
Quando, por força das
perseguições hitlerianas, Stefan Zweig se estabeleceu no Brasil, foi tomado de
verdadeiro entusiasmo por aquele país de dimensões continentais e riquezas
inexauríveis que o condenavam ao melhor dos futuros. Em homenagem ao
país-irmão, escreveria Brasil, País do Futuro. O entusiasmo de Zweig era
claramente suscitado por Getúlio Vargas, estadista a quem o Brasil terá ficado
a dever a finalização jurídica e administrativa do Estado, até então jugulado
pelo apetite das oligarquias localistas. Autoritário e ditatorial na sua fase
inicial (1930-45), Getúlio - que gozava de apoio popular incontestado -
voltaria ao poder democraticamente em 1950. Foi graças a Getúlio que o Brasil,
até aí uma enorme plantação de café e borracha, ascendeu à plena independência
económica. A criação da siderurgia e, mais tarde da PETROBRAS, caboucos da
industrialização em programa de nacionalismo desenvolvimentista, permitiriam
àquele país furtar-se da colonização económica norte-americana. Se as grandes
realizações materiais incluíram as obras públicas, a criação da indústria
pesada, a rede hidroeléctrica, a agro-indústria e a mineração voltadas para o
mercado mundial, nas realizações imateriais ou intangíveis poderão elencar-se o
modelo de ensino aplicado, o estímulo à investigação científica e tecnológica,
a criação de um corpo de quadros técnicos que dispensaram a ingerência da
assessoria estrangeira. Vargas assinalou o caminho. Infelizmente, o Brasil
parece não ter tido capacidade para acompanhar o visionarismo daquele homem de
excepção.
Perdeu-se o rumo, a
racionalidade e, sobretudo, a voz de comando. De Getúlio parece só não terem
gostado os paulistas, os integralistas e os comunistas: os paulistas,
derrotados na Revolução de 1932, perderam o monopólio de poder que exerciam
sobre o Estado desde a implantação da república; os integralistas de Plínio
Salgado e os comunistas de Prestes por se lhes ter escapado a oportunidade de
ouro para ali ensaiarem as respectivas utopias. Vargas foi o centro, o justo
termo, congraçador de vontades, o protector dos pobres e o promotor de elites
respeitadas e respeitadoras.
Título e Texto: Miguel Castelo Branco, Combustões, 02-05-2014
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