Rodrigo Constantino
O complexo de vira-lata, tão bem diagnosticado por Nelson
Rodrigues, é derrotista e irritante, típico daqueles que só sabem criticar o
Brasil e achar que não há lugar pior no mundo. Há, e o Brasil tem lá suas
qualidades. Mas se esse complexo é irritante por um lado, pior ainda é o
ufanismo boboca, típico daqueles que acham que o país é uma maravilha e usam
lentes cor de rosa para enxergar nossa realidade totalmente distorcida. É o
caso do economista Paulo Nogueira Batista Jr., apontado pelo PT para diretor do
FMI. Em sua coluna de hoje no GLOBO, ele diz:
Estou há oito anos nos EUA e não posso dizer que me ambientei aqui
— e muito menos que me afastei do Brasil. Esta coluna é uma das maneiras de que
me socorro para manter o vínculo com o país.
Os EUA também têm, óbvio, toda a sua superestrutura de hábitos,
conceitos e cacoetes. Não me acostumei. O brasileiro superestima o resto do
mundo, particularmente os EUA. Temos muito a aprender com outros países, não há
dúvida. Mas a recíproca também vale.
[...]
Mas, enfim, eis o que vejo à distância: o Brasil, por alguns dos
seus traços, prefigura um futuro melhor, mais interessante, mais imaginativo
para todos, inclusive os países mais remotos. Primeiro porque é um país que já
nasceu aberto ao resto do mundo. E tem personalidade para absorver,
criativamente, influências estrangeiras. Absorver, criativamente, quer dizer
digerir, reprocessar e recriar a matéria-prima externa, como já ressaltava
Oswald de Andrade. Fizemos isso por toda a nossa vida nacional. Não temos, como
outras nações, medo de interagir com o novo, com o estranho, com o inusitado.
Os EUA são referidos como melting pot,
um caldeirão de etnias, raças e culturas. Mas o verdadeiro melting pot é
o Brasil. A fusão de diferentes nações se dá de maneira muito mais completa
entre nós. Até povos mais exclusivistas e puristas, como os japoneses ou
judeus, são de alguma maneira assimilados e integrados.
Recentemente, um sociólogo espanhol passou pelo Brasil e causou
sensação, declarando que somos um país violento. Ora, a violência não é parte
intrínseca da condição humana? O que é o homem senão um animal? Talvez o mais
interessante deles, mas animal mesmo assim.
No quesito violência, o brasileiro não se destaca. Ao contrário.
Só quem não respira dia a dia o ar que se respira no Brasil pode ignorar que a
cordialidade, a afetividade, o carinho são marcas do modo brasileiro de viver.
Estou delirando?
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Policiais aguardando para uma conversa amigável com os brasileiros cordiais… |
Sim, está. O brasileiro
não se destaca no quesito violência? Sério? Não é o que diz a estatística, com
quase 70 mil homicídios por ano! Somos um dos países mais violentos do mundo,
vivendo uma verdadeira guerra civil velada. Como o economista do FMI ignora
esse fato? Talvez esteja longe demais de nossa realidade. Talvez tenha tomado
um Prozac antes de escrever o artigo. Mas como negar nossa violência? O
“brasileiro cordial” não passa de um mito, ou ao menos de uma exceção.
Nogueira afirma que
superestimamos os Estados Unidos. Será que inventamos que a renda média deles é
cinco vezes a nossa? Será que inventamos que aqui, onde também estou morando
agora, e bem adaptado, as coisas funcionam? Será que é nossa invenção a
reduzida taxa de criminalidade em relação à nossa? Será que é tudo uma fantasia
em relação ao Vale do Silício, à inovação capitalista, ao império da lei?
O que exatamente os
americanos têm a aprender com o Brasil? Como não punir corruptos? Como
avacalhar até mesmo o futebol, nossa paixão nacional? Como manter no poder por
16 anos uma quadrilha? Seriam essas as lições? Quando Nogueira diz que o Brasil
nasceu aberto para o mundo, ele ignora que somos uma das economias mais
fechadas e protecionistas do planeta? Ele tem noção que um carro japonês chega
a custar quase o triplo no Brasil do que custa aqui nos Estados Unidos?
Sobre a miscigenação, um
fato, será que o economista do FMI ignora que o governo petista tem feito de
tudo para estragar também esse lado positivo, com suas cotas raciais que
segregam o povo misturado com base na “raça”?
O que é um homem
senão um animal?, pergunta. E eu respondo: pois é, às vezes tenho a nítida
sensação de que somos apenas isso mesmo…
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, veja, 29-5-2015
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ResponderExcluirJosé manuel