domingo, 9 de fevereiro de 2025

[As danações de Carina] Destroçadas? Não totalmente. Sempre há uma válvula de escape

Carina Bratt  

MUITAS VEZES a gente se sente inteiramente aos pedaços. Não se trata apenas de estar triste ou decepcionada, mas sobretudo se ver e de se sentir possuída dos pés à cabeça, por uma sensação mais profunda, tipo uma fratura exposta na própria alma. Como se cada parte de nós, cada sonho e esperança, tivesse sido esmagado em mil pedaços, espalhados pelo vento impiedoso da vida cruel. 

Para onde quer que a gente olhe, não conseguimos ver nada além dos fragmentos dos nossos próprios anseios, refletindo um mundo frágil e quebradiço que parece totalmente estranho e distante. As memórias felizes são apenas sombras de alegria distorcidas pelo peso da dor imensa que implacável nos aniquila e nos deixa às rés do chão. Contudo, mesmo em meio aos destroços, há uma beleza crua, mas imorredoura. 

Essa beleza nos dá a chance de reconstrução. De renascer das próprias cinzas, assim como a Fênix. Devemos nos lembrar sempre que é nos momentos de maior devastação que encontramos a verdadeira força interior. E é essa força que nos impulsiona a juntar os pedaços e criar algo novo, um corpo mais forte, algo que, embora marcado pelas cicatrizes do passado, brilha intensamente com uma resplandescência inabalável. 

Minhas amigas e leitoras assíduas da ‘Grande Família Cão que Fuma’ devem estar se perguntado "E como a Fênix renasceu das cinzas"? Bruxaria? Mágica? Entendam, caras amigas, que a Fênix era e continua sendo uma criatura mítica que simboliza renascimento e imortalidade. Segundo a lenda, quando a Fênix sente que a sua vida está chegando ao fim, ela constrói um ninho de ramos aromáticos e resinas, ao qual ateia fogo. Nessa hora, nem bombeiro consegue apagar... 

Na sequência, é consumida pelas chamas, ficando totalmente destruída. Vira pó. Cinza. Obviamente é uma metáfora poderosa para moldar a nossa capacidade de superar adversidades, ou dito de forma mais clara, um caminho para se soerguer com renovada força e determinação. Na mitologia egípcia, a fênix tinha outro nome. Se fazia conhecido como Bennu. Um pássaro sagrado associado ao deus do sol, Rá. Dizem os historiadores que o Bennu renascia de tempos em tempos, simbolizando o ciclo de morte e o renascimento do sol. 

A história desse pássaro, ou repetindo o já dito acima, o Bennu pode ter sido uma das primeiras inspirações para o mito da fênix. Na mitologia grega, a fênix, por sua vez, se fazia maviosa. Era um pássaro majestoso de penas vermelhas e douradas que vivia por cerca de 500 anos antes de ser consumida pelo fogo e tempos depois renascia das cinzas. Hesíodo, um poeta grego mencionou a fênix em suas obras, e a imagem da fênix foi usada para simbolizar a imortalidade e a ressurreição. 

Na cultura chinesa, há também um pássaro mitológico chamado Fenghuang, muitas vezes referido como a ‘fênix chinesa’. O Fenghuang, a bem da verdade, nada mais é que o símbolo de virtude, da graça e da prosperidade, e é por conta dessas proezas, frequentemente visto de mãos dadas (no sentido metafórico) retratado ao lado do dragão, representando a harmonia entre o yin e o yang. Diferentemente das fênices ocidentais, o Fenghuang não é descrito como uma criatura renascendo das cinzas. 

Na arte cristã primitiva, a fênix tinha outra finalidade. Se fazia usada como um símbolo padrão da ressurreição de Cristo e da vida eterna. Escritores cristãos como Clemente de Roma e Lactâncio, mencionaram a fênix em seus trabalhos, destacando a metáfora do renascimento e da renovação espiritual. Nesse tom, a figura da fênix continua a inspirar até hoje, aparecendo em diversas obras de ficção, literatura e cinema. 

Ela invoca e não só invoca, representa a ideia de que mesmo diante da maior destruição, existe a possibilidade de um novo começo, um início mais forte e consequentemente mais poderoso e indestrutível. Voltando ao Bennu, como ele entra em cena? Simples, amigas. O Bennu é uma figura mitológica da antiga religião egípcia. Ele é frequentemente associado ao deus do sol, Rá, e simboliza renascimento e regeneração. 

O Bennu, como disse acima, e agora voltando de novo em repeteco, é descrito como um pássaro, semelhante a uma garça, com plumagem resplandecente e penas brilhantes. Segundo a lenda, o Bennu vivia em uma árvore sagrada ou em um altar no templo de Rá, localizado em Heliópolis, uma antiga cidade egípcia dedicada ao culto do sol. O ciclo de vida do Bennu, segundo o livro ‘Aves mitológicas,’ do escritor Carlos Celso Fidalgo, Editora do autor, São Paulo, 68 páginas, 1ª edição 2009, se associava estreitamente ligado ao ciclo do sol, e acreditava que ele surgia no começo do tempo e renascia periodicamente. 

Em algumas versões do mito, o Bennu se incinerava e renascia das cinzas, voltava a existir de forma similar ao mito da fênix grega. Ele também era considerado uma manifestação do deus Osíris, o deus da vida após a morte e da ressurreição, reforçando ainda mais a sua estreita ligação com os temas de vida, morte e renascimento. O Bennu desempenhava um papel importante nos rituais e crenças funerárias dos egípcios, simbolizando a esperança de uma vida após a morte e a renovação eterna. A figura do Bennu, com seu ciclo perpétuo de renascimento, continua a ser uma poderosa representação de renovação na mitologia egípcia. 

Muitas vezes, quero novamente deixar registrado, a gente se sente destroçada. Inteiramente aos pedaços. Não se trata apenas de estar triste ou decepcionada, mas sobretudo se se ver e de se sentir possuída dos pés à cabeça, por uma sensação mais profunda, tipo uma fratura exposta na própria alma. Como se cada parte de nós, cada sonho e esperança, tivesse sido esmagado em mil pedaços, espalhados pelo vento impiedoso da vida cruel. 

Para onde quer que a gente olhe, não conseguimos ver nada além dos fragmentos dos nossos próprios anseios, refletindo um mundo frágil e quebradiço que parece totalmente estranho e distante. As memórias felizes agora são apenas sombras de alegria distorcidas pelo peso da dor imensa que implacável nos aniquila e nos deixa rés ao chão. Contudo, mesmo em meio aos destroços, há uma beleza crua, mas imorredoura. 

Essa beleza nos dá a chance de reconstrução. De renascer das próprias cinzas, assim como a Fênix. Devemos nos lembrar sempre que é nos momentos de maior devastação que encontramos a verdadeira força interior. E é essa força que nos impulsiona a juntar os pedaços e criar algo novo, um corpo mais forte, algo que, embora marcado pelas cicatrizes do passado, brilhe intensamente com uma resplandescência inabalável. Nós, em resumo, só carecemos de encontrar essa força. Agarra-la pelos cabelos. O resto, amadas é um segredo bem guardado que precisamos descobrir o seu verdadeiro valor.  Onde? Dentro de nós, em algum cantinho que deixamos esquecidos. 

Título e Texto: Carina Bratt, da Avenida Marques de São Vicente, Barra Funda, São Paulo, 9-2-2025 

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Um comentário:

  1. No final do seu texto, você escreve: "Essa beleza nos dá a chance de reconstrução. De renascer das próprias cinzas, assim como a Fênix. Devemos nos lembrar sempre que é nos momentos de maior devastação que encontramos a verdadeira força interior. E é essa força que nos impulsiona a juntar os pedaços e criar algo novo, um corpo mais forte, algo que, embora marcado pelas cicatrizes do passado, brilhe intensamente com uma resplandecência inabalável. Nós, em resumo, só carecemos de encontrar essa força. Agarra-la pelos cabelos. O resto, amadas é um segredo bem guardado que precisamos descobrir o seu verdadeiro valor'" Onde? Dentro de nós, em algum cantinho que deixamos esquecidos. A senhora ou senhorita, saaberia explicar onde? Demtro de nós, mas onde? Ando a caça desse cantinho. Se topar com ele, me avise. Seu fã.
    vinicius cellurale novaes, autor do livro Solo mãe
    editora Saber e Ler.
    contato
    editora EDITORA SABERELER.COM.BR
    www.editorasabereler.com.br
    forte abraço e parabéns pelo seu texto
    deveria publicar em livro

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