
A música "Father and Son", de Cat Stevens, hoje Yusuf Islam, um
grande sucesso de minha juventude, resume claramente a dificuldade de diálogo
entre as gerações e como, para um pai, é difícil ver os caminhos errados
tomados pelo filho que não o ouve.
Por mais que os pais errem na
educação de seus filhos, certamente pensavam estar certos ou não teriam agido
daquela forma, pois o amor pelos mesmos vem de antes mesmo de nascerem e a eles
só desejam o melhor, em todas as áreas.
Há poucos dias um amigo
dentista me contava como é comum atender pacientes cujos pais nunca mandavam
tratar dos dentes de seus filhos e sim mandavam extraí-los quando surgia algum
problema com um deles. É um comportamento inimaginável nos dias atuais, mas
aqueles pais de quarenta anos atrás pensavam que, com aquela atitude, seus
filhos nunca mais teriam problemas com o dente extraído e que no futuro, quando
já não restasse mais nenhum, colocariam uma "dentadura" e teriam o
sorriso bonito e sem a possibilidade de novos problemas.
Aquele profissional comentou
também que isso atualmente ainda é muito comum no interior do país e que
pessoas ainda muito jovens quase já não possuem dentes em decorrência desta
cultura existente na mente de muitos pais. Com seu relato, passei a imaginar o
trauma vivido por jovens que já quase não possuem dentes e que necessitam
retirar os últimos que ainda possuem para iniciar um tratamento que hoje se
daria com enxertos ósseos e implantes, para posterior aplicação de uma
dentadura fixa.
Entretanto, mesmo em casos
radicais como estes, que muitas vezes são verdadeiras mutilações, certamente
estes pais só tiveram este comportamento por ignorância, mas jamais por
desejarem mal a um filho, pois desconheço um pai que, mesmo ignorante, não ame
seus filhos e por eles não dariam a própria vida.
Muitos pais ensinam seus
filhos a lutar por tudo o que almejam galgar na vida profissional, emotiva ou
financeira, contra injustiças, a respeitar os mais velhos e até sugerem
profissões que sabem ser mais lucrativas, proporcionam escolas que os tornariam
altamente capazes, mas anos depois, no futuro, se deparam com filhos
desanimados, que não lutam pelo que desejam; escolheram profissões que pouco
lhes remunera ou que não se dão bem em profissão alguma; incapazes, financeiramente
acomodados, emocionalmente infelizes ou, pior, desejando até a morte dos pais
para, com isso, herdar o que estes ou seus antepassados construíram.
William Shakespeare já dizia: "Em
certos momentos, os homens são donos dos seus próprios destinos" e,
paras os pais, é muito difícil não ser ouvido pelos filhos e perceber que
sofrem mais do que o necessário por aprenderem com os próprios erros, quando se
ouvissem, pelo menos em alguns pontos poderiam ter aprendido com os erros já
vividos por outros.
Apesar dessa dificuldade de
comunicação ser comum há diversas gerações - com os filhos sempre achando que
sabem mais que os pais -, sempre podemos encontrar jovens que se sobressaem,
que erram menos e, observando seu comportamento, é fácil perceber que grande
parte de seu sucesso se deve à sua humildade de respeitar e sempre ouvir os
mais velhos.
Pena que muitos só consigam
enxergar esta realidade quando os pais já se foram, ou já são velhos demais
para ensinar algo que os transformaria em pessoas melhores, mais capazes e
menos sofridas, quando alguns, que talvez dessem mais valor aos seus, não
tiveram a felicidade de sequer ouvir a voz do pai.
Falta humildade a quem, ciente do cometimento dos mesmos por seus
próprios pais ou por terceiros, aprende somente com os próprios erros.
Título, Imagem e Texto: João Bosco Leal, Jornalista, escritor e
empresário, 23-05-2014
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