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Os candidatos à Prefeitura de São Paulo Fernando Haddad
(PT) e José Serra (PSDB) nos estúdios da TV Globo em São Paulo. Foto: Zé Paulo
Cardeal/TV Globo
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Reinaldo Azevedo
Sim, sim, claro!, eu vou votar
no tucano José Serra, como todo mundo sabe. Se alguém achar que isso turva a
minha objetividade, basta não levar em conta o que escrevo e acabou. Vamos lá.
Serra teve um desempenho muito superior ao do petista Fernando Haddad — creio
que o debate da Globo estará na Internet daqui a pouco, e quem não acompanhou o
embate pode fazer a sua própria avaliação. Refiro-me ao conteúdo das respostas
e ao comportamento dos postulantes. Se isso vai resultar em voto ou não, aí não
tenho como prever.
Num encontro que durou apenas
uma hora, num ritmo frenético, com intervalo de dois minutos entre um bloco e
outro, os detalhes fazem diferença. Chamo a atenção para alguns.
1 – provocado por Serra, o
petista se viu na contingência de elogiar dois programas criados pelo
adversário — o Mãe Paulistana e o Remédio em Casa;
2 – o petista também se
comprometeu, caso eleito, em honrar o compromisso firmado pela atual gestão com
os professores, que prevê reajuste de 25%;
3 – Haddad disse também que,
se prefeito, vai manter o contrato com as Organizações Sociais que administram
aos aparelhos de saúde; isso desmente seu programa de governo;
3 – Visivelmente inseguro,
treinado para se mostrar sempre assertivo, Haddad acabou se mostrando, na
verdade, agressivo. Serra percebeu e apontou isso. Restou ao petista dizer que
sua agressividade era fruto de sua indignação;
4 – nervoso, Haddad se perdeu
num dado momento e não sabia se estava respondendo, perguntando ou
contraditando o adversário.
Muito bem! O PT tem feito uma
campanha subliminar arrogante e preconceituosa, sugerindo que Haddad é o novo e
a renovação — na verdade, quer chamar Serra de “velho”, mas evita a expressão
mais agressiva. Pois bem: o “velho” não se perdeu no debate; o novo parecia
meio aéreo. Ocupava-se menos de fazer propostas do que de atacar o oponente.
Não fez uma boa figura a qualquer um que tenha acompanhado o debate com
atenção. Será essa a percepção da maioria que assistiu ao embate? Não sei.
No debate, ficou claro que
Haddad não tem programa nenhum para a mulher gestante — na verdade, nem mesmo
pensou sobre o assunto. Indagado sobre a questão pelo adversário, saiu-se com
um truque vexaminoso. Respondeu que o tucano só via a mulher como mãe. Ele,
Haddad, veria a mulher de modo integral. E tentou jogar nas costas do oponente
até a violência doméstica… Uma piada!
Um dos temas sorteados foi
“corrupção”. O tucano pediu a Haddad que explicasse como o mensalão aconteceu.
O petista resolveu atacar os tucanos e disse que tudo começou com o PSDB, a
resposta manjada de sempre. “Não finja que você não sabe o que aconteceu em
Minas Gerais, Serra.” O tucano contra-atacou: “O que aconteceu de certo na
Justiça é que José Dirceu e outros dirigentes petistas foram condenados. Se
havia algo de errado lá, pior é quem copiou o procedimento”.
Organizações Sociais
Haddad está preocupado com o
desgaste provocado pela descoberta de que seu programa de governo propõe o fim
do convênio do município com as Organizações Sociais na área de saúde. Cometeu
o erro de perguntar a Serra o que ele pensa sobre as parcerias
público-privadas. Por que erro? Porque quem responde a uma questão fala por
último; tem direito à tréplica. E coube ao tucano lembrar o óbvio: Haddad quer
justamente o fim das parcerias na área da saúde. Serra carimbou no adversário o
que, no fim das contas, está no programa do petista: a intenção de expulsar as
OSs da gestão dos hospitais municipais.
Arrogância
Haddad foi treinado por João
Santana para ser arrogante, para jogar sempre na ofensiva, com o peito meio
estufado, o queixo projetado, o olhar severo, na linha: “Aqui há alguém pronto
para a guerra”.
Nesta sexta, Serra administrou
melhor a guerra de imagens — até porque tem mesmo mais conteúdo. Seu olhar
esteve sempre sorridente; respondeu e perguntou com segurança; não agrediu o
adversário. E ainda teve tempo de ironizar: “Você está muito agressivo…”.
Eu não faço pesquisa de
opinião pública, como sabem, e ando cada vez mais desconfiado de quem faz, por
razões óbvias. Escrevo o que vi. Assistiu-se em São Paulo ao embate da
experiência serena, que tem ideias próprias, com a arrogância quase juvenil de
quem mais sabe atacar do que propor. Arrogância juvenil num homem de 50 anos
não tem a menor graça.
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