Vitor Cunha
De nenhum livro de história do século XXII
constará a taxa de IVA do país em que foi editado. Também não constará se o
gasóleo subiu, se o imposto sobre os combustíveis era incomportável ou se o
saco plástico proibido ao belga impediu o Oceano Índico de se fossilizar em
ilhas de plástico. O que constará é que o século XXI foi aquele em que, mais
uma vez, e ignorando os avisos do século anterior, se tentou reduzir a
humanidade a um conjunto de decretos determinantes do algoritmo desejado para o
comportamento dos humanos.
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Sri Lanka, abril de 2019, foto: AP |
Não há terroristas islâmicos: há terroristas
brancos, da extrema-direita das “fake news”, ou há pessoas com perturbações. De
resto, o que há são carros e bombas que matam, não há assassinos. Decreta-se de
forma a que quem o desejar possa ser assassinado num hospital. Mas, o que é o
querer? O que é o desejo? Na uniformização das pessoas, na igualdade, não há
lugar a desejos que ponham em causa essa igualdade. Inventam-se doenças para
caracterizar quem não partilha de um desejo, as fobias, como se querer
preservar instituições como o casamento seja igual a ter medo de homossexuais.
O medo combate-se, igualando, nivelando todos pela bitola do algoritmo. Não há
diversidade, há igualdade, bem mais total do que parece por ser aferida com a
linguagem do momento.
Por isso, parta para a sua auto expressão:
tatue-se, deixe crescer a barba, seja lenhador; recite mantras de aquecimento
global e de fobias variadas, seja ecumênico porque tudo é igual a tudo e,
assim, tudo vale nada; eutanasie-se. Seja a norma. Seja tudo o que de si
esperam. Contamos todos consigo.
Há quem pense – ainda há – que o liberalismo
está na moda. Não está. Já veio e já se foi. Agora resta isto, a ilusão de
liberdade na igualdade.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 22-4-2019
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