Javier González – Destaque
Internacional
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Plenário do Senado no dia 12
em que se aprovou o impeachment da presidente Dilma Rousseff, foto: Marcelo
Camargo/Agência Brasil
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Ampla maioria de senadores
aprovou o processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff, com seu consequente afastamento do cargo por um período de até 180
dias, enquanto durarem as investigações. Esse fato, de alto conteúdo simbólico,
foi a justo título interpretado por muitos como um dos maiores revezes
políticos sofridos pelo populismo esquerdista brasileiro em particular, e
latino-americano em geral.
Trata-se, com efeito, da
interrupção da hegemonia política do Partido dos Trabalhadores (PT), que já
durava 13 anos e chegou a abarcar dois períodos presidenciais de Lula e um
período e meio da presidente Dilma.
Numa exteriorização do
otimismo que atualmente contagia não poucos brasileiros, o conhecido jornalista
Reinado Azevedo escreveu no dia seguinte à suspensão de Dilma de suas funções
de presidente: “O PT está fora do poder. E, acreditem, é para sempre” (“Folha
de S. Paulo”, 13-5-2016).
Na realidade, neste momento de
debacle populista, as sãs alegrias se justificam; mas talvez seja preciso muita
cautela ao se considerar se o populismo brasileiro e hispano-americano de fato
entrou irreversivelmente em estado terminal. Neste momento, na hora da análise
política, requer-se, junto com a mansidão da pomba, a astúcia da serpente.
Vejamos um exemplo, que parece
ilustrativo quanto à necessidade de continuar a exercer um redobrado espírito
de vigilância em relação ao populismo e a sua potencial capacidade de se
reerguer. No Brasil, na Argentina, no Uruguai, no Chile, na Venezuela, bem como
em outros países governados nos últimos anos por partidos políticos
esquerdistas, ficou provado que todos esses partidos, incluindo alguns de seus
mais importantes líderes, se contaminaram e sujaram com a corrupção, apesar de
se terem sempre apresentado como os únicos incorruptíveis.
Embora a corrupção esquerdista
seja um elemento sumamente grave, ela não constitui o pior dano causado pelas
esquerdas. A maior destruição causada por estas na América Latina,
especialmente pelas que chegaram ao poder nos últimos anos, foi uma erosão
cultural, psicológica e social na população, incluindo setores do centro e até
da direita. Uma erosão sistemática, com estilo e métodos gramscianos maquiavelicamente
mais eficazes do que os das esquerdas clássicas, e cujo objetivo principal é
drenar e secar gradual e inadvertidamente na sociedade os princípios básicos da
civilização cristã. Tudo isso num clima anestesiante, a fim de se evitar
despertar reações incômodas.
Sobre a corrupção esquerdista,
muitos falam. Sobre a revolução anticultural esquerdista em nível brasileiro e
latino-americano — muito mais profunda e destruidora que a corrupção econômica
— quase ninguém trata. Por exemplo, muito haveria a dizer sobre o predomínio
hegemônico da mentalidade marxista nos meios educacionais e culturais, o qual
faz com que o ensino em todos os níveis, as artes e a cultura continuem em mãos
de professores e intelectuais nitidamente de esquerda. Nesse sentido, a
gigantesca propaganda direta e indireta a favor da nefasta revolução comunista
em Cuba constitui todo un capítulo especial.
Deste modo, a grande arma
anticultural e hegemônica das esquerdas — que mereceria um detalhado “Livro
Negro” de denúncia — permanece protegida e quase intocada, pronta para preparar
o caldo de cultura de um eventual ressurgimento populista no continente, com
eventuais adaptações cosméticas.
No Brasil, por exemplo, o
governo está emitindo sinais diferentes e até mesmo contraditórios. Enquanto
uma nota do Ministério das Relações Exteriores criticou duramente a intromissão
dos governos bolivarianos nos assuntos internos do Brasil, foram nomeados para
o novo governo alguns ex-ministros de Lula e Dilma, e o novo ministro da Defesa
pertence a um partido de esquerda, inclusive com um passado de militância
comunista. Isso não obstante, um clima de distensão vai tomando conta do
Brasil, enquanto a indignação em relação ao PT e seus próceres parece amortecer
e diluir-se.
Fica, com este artigo, um
convite à vigilância, e também a um sério debate sobre temas tão relevantes
para o futuro da grande nação brasileira e de toda a América Latina.
Título e Texto: Javier González, ABIM,
16-5-2016
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