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Ministro das Relações
Exteriores do Japão Mamoru Shigemitsu assina a Ata de rendição do Japão,
no USS
Missouri, perante o General Richard K. Sutherland, 02 de setembro de 1945
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Plínio Sgarbi
Quanto à questão
"qualidade", creio que o leitor deve se lembrar dos produtos
japoneses que invadiram o mercado mundial nas décadas 1960 e 1970. Em apenas
duas décadas após o Japão ser arrasado pela 2ª Guerra Mundial, o país se
colocou entre os países adiantados. No início do seu período de
industrialização o Japão contava com mão-de-obra abundante, o que permitiu um
crescimento acelerado, mas os produtos japoneses eram semelhantes aos produtos
chineses de alguns anos atrás, considerados baratos e ruins até pelos próprios
japoneses. A etiqueta “made in Japan” era malvista, diziam que os japoneses
nada criavam ou inventavam, só miniaturizavam. Em pouco tempo o produto
"made in Japan" passou a ser sinônimo de qualidade e uma garantia de
eficiência e o Japão passou a ameaçar os Estados Unidos como segunda potência
econômica.
Quem quer se tornar uma
potência, um dia tem que trocar a quinquilharia pela tecnologia. O Japão de
algumas décadas atrás, dos robozinhos de lata aos mais modernos seres
cibernéticos do planeta, o Japão deu um salto de tecnologia e qualidade em
poucos anos. A lição japonesa foi então compreendida pela Coréia do Sul e pela
China e demais Tigres Asiáticos. Copiando os japoneses, a partir da década de
70, o direcionamento da indústria eletrônica para a exportação de produtos
baratos traz prosperidade econômica crescente e rápida para alguns países da
Ásia. Coréia do Sul, Formosa (Taiwan), Hong Kong e Cingapura são os primeiros
destaques. Dez anos depois, Malásia, Tailândia e Indonésia integram o grupo de
países chamados Tigres Asiáticos. Apesar da recessão mundial dos anos 80,
apresentam uma taxa de crescimento médio anual de 5%, graças à base industrial
voltada para os mercados externos da Ásia, Europa e América do Norte.
Hoje produtos chineses estão
tomando conta do restrito e lucrativo mercado de produtos de alta qualidade. No
início, a China como grande produtor, para ganhar mercado, exportou para o
mundo todo a preço abaixo do custo. Para tentar deter o avanço chinês, mercados
aplicaram a lei antidumping, sobretaxando o produto chinês. Mas pouco adiantou,
pois usaram outros mecanismos para driblar a taxação. E o estigma de baixa
qualidade vem dessa época. A indústria chinesa superou essa fase. A China deu
esse salto, hoje há milhares de empresas chinesas que fabricam produtos de
qualquer outra qualidade do mundo. A etiqueta "made in China" mostra
a real procedência dos vestidos franceses, das calcas americanas, das bolsas
italianas, fabricadas na China. Reflexo de uma realidade do mercado de luxo:
seis em cada dez roupas já são produzidas total ou parcialmente na China. A
italiana Alzati, uma das mais caras marcas de tapetes do país, recentemente
trouxe 30% da sua nova coleção da China.
E agora, veículos chineses
começam a entrar no mercado, mas há de se lembrar que algo semelhante aconteceu
com os automóveis japoneses. Os japoneses entraram no mercado dos Estados
Unidos, com modelos pequenos e baratos para concorrer com os carrões
americanos. Logo a tecnologia japonesa passou a se mostrar confiável e até
chique, depois que entrou na moda economizar combustível.
Deng Xiaoping, herói da
modernização chinesa, sem nenhum apreço por ideologias, nunca achou que um
regime de liberdade política pudesse manter nos trilhos uma população de mais
de 1 bilhão de habitantes
Na China há pobreza sim, mas
não miséria, como todos os sinais de miséria que se apresentam na América
Latina. Mas como isso é possível no país mais populoso do mundo (1,3 bilhão de
chineses)? Por vários motivos. O salário mínimo do chinês é de cerca de 300
yuans, o médio está entre 500 e 600 yuans e o máximo mal chega a mil. Mas, com
150 yuans uma pessoa pode comer durante um mês, com 20 paga a moradia, quando é
oferecida pela unidade de trabalho, e com poucos centavos paga a condução. Sobra
dinheiro para outras despesas, como, por exemplo, o vestuário e o lazer.
Cada chinês pertence a uma
unidade de trabalho, que pode ser a escola, a fábrica ou o hospital onde exerce
sua profissão. A unidade de trabalho garante moradia, a preços baixíssimos, escola
para as crianças e assistência médica. Todos os habitantes de uma cidade estão
divididos em unidades de trabalho que, além de proporcionar a seus membros tudo
o de que eles precisam, controlam em tudo o que fazem, aonde vão, se frequentam
alguma religião
Entretanto, o capitalismo
implantado na China tem grande intervenção do Estado (economia planificada),
fato que ocorre de forma modesta em outros países de regime capitalista. O
crescimento industrial proporcionou uma relativa melhoria na qualidade de vida
da população, com destaque para as condições de moradia, alimentação e acesso
ao consumo, especialmente de eletrodomésticos.
Como não há brutal carga de
impostos trabalhistas, como no Brasil, que chega a ser vergonhoso o que se
paga, onerando as empresas com os encargos sociais e previdenciário que chega
ser uma aberração, e faz com que um em cada três empregados não tenha carteira
assinada. O chinês costuma poupar um quarto de tudo que ganha, mesmo com tal
fator educacional, ao longo de anos, também adquiriu a cultura e atitudes
consumistas, como: uso crescente do cartão de crédito, substituição da
bicicleta por carros e o jeito de vestir, elementos que produzem status na
China.
Um quinto da humanidade foi
puxado pelos cabelos para fora da zona de miséria. Os chineses, os tais
amarelos que sobrevivem com um salário de miséria e mão-de-obra escravagista
como insistentemente afirmam, compram em supermercados de padrão ocidental e em
shopping centers mais ricos (com as mais admiradas grifes internacionais) e
maiores do mundo. Os amarelos rodam em automóveis das marcas, Mercedes-Benz,
BMW e Audi. Os aeroportos estão lotados de amarelos tomando jumbos para viagens
internas e na construção civil, elevam-se os mais altos edifícios do mundo, com
arrojada arquitetura pós-moderna e restaurantes com culinária das mais
sofisticadas e iguarias exóticas, como: serpentes; escorpiões e roedores,
herança alimentícia da miséria onde tudo que se movia, se comia.
O número de cidadãos chineses
com mais de US$ 1 milhão disponíveis para investimento chegou a 534 mil em 2010
- o que eleva a China para o quarto lugar no ranking de países com maior número
de milionários. E já são 115 chineses com pelo menos US$ 1 bilhão de livre
disponibilidade.
Nas relações de busca da
felicidade em uma sociedade de consumo "enganosa" como a nossa,
ininterruptamente reposta como necessidade de mais consumo, de diversão, de
conforto, de bem-estar individual e familiar, de lazer, padrões de vida e de
"sonhos de consumo", também o pagamento de dízimo exagerado pelos
pobres; o enriquecimento de igrejas, protegidas pela imunidade injustificável
com a presença de ministros religiosos ocupando cargos públicos e etc. E em
tais relações, não há a preocupação em consumir-comprar produtos de fabricação
nacional, fomentando o emprego em nosso país, pois o certo e necessário sim
refletir que os impostos é que estão matando a indústria brasileira. E que
também passou-se a usar o dólar para controlar a inflação e manter o mercado
interno abastecido. Sempre que inflação sobe, valorizava o real (desvalorizando
o dólar), barateando as importações. E assim tem sido até hoje, mesmo no
governo Dilma - que agora resolveu sobretaxar alguns produtos importados ao
invés de diminuir a carga tributária dos produtos fabricados no país. Isso pode
ocasionar um preço muito alto para o Brasil, aí sim está um certo futuro negro.
Nossa dívida interna e externa
já está em mais de 2 trilhões. Fora essa dívida, resultante de gastos
excessivos, ainda existe outro risco gigantesco, que é as centenas de bilhões
de dólares investidos no mercado financeiro (Bolsa de Valores), atrás do juro
brasileiro, o mais alto do mundo. Cerca de 10 vezes mais alto do que nos EUA e
nos principais países da Europa. Ao primeiro susto, essas centenas de bilhões
de dólares aplicados em Bolsa, somem em 24 horas.
Produtos que envolvem alta
tecnologia é o setor que mais tem sido prejudicado. Na área eletrônica, já não
fabricamos mais nada. O "fabricado no Brasil" é quase sempre uma
enganação. Nessa área o Brasil apenas monta, não fabrica. Assim é em todas as
áreas que envolvem alta tecnologia. Na área automobilística, as fábricas
voltaram a ser montadoras, como eram 40 anos atrás. Praticamente só fabricamos
as carrocerias e estofamentos. Todos os principais componentes são importados.
Com a alta carga tributária, fabricá-los no Brasil torna o preço proibitivo.
Abraços
Texto: Plínio Sgarbi, 21-02-2012
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