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Criação: Silsaboia |
Sem fazer essas perguntas,
ninguém pode compreender nada do que está acontecendo neste País, muito menos o
que está para acontecer. Mas cada uma delas é um tabu.
Max Weber, quando o acusavam
de exagerar em seus diagnósticos, respondia: "Exagerar é a minha
profissão!" A boutade referia-se, naturalmente, à técnica dos "tipos
ideais", com que o autor de A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo, ao descrever uma conduta, um sentimento, uma atitude, ampliava
certos traços típicos para maior nitidez do objeto puro, isolado de diferenças
e semelhanças acidentais.
Mas referia-se também, mais
profundamente, à missão do cientista social em geral, que tem de olhar as
coisas numa escala que não é a da atualidade patente, visível nos debates
públicos e na mídia popular, mas deve cavar em busca das sementes, não raro
modestas e discretíssimas, onde o futuro está se gerando longe dos olhos da
multidão.
Se há uma coisa que nenhum
estudioso da sociedade e da História tem o direito de ignorar, é que o poder
dos fatores determinantes do curso das coisas é, no mais das vezes,
inversamente proporcional à sua visibilidade presente. Daí o descompasso entre
os respectivos "sensos de realidade" dos observadores do dia-a-dia,
meros constatadores do fato consumado, e o do estudioso que mergulha em águas
profundas para saber o que há de vir à superfície amanhã ou depois. Com a
agravante de que o fato consumado só faz sentido para quem o viu crescer desde
as raízes. Para os demais, tudo é surpresa desnorteante ou mera coincidência.
Mas, quando digo
"cientista social", uso o termo como um tipo ideal weberiano.
Refere-se ao que os cientistas sociais deveriam fazer para merecer o título,
não ao que os profissionais universitários que o ostentam estão fazendo
realmente no Brasil de hoje. Estes, coitados, não conseguem acompanhar nem o
fato consumado, tão presos estão aos seus esquemas mentais rotineiros, à
pressão dos seus pares e ao temor de desagradar à mídia.
Não ousam sequer fazer
perguntas, como por exemplo:
Quantos assentados do MST foram recrutados entre
militantes urbanos, falsificando completamente o panorama dos "conflitos
rurais"?
Qual é o peso estatístico real de duzentos assassinatos de
homossexuais num país que tem 50 mil homicídios por ano, mesmo sem averiguar
quantos daqueles foram assassinados por seus parceiros?
Quantas pesquisas
sociológicas com resultado previamente estabelecido pelas fundações
estrangeiras que as financiaram foram realizadas nas universidades brasileiras
nos últimos anos, e quantas foram em seguida usadas como material de propaganda
por ONGs e "movimentos sociais", se não como argumento cabal para
justificar leis e decretos?
Quanto dos benefícios distribuídos pelo governo
federal aos pobres foi pago com puro dinheiro de empréstimos, endividando as gerações
vindouras para ganhar os votos da presente?
Quantos crimes de morte são
praticados com armas legais registradas, e quanto com armas clandestinas cuja
circulação o tal "desarmamento civil" não poderá diminuir em nada?
Quantas leis e decisões federais vieram prontas de organismos internacionais e
tiveram seu caminho aplanado por campanhas bilionárias financiadas do exterior?
Quantas delas vieram de decisões tomadas no Foro de São Paulo com anos de
antecedência, em assembleias promíscuas onde terroristas, narcotraficantes e
sequestradores debatem em pé de igualdade com políticos eleitos?
Se for
liberado o comércio de drogas, quem terá mais chances objetivas de dominar esse
mercado?
Sem fazer essas perguntas,
ninguém pode compreender nada do que está acontecendo neste País, muito menos o
que está para acontecer. Mas cada uma delas é um tabu. O simples pensamento de
vir a formulá-las um dia já basta para fazer um profissional universitário
tremer desde os alicerces, prevendo os olhares de ódio que fulminarão sua
pessoa e sua carreira – ao menos ele assim o imagina – tão logo comece a falar.
Sim, o brasileiro de hoje em
dia – e os cientistas sociais não são exceções – é aquele sujeito valente que
teme olhares e caretas como se fossem balas de canhão, que enfia o rabo entre
as pernas à simples ideia de que falem mal dele, que troca a honra e a
liberdade por um olhar de simpatia paternal de quem o despreza.
É por isso que os processos
históricos profundos, que estão mudando a face do Brasil com uma rapidez
avassaladora, passam ainda despercebidos até àqueles mesmos que, arrastados na
voragem de leis, decretos e portarias, perdem prestígio e poder a cada dia que
passa e, iludidos por vantagens financeiras imediatas que o governo atira à sua
mesa como migalhas, não ousam nem confessar uns aos outros que estão sendo
jogados à lata de lixo da História.
Não vi até agora um único
analista político, na mídia ou nas universidades, declarar em voz alta aquilo
que, nos altos escalões do petismo e do Foro de São Paulo, todo mundo sabe: a
fase da revolução cultural terminou, já estamos em plena revolução social.
Explicarei isso melhor no próximo artigo.
Título e Texto: Olavo de
Carvalho, 08-08-2011
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