Luís Naves
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Foto: Christopher Polk/Getty Images |
Não vi nenhum dos filmes
candidatos aos óscares deste ano e a cerimónia interessa-me pouco, mas
observando a lista de vencedores de melhor filme é de temer que este ano se
verifique a continuidade de colheitas medíocres que contrastam violentamente
com as prodigiosas décadas do cinema clássico. O prémio de melhor filme foi
muitas vezes controverso e há casos de injustiças que ainda hoje nos deixam
perplexos, sobretudo no final da década de 70. O exemplo mais gritante foi em
1979, quando Apocalipse Now perdeu para uma coisa chamada Kramer
versus Kramer, mas também nos deixa KO o exemplo de Taxi Driver perder
para Rocky, em 1976. De resto, será difícil repetir anos como 1941,
em que Citizen Kane perdeu para O Vale era Verde,
mas a escolha era impossível.
É interessante verificar que
ao longo da história deste prémio houve um ritmo regular, com um terço de
vencedores de grande qualidade e um terço de erros de casting. Em
cada década surgia uma grande injustiça e pelo menos ganhava uma
obra-prima indiscutível. A Oeste Nada de Novo (1930), o já
referido O Vale Era Verde (1941),Casablanca (1943), Lawrence
da Arábia (1962), O Padrinho (1972) são os cinco
grandes. Depois disto, há vários filmes muito bons na lista, mas já não se
encontram as grandes obras. Em 2001, ocorreu uma injustiça difícil de
compreender, com a derrota de O Senhor dos Anéis. Já neste século,
a lista dos óscares é um perfeito deserto.
Hollywood atravessa uma crise
profunda, isso é evidente. Qualquer um dos três últimos vencedores de melhor
filme estrangeiro (Uma Separação, de Ashgar Farhadi; Amour,
de Michael Hanecke; A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino) mete num
chinelo qualquer dos dez últimos vencedores de melhor filme. Tirando o sofrível Argo,
precisamos de recuar a 2007 ou 2004 para encontrar um filme de certa qualidade.
Na realidade, é preciso recuar a 1992 para um vencedor candidato a obra-prima,Imperdoável.
Para mim, não conta a compensação tardia do terceiro Senhor dos Anéis,
por isso são vinte anos sem um grande filme, sendo esta, de longe, a pior
fase do cinema americano. A indústria, com a sua riqueza e aparato técnico,
parece incapaz de imitar os anos gloriosos, como 1939 e 1940, quando O
Grande Ditador perdeu para um dos filmes medianos de Hitchcock, Rebeca,
e Tudo o Vento Levou bateu O Feiticeiro de Oz.
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