sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

"uma amargura me submerge inconsolável"

Henrique Pereira dos Santos

"O antigo presidente Guebuza [foto] deu uma conferência na semana passada, explicitando que 'o colono trouxe a ideia que o africano é corrupto'."

Foi a José Pimentel Teixeira que fui buscar a citação como começo o post (a citação a que fui buscar o título é de Jorge de Sena, escusava de o dizer porque passo a vida a citar esta coisa).

Na minha não pátria amada (outra citação de José Pimentel Teixeira), um antigo presidente da república e eminência parda do regime, 50 (cinquenta) anos depois da independência, ainda procura a legitimidade do poder da Frelimo, manifestamente corrupto, na herança colonial.

A minha amargura sobre isto não resulta tanto da estupidez da afirmação, nem mesmo das consequências práticas, para os moçambicanos comuns, de um poder fundado nas armas e na mitificação da resistência a uma herança colonial que sirva para justificar o exercício de um poder hoje manifestamente ilegítimo, a minha amargura é um bocado mais funda.

Não vejo como se pode fazer o parto sem dor de um poder legítimo, quando os detentores do poder atual não têm pudor em dizer que, em cinquenta anos, com a maioria da população nascida depois da independência, os moçambicanos são incapazes de se libertar de ideias colonialistas que possam ter existido e, consequentemente, tomar os seus destinos em mãos, dispensando os seus libertadores.

O que Guebuza e os outros fizeram com o poder que lhes foi arbitrariamente atribuído é triste, muito triste, mas mais triste ainda é que hoje, 50 (cinquenta) anos depois da independência, continuam a culpar os colonialistas pela corrupção endémica que resulta das opções das elites armadas que tomaram o poder há 50 (cinquenta) anos para tentar justificar a legitimidade de um regime manifestamente em colapso.

Título e Texto: Henrique Pereira dos Santos, Corta-fitas, 28-2-2025 

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