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Foto: Antonio Pires, 2007 |
Dora Kramer
O PT anda um pouquinho, recua
um pouquinho, disfarça e volta a um assunto que lhe é especialmente caro: o
poder do Estado de estabelecer algum tipo de controle sobre a imprensa.
Sexta-feira passada aconteceu
mais uma reunião para o partido discutir a questão que tenta introduzir na
agenda do País desde o início do primeiro mandato de Lula.
De lá para cá a abordagem do
tema foi sendo adaptada, a fim de driblar resistências.
Hoje esse debate acontece sob
a justificativa de que é necessário estabelecer "um novo marco regulatório
para a mídia", mas em 2004 a mesma proposta foi apresentada ao País com
sinceridade e nitidez.
Era preciso, na visão do
partido que chegava ao poder, criar um órgão - o Conselho Federal de Jornalismo
- para "orientar, disciplinar e fiscalizar" o trabalho dos meios de
comunicação.
Na época, o PT ainda era
estreante nas lides governamentais, não havia se iniciado com afinco na
produção de escândalos em série e estava acostumado a ser paparicado por quase
toda a grande imprensa da qual reclama, mas que até o caso Waldomiro Diniz dava
ao partido e ao presidente Lula uma cobertura extremamente favorável.
Ao "presidente
operário" tudo era permitido. Inclusive renegar o próprio discurso sem ser
confrontado com rigor diante da contradição-mãe de chamar de herança maldita o
legado do antecessor e, ao mesmo tempo, tirar dela o melhor proveito.
A partir dos tropeços do
governo é que o cenário mudou. Mas não mudou no partido a ideia de exercer
domínio sobre a grande imprensa, o único setor que lhe foge completamente ao
controle. E é isso o que incomoda.
Por mais disfarçados que sejam
os argumentos. Em artigo no jornal O
Globo de ontem, o presidente do PT, Rui Falcão, lista alguns pontos que
seriam alcançados pelo "marco regulatório".
Fala em "ferramentas
eficazes de inclusão social e defesa da comunicação e cultura nacionais",
na garantia do acesso universal à internet em banda larga, em mecanismos para
"evitar que o poderio econômico dos grandes grupos de telefonia sufoque
setores da mídia tradicional" e na ampliação de recursos para
"grandes redes de radiodifusão pública e de telecomunicações".
Tudo muito decente. E vago. De
substantivo mesmo, resta o resumo das intenções feito no seminário de
sexta-feira pelo deputado cassado, réu do mensalão e dirigente do PT, José
Dirceu: "Os proprietários de veículos de comunicação são contra nós, fazem
campanha dia e noite contra nós. Só lamento que não haja um jornal de esquerda,
que seja a favor do governo".
Há de todos os matizes no País
todo: de esquerda, de direita, sem orientação, nos blogs, nos sites. Não falta
espaço de comunicação em defesa do governo.
Mas há também os que exercem a
crítica, e ao PT e sua pretensão à hegemonia desconforta essa convivência com o
contraditório. Daí a insistência.
Vai levando. Crua e
resumidamente, prevalece a seguinte visão no governo sobre o efeito das
denúncias de corrupção na popularidade da presidente: enquanto a interpretação
geral for a de que as demissões significam que Dilma é implacável, não há
necessidade de bancar o risco de confrontação com a base mudando os critérios
de ocupação de espaços.
E prossegue o raciocínio: como
o noticiário de rádio e televisão favorece a essa conclusão, pois não se
aprofunda na análise de que a presidente só demitiu por impossibilidade de não
demitir, há margem para esticar a corda e evitar novas demissões.
Até que a reforma ministerial
renove a imagem de uma Dilma ativa - e não reativa - face às deformações de
origem nos critérios de composição da equipe de governo.
Resumo da ópera: quanto menos
as pessoas alimentarem o hábito da leitura e quanto mais continuarem a se
informar por meios cuja própria natureza remete à informação menos elaborada e
desprovida de interpretação, melhor para o governo.
Embora seja bem pior para o
desenvolvimento da massa crítica, sem a qual não se faz uma sociedade capaz de
dialogar de igual para igual com o poder público.
Título e Texto: Dora Kramer, O Estado de S. Paulo – 29-11-2011
Colaboração: Rafael Picate
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