Gerald Thomas [foto] estava afiado no
evento Fronteiras do Pensamento que aconteceu em Porto Alegre
e cujas conferências foram reunidas num livro que está saindo pela Civilização
Brasileira.
Lá pelas tantas, ou mais
precisamente à página 277 do livro, Thomas manda bala ao explicar o porquê de
ter feito um gesto obsceno para Lula numa manifestação a favor da Varig anos
atrás. Fala Thomas:
- Foi em defesa da Varig,
que ele ajudou a afundar em virtude da maldita TAM, que tem o (…) do Dirceu
como acionista.
VARIG: QUANDO A CULTURA PESA
Gerald Thomas
Fiquei absolutamente horrorizado ao
ler aqui neste site (do
qual sou leitor assíduo) um artigo criticando a VARIG. Criticar é
válido sempre. Mas, por favor: me venham com argumentos sérios. O que li foi
trivial, ridículo e, se me permitirem, vou em defesa desse patrimônio nacional
que é a VARIG. Se o passageiro experimentou atrasos, atropelos,
decolagens que não aconteceram, turbinas que enguiçaram na última hora, fica
aqui somente um lembrete: o mesmo, ou pior, já me aconteceu com todas, ou quase
todas as companhias aéreas do mundo, desde a Lufhansa até a Delta, desde a
Singapore Airlines até a Northwest ou a Jal.
Residente em Nova Iorque, mas
trabalhando em – sei lá quantos países do mundo, eu me encontro sentado em uma
poltrona de avião, pelo menos uma vez por semana. E não é raro esbarrar em
atrasos, cancelamentos sem o menor aviso prévio, tratamento frio e descaso com
passageiros. As companhias européias, então, ganham prêmios como o Oscar
em Acting Badly, ou seja, atuação ruim: são péssimos atores, fingem
mal. Não dão informação precisa, são dissimulados, desaparecem dos balcões e
pronto: fica um passageiro perguntando pro outro. Todos com cara de tacho.
Mesmo tendo pago a tarifa cara de business class (ainda bem
que, no meu caso, a produção local ou casa de ópera paga e não sai do meu
bolso), os passageiros, alguns furiosos, deitam no chão dos corredores,
dos gates dos aeroportos mais desconfortáveis do mundo, como o
de Frankfurt, ou o superhiperlotado Heathrow, onde não cabe nem mais uma mosca
(islâmica ou cristã) e se resignam a algum próximo anúncio feito pelo sistema
de alto-falantes.
Pois esse tipo de tratamento nunca
aconteceu com a VARIG. E por quê? Porque o diferencial está em sua
cultura. Sim, a cultura de seus comissários de voo e do
pessoal de terra é algo fascinante. Não é à toa que a VARIG consta
no cancioneiro popular, na poesia brasileira e não é à toa que existe uma
enorme manobra política nesse momento querendo derrubá-la. Posso ser processado
por isso, mas vá lá: enquanto teve poder, José Dirceu e seus asseclas estiveram
intimamente ligados à presidência da TAM. A TAM tem as cores vermelhas e
“comunistas”, stalinistas (que piada!)) que tanto servem ao desastroso PT nesse
momento. Dirceu jurou ódio à VARIG desde um belo voo em que não
conseguiu upgrade para a business class.
Falar mal da VARIG?
Falência? Depois de 11 de setembro a indústria aérea inteira está em apuros.
Muitas desapareceram, como a Swissair, por exemplo. A United e a Delta (e
tantas outras) estão com problemas seríssimos! Aquelas que existem, existem
porque têm um governo forte (europeu) por trás, como a British Airways, que
recebe libras esterlinas para superar a crise e forte investimento da Airbus. E
ainda conseguem subsídio de combustível da British Petroleum.
Por favor, se quiserem criticar uma
organização maravilhosa e culta como a VARIG, que falha tão
raramente, pelo menos o façam com delicadeza e saibam que por trás, assim como
numa boa trama de Shakespeare, existem paredes que registram, ouvem e repetem,
multiplicam, delatam impostores assim como o Rei Claudius, assassino do pai de
Hamlet. Por que menciono o príncipe de Elsinore que era tão bom de palavras mas
não conseguia ir para a ação? Porque a VARIG é o contrário! Na
época do Tsunami, que acaba de completar um ano, ela mandou um avião para levar
produtos, inclusive alimentos, para os sobreviventes. E não fez alarde disso. E
isso é comovente!
Na época da ditadura ela fez milagres!
Mas isso fica para um outro artigo. Um artigo que Zé Dirceu e Lula
deveriam saber detalhadamente porque seus companheiros foram salvos pela VARIG!
Mas, assim como em Elsinor, no mundo
político brasileiro, onde as decisões são tomadas, tudo é podre como no reino
da Dinamarca.
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Boeing 777, foto: Thomás Coelho |
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