Henrique Pereira dos Santos
"O antigo presidente Guebuza [foto] deu uma conferência na semana passada, explicitando que 'o colono trouxe a ideia que o africano é corrupto'."
Foi a José Pimentel Teixeira
que fui buscar a citação como começo o post (a citação a que fui buscar o
título é de Jorge de Sena, escusava de o dizer porque passo a vida a citar esta
coisa).
Na minha não pátria amada
(outra citação de José Pimentel Teixeira), um antigo presidente da república e
eminência parda do regime, 50 (cinquenta) anos depois da independência,
ainda procura a legitimidade do poder da Frelimo, manifestamente corrupto, na
herança colonial.
A minha amargura sobre isto
não resulta tanto da estupidez da afirmação, nem mesmo das consequências
práticas, para os moçambicanos comuns, de um poder fundado nas armas e na
mitificação da resistência a uma herança colonial que sirva para justificar o exercício
de um poder hoje manifestamente ilegítimo, a minha amargura é um bocado mais
funda.
Não vejo como se pode fazer o
parto sem dor de um poder legítimo, quando os detentores do poder atual não têm
pudor em dizer que, em cinquenta anos, com a maioria da população nascida
depois da independência, os moçambicanos são incapazes de se libertar de ideias
colonialistas que possam ter existido e, consequentemente, tomar os seus
destinos em mãos, dispensando os seus libertadores.
O que Guebuza e os outros
fizeram com o poder que lhes foi arbitrariamente atribuído é triste, muito
triste, mas mais triste ainda é que hoje, 50 (cinquenta) anos depois da independência, continuam a
culpar os colonialistas pela corrupção endémica que resulta das opções das
elites armadas que tomaram o poder há 50 (cinquenta) anos para tentar
justificar a legitimidade de um regime manifestamente em colapso.
Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 28-2-2025
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