Carlos Lúcio Gontijo
Desde 1977, toda vez que
lançamos um livro nos deparamos com a dura realidade da não existência de
política voltada para a produção literária. É inexplicável, por exemplo, o fato
de os autores independentes pagarem pela impressão de seus livros e, ao enviar
exemplares para divulgação em escolas e bibliotecas públicas ou comunitárias,
ter que enfrentar as altas taxas cobradas pelo Correio brasileiro.
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Ilustração: Raoni Julian |
Não foi diferente agora com a
edição do romance “Quando a vez é do mar”, que foi enviado a diversas cidades
do Brasil e até do exterior, sob o régio pagamento feito com nossos próprios
recursos e sem qualquer subsídio, como se o autor estivesse sendo alvo de uma
cruel punição oficial, pela ousadia de escrever em país de tão poucos leitores.
Pois bem, numa dessas remessas
de livros, houve um curioso e inesperado assalto a carteiro, com os ladrões
surrupiando 18 livros no paradisíaco solo de Camboriú, em Santa Catarina. O
Correio nos devolverá a quantia relativa ao valor declarado mais a tarifa de
postagem, mas fica a sensação de impotência diante do quadro de violência que
assola a nação brasileira.
Infelizmente, não chegamos ao
estágio de assistir a ladrões roubando livros por obsessão pela leitura, pois o
que ocorreu é fruto do crescimento da venda pela internet e o consequente
aumento de entrega de mercadoria pelo serviço de correio, transformando os
carteiros em alvo fácil para os assaltantes. Foi o que se deu em Camboriú, onde
os exemplares do romance “Quando a vez é do mar” chegaram quando a vez era
literalmente dos ladrões.
Aliás, é bom que se diga, que
pela dificuldade em se apurarem casos como os do contraventor Carlinhos
Cachoeira, somos levados a acreditar que os ladrões são figuras realmente prestigiadas
por todos os setores da sociedade brasileira, não escapando nem mesmo a grande
mídia brasileira, que se alicerça em parâmetros seletivos dentro de sua
decantada missão investigativa. Ou seja, costuma agir com parcialidade, fazendo
uso político de seu acervo de informações, conforme deixamos grafado no romance
“Jardim de Corpos” editado em 2009.
Tudo no Brasil se nos
apresenta sob a égide do levar vantagem em tudo, princípio comportamental pelo
qual se explica a total falta de princípios. Nem mesmo as festejadas feiras do
livro Brasil afora se salvam do signo da desonestidade e da esperteza. Não
raro, os autores verdadeiros, os idealistas batalhadores do mundo das letras,
são chamados a cumprir o papel de bela cereja a enfeitar e legitimar o bolo (no
sentido de bolada) que será dividido com os bafejados pela sorte de contar com
o apoio dos holofotes da grande mídia.
Prova inconteste disso foi o
que se verificou na7ª Feira do Livro de Bento Gonçalves, neste mês de maio de 2012.
A feira, que contava com recurso total de R$220 mil para sua realização, houve
por bem destinar R$170 mil ao “escritor” Gabriel O Pensador, elevado à condição
de patrono da feira. A quantia em total discrepância com a disponibilidade de
recursos levou o escritor Fabrício Carpinejar a desistir de participar do
encontro, enquanto o Ministério Público resolveu barrar o pagamento, analisado
como incompatível com os gastos totais da conceituada feira. O problema, claro,
não estava no cachê a ser recebido por Gabriel O Pensador, mas na sua
disparidade diante dos recursos de que a feira dispunha, descortinando-nos uma
visão imperial, onde ao rei não interessa o que acontece com os súditos. Mas
tal imbróglio é coisa de peixe grande: os tubarões-martelo do pregão cultural,
que se dão ao direito de abocanhar quase todo o montante dos famigerados parcos
recursos investidos em cultura pelo governo brasileiro. E ai de quem tentar
mexer para fatiar mais democraticamente o bolo!
Enfim, na condição de autor
independente há 35 anos, só nos resta mesmo prosseguir em nossa caminhada. No
dia oito de junho, lançaremos o romance “Quando a vez é do mar”, em Santo
Antônio do Monte, centro-oeste de Minas Gerais. Depois, em agosto, iremos a
Teresina, no distante e hospitaleiro Piauí. E entre um lançamento e outro,
continuaremos a postar exemplares de livros pelo Correio, ainda que a vez se
nos revele, explicita e desabridamente, do ladrão.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, poeta, escritor e jornalista
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