava no BPA e estive
envolvida no projecto da Ponte Vasco da Gama. Fazia a ligação entre a banca
nacional e a estrangeira. Quando o governo começou a aumentar as portagens –
que deviam duplicar – aconteceu o buzinão e o bloqueio na ponte. Pouco tempo
depois houve uma crise financeira que fez subir as taxas de juro, tornando o
projecto insustentável do ponto de vista financeiro. Para prosseguir foi
preciso reequilibrar, isto é, compensar a perda de receita e o aumento dos
custos financeiros.
Nessa renegociação já era
visível a assimetria entre Estado e privados?
Sim. Eu estava do lado dos
privados. O Estado tinha uma equipa pontual, o Gattel, onde estavam pessoas
bastantes boas e assessores estrangeiros. Mas eram menos e estavam a fazer tudo
pela primeira vez. Estavam a aprender enquanto faziam.
(…)
O facto de os contratos só
começarem a ser pagos a partir de 2014 contribuiu para esse descuido?
Claro. Se eu não tenho de
pagar este ano, não tenho de introduzir no Orçamento deste ano. O tráfego e a
valia económica do projecto são quase académicos porque eu não tenho de pagar
já. Foi aí que as Finanças falharam. É essa factura que estamos todos a pagar.
Fizemos projectos com baixa valia em termos de tráfego. Não era possível prever
a dimensão da crise que hoje se vive, mas a quantidade de PPP que fizemos
causou parte do problema. Quando se continuou a fazer projectos de quarta e
quinta prioridade, o custo-benefício ia ser fraco.
Qual é a sua explicação
para se ter avançado tanto nas estradas?
Havia dinheiro.
Havia dinheiro ou crédito?
Havia crédito, havia
megalomania e a factura era para pagar depois. Se sai de casa com 20 euros,
gasta 19 euros se for poupada. Há pessoas que saem com 20 e gastam 29. Ninguém
tinha como sua a responsabilidade de pensar no tráfego porque os projectos
passaram a depender de pagamentos por disponibilidade. É uma solução má. Qual é
a solução para projectos com tráfego insuficiente? É não os fazer.
(…)
Ana Suspiro, jornal “i”,
26-10-2012
Leia a íntegra da entrevista aqui.
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