Francisco Vianna
A AP (Associated Press) por esses dias distribuiu um artigo de Melvin Backman para o jornal americano The Wall Street Journal em que o articulista tenta explicar por que
“os mercados do Brasil são os que mais têm sofrido nos últimos dois anos”.
O analista alega uma
combinação de turbulência interna e a preocupação de Brasília com as decisões
do Federal Reserve (FED), o banco central americano, que vem castigando um dos
maiores mercados emergentes do mundo, muito mais do que os seus similares.
Para constatar se ele tem ou
não razão, basta observar que o índice IBOVESPA, referência do mercado
acionário brasileiro, em quatro anos, atingiu o nível mais baixo de sua
história recente com o mesmo acontecendo com o real em relação ao dólar.
O país tem assistido diversas
e contínuas manifestantes sob a forma de passeatas intencionalmente pacíficas,
mas que recebem um contingente de arruaceiros pagos pela esquerda no poder para
aproveitar tais manifestações e promover quebra-quebras e episódios lamentáveis
de vandalismo contra propriedades públicas e privadas, gerando incertezas sobre
os caminhos que o Brasil irá trilhar no futuro próximo. Tal falta de regras
claras para a política e a economia costuma gerar fuga de capitais e é isso que
está ocorrendo no Brasil de hoje como um reflexo de seus problemas estruturais,
que vão muito além dos protestos de rua.
Mas esses problemas, até pouco
tempo atrás não impediam a criação de oportunidades de negócio tanto para os
capitais brasileiros como para os que aportavam ao país, atraídos pelo vigor
aparente dos seus mercados.
Mas, com a gestão pálida e
ineficiente do atual governo, progressivamente, os investidores, primeiro os de
fora e agora os autóctones, parecem estar diversificando os locais de aplicação
de seus capitais em países que oferecem mais estabilidade jurídica e eficiência
governamental, aliadas à economia de livre mercado, e resolveram “dar um tempo”
ao Brasil, até que a poeira baixe de modo a visualizarem com maior nitidez para
onde vai a, ainda, maior economia da América Latina.
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Ben Bernanke, diretor do
Federal Reserve, prestando depoimento no congresso americano em 2012.
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A verdade é que os ventos de
progresso financeiros – muito mal geridos e mal aproveitados pelos governos
petistas – sopraram nos últimos anos no Brasil em função do afrouxamento
monetário do FED que começou a imprimir dólares sem lastro para acudir a fase aguda
da crise do subprime e subsequentes e
ainda poder continuar arcando com as despesas milionárias de suas ações
militares globais. Ocorre que os investidores, tanto externos como internos,
começaram a se preocupar e a se tornar muito mais cautelosos a partir do
momento em que o gerente do FED, Ben Bernanke, começou a tomar medidas que
sinalizam o possível fim desse afrouxamento monetário.
Isso, entre outras coisas, fez
o IBOVESPA cair 17,1%, de longe a maior queda em relação aos índices de
referência, por exemplo, de Peru e Índia – dois mercados emergentes com
elevados déficits em conta corrente e com classificação de crédito situada
acima do nível de “alto risco” – que tiveram quedas respectivas de 8,3 e de
7,1% nos seus índices.
Todavia, outra verdade é a de
que os problemas brasileiros na área econômica vêm de bem antes dessas medidas
do FED. Nos últimos três semestres, os fundos de ações de mercados emergentes
com sede nos EUA receberam, em média, 3,5 bilhões de dólares mensais em
aplicações (dados da Thomson Reuters). No sentido contrário, os fundos de ações
brasileiros lá sediados sofreram uma sangria 179 milhões de dólares/mês, em
média, no mesmo período. Enquanto o IBOVESPA despencava 19%, o índice MSCI de
ações de mercados emergentes ganhava meio ponto percentual desde o réveillon de
2011, com tal queda preocupando mesmo os maiores fãs dos mercados emergentes.
É claro que esse quadro exibe
uma migração de capital que só pode ser creditada ao FED por néscios que nada
entendem de capitalismo atual.
Até Win Thin, diretor global
de mercados emergentes da Brown Brothers Harriman & Co., que se considera
um otimista em relação aos mercados emergentes, disse que está alertando seus
clientes para que mantenham seus capitais longe do Brasil, pelo menos por um
semestre, até vislumbrarem para onde o atual governo petista irá caminhar, se
vai subir a ladeira da segurança jurídica e dos investimentos em infraestrutura
ou se vai descer a ladeira das estatizações e do distributivismo, como ocorre
na Argentina e na Venezuela.
“O próprio Brasil precisa
decidir para onde quer ir, pois a política de afrouxamento monetário dos EUA
(e, aliás, também de outros países do G10) – e que foi o grande fator que
alavancou os mercados emergentes – não tem previsão para ser novamente posta em
prática. Agora, que o dinheiro fácil já não está tão fácil, as fugas de capital
da maioria dos mercados ativos emergentes nos próximos dois trimestres
ocorrerão muito mais por fatores internos do que por externos", disse o
articulista no blog do jornal.
A queda das ações brasileiras
nos mercados mundiais e na BOVESPA fizeram murchar as esperanças de recuperação
de um 2012 fraco, com relação a novas aberturas de capital no país, não
importando, é claro, de onde ele provenha. O blog a que me refiro acima é o MoneyBeat do jornal WSJ de Nova
Iorque, onde se pode ter acesso às matérias desse articulista e de outros.
No último mês, a Votorantim
Cimentos, por exemplo, suspendeu suas operações de captação em bolsas de
valores alegando “más condições de mercado” e o blog MoneyBeat informou que a
empresa aérea Azul também congelou seus planos de venda de ações.
Para alguns entendidos, não há
sinais de recuperações visíveis no horizonte econômico brasileiro, pessimamente
influenciado por uma equipe ministerial reconhecida como amplamente
incompetente – e até mal-intencionada – como a chefiada por Mantega.
O Brasil está sendo vítima da
fuga dos capitais que costumam fluir para os mercados emergentes graças a sua
falta de fundamentos capitalistas modernos, que também contribui de forma
marcante para as quedas de seus mercados. Graças a isso, a indefectível agência
Standard & Poor's está a considerar um rebaixamento na sua classificação de
crédito.
Rafael Dix-Carneiro, um
brasileiro professor assistente de economia da Universidade de Maryland, disse
que “o país tem problemas que vão mais fundo do que os muito alardeados
protestos contra a corrupção e o aumento das tarifas de ônibus”. Os erros
crassos de sucessivos governos intervencionistas, criando gatilhos econômicos
que não se sustentam à luz da ciência econômica, começam a gerar inflação
crescente – que esta semana fez Brasília comprar 60 bilhões de dólares numa
tentativa desesperada de decadente de conter a alta do dólar – com preços das
mercadorias em baixa, num aparente contracenso econômico.
O pior é que os sinais de
Brasília apontam no sentido de caminhos políticos resultantes do alinhamento
com o socialismo “bolivariano” que têm lançado a Argentina e a Venezuela no
fundo poço do retrocesso social, gerado dúvidas sobre o seu desempenho
econômico no curto e no médio prazo.
Em vista do que aqui exponho, a
conclusão a que chego é a de que, apesar dos recentes desdobramentos da
política econômica dos EUA – cuja economia já dá sinais de franca recuperação –
a combinação sinistra da inflação, já situada acima do nível de comodidade do
Banco Central, com as previsões realistas de crescimento econômico sendo
revisadas para baixo, mostra com crescente nitidez a enorme incompetência – se
não má-fé – dos atuais dirigentes do país.
Tivesse o Brasil uma
Constituição parecida com a do Paraguai e os poderes Judiciário e Legislativo
do país teriam tudo para votarem o “julgamento político” de Dilma Roussef e
destituí-la da presidência, caso, é claro, tais poderes não estivessem tão
cooptados pelo executivo quanto estão atualmente.
Título e Texto: Francisco Vianna, (com base em matéria
do jornal americano The Wall Street
Journal), sábado, 24 de agosto de 2013
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