Naquele fim de tarde, de verão
de 1971, estava na livraria Figueirinhas, na companhia de meu pai, folheando as
últimas novidades expostas nos escaparates.
O senhor Ferreira, chefe de
balcão, passou por nós, cumprimentando-nos efusivamente:
“Lindo dia! …Hem!?” – Perguntou, de semblante
risonho. Afirmativamente, respondemos.
De súbito, aproximou-se o
senhor Fernando Figueirinhas – sócio da firma, – cumprimentando-nos
apressadamente, estendendo a mão:
“Senhor Pinho da Silva, gostava de conhecer,
pessoalmente, António Lopes Ribeiro?!”
Antes que meu pai respondesse, acrescentou:
”Está no meu gabinete. Venha daí! …”
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António Melo (ao piano) e António Lopes Ribeiro |
Em breve, caminhavam em minha
direção meu pai e o apresentador do programa “Museu do Cinema” – popular
rubrica da RTP. Pararam junto de mim. Conversavam animadamente, sobre teatro e
da obra que o realizador de cinema ia publicar.
A determinado passo da
conversa, meu pai, interrompe, para interrogá-lo sobre o Maestro António de
Melo, tratando-o por senhor doutor. António Lopes Ribeiro, recurvou-se
ligeiramente, e pedindo desculpa, disse-lhe:
“Ó Sr. Pinho da Silva, vou-lhe
pedir um grande favor, não me trate por doutor!... Eu tenho nome... Chame-me
António ou António Lopes Ribeiro. Sabe? Só é doutor quem não tem nome… Já
reparou? Aos grandes homens, ninguém os trata por doutor?!”
Meu pai concordou, sacudindo
afirmativamente a cabeça. Quem chama de doutor Egas Moniz ou Carrel?
A conversa terminara. O
cineasta estava com pressa. Tinha compromissos inadiáveis, e retirou-se,
desaparecendo entre a multidão dos transeuntes da Praça.
O senhor Ferreira, que tudo
ouvira, ainda ficou a remoer nas palavras que escutara:
“Na verdade, ninguém trata por
doutor os grandes homens da ciência! Não é verdade, senhor Pinho da Silva?…”
Título e Texto: Humberto Pinho da Silva
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