Na
minha última estada no Porto (dezembro de 2017) revisitei a Livraria Lello. Naquele
dia, comprei o livro “As pupilas do senhor reitor”, que li na adolescência.
Também sei que assisti a um filme baseado no livro, não lembro quando, nem do
próprio filme. O livro relido há poucos dias é uma edição da Imprensa
Nacional-Casa da Moeda S.A., de setembro de 2017.
O
romance foi escrito entre 1863 e 1866, quando é iniciada a publicação em forma
de folhetim diário no Jornal do Porto. A publicação em livro ocorreu em 1867.
O romance As Pupilas do Senhor Reitor traça um quadro de costumes rurais e
sociais que ajuda a compreender aspectos relevantes da vida portuguesa da
segunda metade do século XIX. Algumas vezes classificado como escritor de
leitura fácil e amena, Júlio Dinis merece ser lido e relido para além dessa
imagem de superficialidade e de idealizada visão das coisas e das pessoas.
N’As Pupilas do Senhor Reitor encontramos muito mais do que isso,
por exemplo, no respeitante à prática da medicina e da imagem do médico, bem
como no tocante a opções éticas e morais que nos mostram, em personagem de
desenho sugestivo, uma sociedade em mudança.
Com justiça, as obras de Júlio
Dinis (e em especial este romance) conseguiram sobreviver ao seu autor.
Sim,
uma leitura amena e gostosa. Mais para quem viveu ou conheceu uma aldeia
portuguesa. As lembranças da infância (e um poucochinho da adolescência)
assomam enquanto lemos.
Maria
do Rosário Cunha, professora da Universidade Aberta e Investigadora do Centro
de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, escreve na introdução:
Este não é, decerto, o romance de Júlio Diniz em que as
questões sociais estão mais presentes, nem aquele em que as descrições, que
muitas vezes levaram a crítica a considerá-lo um “paisagista”, ocupam um lugar
de significativo relevo. O que não faz deste romance, contudo, o simples relato
de uma intriga sentimental que rapidamente ganha forma para correr em direção
ao desfecho. Comecemos, no entanto, por recordar sumariamente essa intriga, que
põe em cena duas famílias e mais algumas personagens de que se destaca a figura
providencial do velho abade: de um lado, encontra-se José das Dornas, homem
franco, feliz e bem-disposto, lavrador abastado à custa do trabalho a que nunca
virou as costas. Para a sua felicidade concorrem Pedro e Daniel, tão bons
filhos quanto diferentes um do outro: Pedro, forte e amante do trabalho da
terra quanto o pai; Daniel, cuja fraca compleição física encaminhou para os
estudos de medicina, já que a vocação religiosa, que poderia ter feito dele um
sacerdote, cedo se mostrou inexistente.
A outra família é constituída por duas irmãs, Clara e
Margarida, igualmente diferentes uma da outra: à alegria extrovertida e
contagiante de Clara opõe-se a constante melancolia de Margarida, por todos
respeitada pela inteligência, pela cultura que sozinha adquiriu e pelo bom
senso. Como facilmente se deixa adivinhar, o amor torna-se o ponto de união
entre estas duas famílias, embora algumas dificuldades venham a pôr em perigo o
desejável e feliz desfecho. Para o auspicioso final concorrem decisivamente
duas intervenções: a do abade, também tratado por reitor, responsável moral
pelas duas irmãs órfãs de pai e mãe, que, por isso mesmo, considera serem suas
pupilas; a generosidade e o espírito de sacrifício de Margarida insistentemente
enaltecidos pelo narrador, que se serve assim da sua personagem para desenhar o
perfil da mulher perfeita.
O espaço em que decorre a ação situa-se numa aldeia
nortenha, sem referências topográficas que permitam a sua localização concreta.
O SBT produziu uma novela em
1994/1995.
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O ator Elias Gleizer, que interpretou o personagem José das Dornas na novela “As Pupilas do Senhor Reitor”, em 1994/1995, no SBT. |
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