Cesar Maia
Qual a sua avaliação sobre o prefeito Crivella?
Cesar Maia: Prefiro aguardar
2018, especialmente após as "águas (janelas) de março". Não acredito
na decantada penúria financeira da Prefeitura. Apresentar a situação do Rio
como terrível e responsabilizar o prefeito anterior é uma tradição na política
brasileira. Os dados que vão sendo publicados no Diário Oficial, especialmente
de execução orçamentária, não indicam isso. Pode ser a tradicional “fazer caixa
no primeiro ano e governar a partir do segundo ano”.
O que você quer dizer com "após as águas de março”?
CM: Em março abrem-se as
janelas para os políticos trocarem de partidos. E termina o prazo de
desincompatibilização de secretários e ministros. É uma boa hora de fazer uma
reforma do secretariado. E de alavancar ainda mais o caixa, com a antecipação
do IPTU. As receitas em 2018 deverão crescer com as leis do IPTU e do ISS e o
crescimento da economia.
A sensação que muitos têm é que a Prefeitura vai muito mal e as
Secretarias descoordenadas. É assim?
CM: Em 2017 é assim. Mas essa
realidade é funcional, na hipótese de se fazer caixa no primeiro ano e
reestruturar o secretariado.
E a crise que se noticia na saúde pública?
CM: A desmontagem das OSs,
pela prefeitura atual, que eram o eixo da gestão da saúde pública herdado do
prefeito anterior, teria que produzir essas consequências. Isso é ruim? Talvez
não. Havia tantos funcionários nas OSs quanto concursados na Secretaria. As
despesas com as OSs haviam se igualado ao IPTU. E os desvios de conduta,
inclusive prisões e investigações, sublinharam um caminho para o caos. Uma
caixa preta que até agora não foi totalmente aberta.
E o sistema de transportes públicos? Para onde caminha?
CM: Esse do ponto de vista de
futuro é o mais grave de todos. As empresas de ônibus, a partir de 2009,
estavam se desinteressando pelo mercado do Rio. Aquela prefeitura entendeu isso
como modernização e qualificação. Os BRTs, o desmonte do transporte alternativo
e em menor escala o VLT inicialmente no Centro, aumentaram de forma
significativa o IPK - índice de passageiros por quilômetro. Com isso, o número
de ônibus foi reduzido; e seria muito mais e progressivamente se fosse dada
sequência a essa política.
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Estação Vaz Lobo |
Mas por que essa política?
CM: Uma hipótese é que o
sistema de ônibus do Rio já não interessava mais as empresas como antes e que
minimizar esse sistema seria a verdadeira política.
E os atos de vandalismo contra os BRTs na alta Zona Oeste?
CM: O que dizem é que a
empresa que faz a segurança dos BRTs não agradou aos traficantes e que no fundo
é uma guerra entre traficantes e essa empresa.
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Homem quebra catracas em
estação (Foto: Reprodução / Globo)
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A situação da Educação é curiosa, pois não se percebe os conflitos que
existiam antes. Por quê?
CM: Talvez pela origem
política do secretário, suas nomeações e medidas internas, que devem – digamos -
acalmar os sindicatos, ONGs e associações e partidos mais à esquerda. Mas
quando entrar em votação o plano municipal de educação exigido pelo MEC e que
no Rio está parado há anos, veremos os conflitos, especialmente entre os
valores cristãos e conservadores de um lado e a esquerda na Câmara e fora dela.
Os focos serão coisas como ideologia de gênero e escola sem partido.
A oposição de esquerda ao prefeito insiste que a prefeitura está
quebrada. As críticas ao orçamento apresentado são muito grandes e crescentes.
Por quê?
CM: Realmente isso tem
ocorrido. Em geral, os números não são o forte da esquerda. Vide o PT, no
Governo Federal. O sistema previdenciário municipal, que teria um déficit de 2
bilhões, "agora tem" um déficit de 200 milhões. O presidente da CPI,
do partido do prefeito, elaborou um relatório para respaldar medidas duras que
seriam adotadas, como aumento da contribuição, etc. Mas esse truque ficou claro
e a CPI não terá um relatório, mas três. E essas críticas da dita esquerda
convergem com o que o prefeito propaga e ajudam a explicar os seus problemas.
Esperto o prefeito.
Texto: Cesar Maia, 22-11-2017
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