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Ilustração: Diário de Notícias |
Joana recebeu 15 mil e 17 mil euros pelas gravidezes. Garante que fica por aqui, embora não esteja arrependida.
Corria o ano de 2006. Joana, brasileira residente em São Paulo, encontrava-se num impasse financeiro na sua vida. Tinha acabado de fazer um empréstimo bancário para a sua nova casa. Hoje, aos 32 anos, admite que esse foi o primeiro impulso que a levou a prestar serviços a estas clínicas.
Ao fim de três meses, Joana, actualmente consultora financeira da Ernst &Young, tornava-se uma das muitas brasileiras que recebem dinheiro pelo "aluguer" do seu útero. "Hoje penso que a minha maior recompensa não foi o dinheiro mas sim a felicidade de dar àquelas mulheres a hipótese de serem mães." Mulheres, no plural, porque Joana já foi mãe de aluguer por duas vezes: em 2006 e em 2008. Em 2004 já tinha vivido a "experiência real" da maternidade ao dar à luz o seu filho biológico - fruto de uma relação de anos -, Gabriel, hoje com quase seis anos.
O valor recebido foi 15 mil euros da primeira vez e 17 mil em 2008. Questionada se vai voltar a repetir, a resposta é peremptória: "Não volto não, já tenho 32 anos e o meu corpo já não reage da mesma forma. E filhos meus só mesmo o que tenho, que já me dá muito trabalho", diz, de uma forma descontraída, a rir.
Um lado da sua vida que esconde dos pais, residentes no Espírito Santo, mesmo ao lado do estado de São Paulo. "Se isto fosse uma entrevista a um jornal brasileiro já não estávamos aqui a falar: tenho medo da reacção, porque em muitas zonas mais rurais esta questão ainda é tabu."
No Brasil, as barrigas de aluguer não são permitidas se forem remuneradas. E são as clínicas que fazem a implantação dos embriões mas não fornecem estas mães de substituição. "Os casais que nos contactam já têm de vir com a pessoa que está disposta a fazer isto e pagar-nos cerca de quatro mil dólares", explica o médico brasileiro Lister de Lima Salgueiro, "mas o que os casais pagam às barrigas de aluguer já não é connosco".
Joana diz que nunca se arrependeu do que fez, mas houve alturas nas duas gravidezes de aluguer que pensou: "Ainda bem que já tenho um filho, porque assim não vou querer ficar com este." Das duas barrigas de aluguer nasceram dois rapazes. "Mas nunca tive curiosidade de os conhecer porque acho que é pior". No final de todo este processo, Joana aconselha: "É preciso que as mulheres que façam isto tenham a certeza do que estão a fazer e, acima de tudo, não o façam na primeira gravidez, porque aí tudo pode correr para o torto."
Mas os motivos económicos da mãe de substituição não são escondidos: "Ajudei a pagar a casa na primeira gravidez de aluguer e a segunda deu-me bastante jeito para comprar o carro", conta a consultora.
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