Cesar Maia
1. A solução de qualquer problema – especialmente um grave como o
sistema eleitoral brasileiro – deve começar pelo diagnóstico e equacionamento
das causas. Quase todas as informações divulgadas pela imprensa a respeito da
relação entre empresários, funcionários e políticos, seus valores, e eventuais
desvios, passam pelo processo eleitoral.
2. Processo eleitoral, vale dizer, as eleições de “hoje e de
amanhã”. O sistema eleitoral brasileiro – do voto proporcional aberto – em que o eleitor vota em quem desejar e pessoalmente, e onde os votos são
agrupados por partido ou coligação e se elegem os mais votados, é único no
mundo. E explica o custo das campanhas.
3. Esse sistema – como é natural – exige um financiamento eleitoral
que potencialize as possibilidades dos candidatos. Citemos três: a propaganda,
a dispersão dos votos e os apoios dentro do próprio meio político. A propaganda
para massificar um nome/número. A dispersão dos votos para um candidato ter
voto fora de suas bases eleitorais. E os apoios dentro do próprio meio político
vinculam uma eleição à outra com apoio de vereadores, prefeitos, deputados
estaduais e federais, vice-versamente. E, claro, apoio dentro das máquinas dos
governos.
4. A recente proibição de propaganda nas ruas, a diminuição do
tempo de TV e a mudança na legislação eleitoral proibindo financiamento por
parte de empresas reduziram muito a oferta de recursos para as campanhas
eleitorais – “de hoje e de amanhã”.
5. Mas não reduziram a demanda de recursos implícita no sistema
eleitoral de voto proporcional aberto. Com isso, aumentou a pressão para o uso
das máquinas governamentais. Os recursos financeiros diretos diminuíram e, como
compensação, há que se usar os recursos “não-financeiros” e “não registrados”
do uso das máquinas, vinculando as ações dos governos a outros governos e,
assim, a políticos.
6. Mas se o financiamento político-eleitoral é efeito do sistema
eleitoral, o fundamental será mudar o sistema eleitoral de forma a que a
demanda de recursos seja não apenas menor, mas orgânica. E para complicar, os
politólogos falam que o pior de tudo é que o atual sistema eleitoral gera
mandatos de baixa representatividade.
7. O politólogo Jairo Nicolau, especialista em sistemas eleitorais,
um tempo atrás, listou todos os exemplos e hipóteses, mundo afora, mostrando
que quase sempre são conflitivos em seus propósitos. O voto distrital aumenta a
representatividade local, mas não a ideológica ou partidária. O voto no partido
reduz drástica e organicamente os custos das campanhas para os candidatos, mas
no atual estágio partidário brasileiro cria a sensação de que o eleitor não
sabe em quem está votando.
8. O voto distrital, com distritos uninominais, reforça a
representatividade local, mas muito mais com distritos menores de uns 40 mil
eleitores, como no Reino Unido e muito menos com distritos maiores de uns 600
mil eleitores, como nos EUA. A adoção do voto distrital misto alemão, que tem
apoio na academia e na imprensa, combina a representatividade local com a
partidária. O distritão elimina os que não têm voto “nem partido” e se elegem
com os votos dos outros. Mas enfraquece o voto partidário, o que, hoje, no
Brasil quase não existe.
9. O que cabe à comissão parlamentar que estuda um novo sistema
eleitoral é avaliar as causas para adotar um sistema eleitoral que amplie a
representatividade, abra as portas para o fortalecimento dos partidos e tenha
como efeito um financiamento eleitoral orgânico. Não é tarefa simples, mas é
necessária.
Título e Texto: Cesar Maia, 21-3-2017
Realce: JP
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