Carina Bratt
NO ÂMAGO, ou no cerne efervescente e conturbado de cada cidade, seja ela de grande ou pequeno porte, como leciona Peter Geoffrey Hall, em seu livro ‘Cidades do amanhã’ em cada esquina e praça, ‘existe um fenômeno que é tanto admirável quanto enigmático: a multidão. À primeira vista, pode parecer um amontoado caótico de pessoas, cada uma com a sua própria direção e propósito. Contudo, quando observamos com mais carinho e atenção, perceberemos que há uma ordem sutil, um padrão invisível que guia os movimentos e as interações.’ É como se a multidão, queridas amigas da ‘Grande Família Cão que Fuma’’ fosse um organismo vivo, pulsante, capaz de inventar novas formas de coexistir, inovar e criar. Sobretudo, criar.
A força de uma multidão segundo Jeff Speck, ‘reside em sua capacidade de transformação. Quando muitas pessoas se unem, elas trazem consigo suas histórias, experiências e sonhos. É dessa junção de diversidade que surgem ideias revolucionárias. Movimentos sociais, inovações tecnológicas e mudanças culturais muitas vezes nascem do esforço coletivo, onde cada indivíduo adiciona uma peça ao mosaico maior. Pensemos nas praças das grandes cidades, onde artistas de rua, músicos, vendedores e transeuntes se encontram’.
E logo à frente, continua, ‘Cada um contribui com algo único, e juntos criam uma atmosfera vibrante e dinâmica. O mesmo acontece em protestos e manifestações, onde a voz de um único indivíduo pode se amplificar e ressoar quando unida a milhares de outras. Há também um aspecto de criatividade coletiva na multidão. Eventos como festivais, feiras e celebrações são exemplos de como as pessoas, ao se reunirem, podem inventar novas tradições e expressões culturais.’ A plebe, em sua essência, é uma incubadora de inovação. Ela tem o poder de transformar de um minuto para outro, o comum em extraordinário, o individual em um comunitário de tirar o fôlego.
Em tempos de crise, escreve Lizandra Caldonazo ‘a força inventiva da multidão é ainda mais evidente. Seja na resposta a desastres naturais, pandemias ou desafios econômicos, vemos como a colaboração e a solidariedade podem levar a soluções criativas e eficazes. A multidão em comum acordo inventa, não apenas por necessidade, mas também por um desejo inerente de melhorar e evoluir. Portanto, a massa não é apenas um conjunto de pessoas, mas uma força poderosa de invenção e reinvenção. É através dela que novas ideias ganham vida, e a cultura se enriquece, momento em que a sociedade avança.’
Na minha visão eu penso que a multidão inventa, e ao fazê-lo, ela constrói o futuro. Como assim, constrói o futuro? O ajuntamento de cabeças pensantes constrói o futuro de diversas maneiras, todas baseadas na colaboração e na diversidade de ideias e talentos. Se as minhas leitoras me permitem, elencarei aqui alguns exemplos. Inovação tecnológica: Quando muitas mentes criativas trabalham juntas, elas podem desenvolver novas tecnologias que revolucionam a maneira como vivemos. Em plataformas de ‘financiamento coletivo,’ por exemplo, onde várias pessoas podem contribuir com pequenas quantias para financiar grandes projetos inovadores. Concordam?
Em paralelo, não devemos esquecer jamais dos movimentos sociais: Como assim, dos movimentos sociais? Eles existem? Não como deveriam, logicamente. As mudanças sociais muitas vezes começam com um pequeno grupo de pessoas que compartilham uma visão comum, as vezes mirrada, tacanha e sem futuro. À medida que mais pessoas se juntam, ou se unem, e se abraçam, a voz coletiva retumba e se torna mais poderosa, se diversifica, se agiganta, a ponto de a certa altura, influenciar políticas públicas e promover a tão surrada e me perdoem, a justiça social. Devo lembrar que a justiça social, está uma merda, uma porcaria, se fez decadente, superada. Em resumo, um verdadeiro lixo. Exemplos disso, como dissemos acima, incluem movimentos como o sufrágio feminino e os direitos civis.
Penso também na ‘Economia Colaborativa.’ A economia compartilhada, como aplicativos de aquinhoamento de caronas e espaços de ‘coworking (1)’ é um exemplo típico e bem claro, de como a colaboração mútua pode criar novas oportunidades econômicas. A abastança (vamos chamar assim,) inventa e recria novas formas de compartilhar recursos, reduzindo desperdícios e quadruplicando a eficiência.
Alguém por acaso já pensou, em ‘Soluções Comunitárias?’ Em comunidades locais (vi isso na cidade de Patrocínio, nas Minas Gerais, onde estou agora, as pessoas muitas vezes se unem para resolver problemas comuns. Isso pode incluir desde a organização de bancos de alimentos até à criação de jardins comunitários e pequenas escolas que, aliás, podem se tornar grandes. Essas iniciativas não apenas melhoram a qualidade de vida, mas também fortalecem os laços sociais.
Nesse tom, temos também a ‘Criatividade e Cultura:’ Festivais de música, exposições de arte e eventos culturais são exemplos de como a reunião de pessoas com diferentes habilidades e perspectivas pode levar (e, de fato levam) a novas formas de expressão artística e cultural. A multidão cria e celebra a diversidade cultural, enriquecendo a sociedade como um todo.
Resposta a desastres: Em tempos de crise, não sei se as minhas amigas notaram, como epidemias naturais ou pandemias, a capacidade de resposta rápida e eficaz muitas vezes depende da colaboração de muitas pessoas. Voluntários, profissionais de saúde e organizações se unem para fornecer ajuda, apoio e soluções criativas para enfrentar os desafios. Portanto, a meu entender, a multidão, como um todo, constrói o futuro ao fomentar a inovação, promover mudanças sociais, criar novas oportunidades econômicas, resolver problemas comunitários, enriquecer a cultura e responder a crises de forma eficazes. Cada indivíduo, ao contribuir com suas ideias e esforços, ajuda a moldar um futuro mais colaborativo, inclusivo e dinâmico.
As minhas amigas dotadas de uma visão mais aprimorada, certamente me criticarão e mais, cairão em cima de euzinha observando que as multidões podem às vezes tomar decisões que não são práticas ideais ou podem, em caminho oposto, levar a consequências negativas. A natureza humana é complexa e, quando muitas pessoas se reúnem, como agora, com a infâmia do Carnaval, poderá haver um amontoado de desafios não previstos. No próximo domingo, voltarei ao assunto, traçando, na Parte dois, final,’ a minha opinião pessoal com relação ao que acabo de trazer à baila.
Como acima citei no número (1) a expressão ‘coworking,’ devo concluir esta primeira parte do meu texto, dizendo apenas numa pequena e resumida explicação necessária, que tal palavra nada mais é como se pode ver descrito nas redes sociais, ‘um espaço físico compartilhado por várias pessoas ao mesmo tempo.’ Em outras palavras, um mini escritório onde se juntam empresas, profissionais liberais e freelancers. Ou no dizer do povão, grosso modo, um ‘Escritório Virtual.’’
AUTORES E LIVROS CITADOS:Peter Geoffrey Hall – Cidades do amanhã.
Jeff Speck – Cidade caminhável.
Lizandra Caldonazo – Detalhes das cidades.
Título e Texto: Carina Bratt, das cidades de Patrocínio e Araguari, nas Minas Gerais, 23-2-2025
Anteriores:
Dois esquisitões em busca do mesmo fim
Destroçadas? Não totalmente. Sempre há uma válvula de escape
Ainda hoje, tantos anos depois, me contam as flores que o afago que emanava dele, elaborou o amor
Homenagem valiosa
A desconhecida que mora dentro de mim...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-