Carina Bratt
EM UM MUNDO hostil como o nosso, repleto de luz e sombras, desgraças e infortúnios uma atrás da outra, se pararmos para pensar, e olharmos ao nosso redor, ficaremos estarrecidas. Pasmas e boquiabertas. Existem almas (quando falo em almas, faço referência a pessoas) que percorrem o caminho das dores, sentindo cada espinho da jornada. Essas almas são como estrelas que, em vez de brilharem intensamente no céu (neste que todo dia vemos lá no infinito), se escondem nas profundezas da escuridão, lutando para encontrarem uma fagulha de esperança. Uma esperança que não chega.
O sofrimento que carregam é silencioso, melancólico, porém, apesar de desruidoso, se faz e se apresenta imensamente profundo. É uma dor que não se vê, mas que se sente em cada batida do coração e em cada suspiro de cansaço. São almas carentes, precisadas, necessitadas, que enfrentam tempestades internas, onde os relâmpagos são memórias dolorosas e os trovões retumbam ecos de suas próprias incertezas. Essas almas, muitas vezes se encontram à margem da sociedade (da nossa), não porque desejam, mas pelo fato de serem incompreendidas e relegadas a segundo plano.
Seus olhos carregam histórias antigas, que não podem ser contadas em palavras, e seus sorrisos deformados, emanam sombras desajeitadas e distorcidas de uma alegria que um dia conheceram. No entanto, há uma força inerente e contrária nessas almas que padecem. É a persistência imorredoura de continuar, mesmo quando a estrada longa e incerta parece interminável. E, de fato, é. É também, em paralelo, a esperança de que, em algum lugar, exista um porto seguro, um lugar onde possam ser acolhidas e compreendidas. É a fé de que cada dor tem um propósito, cada lágrima, um aprendizado.
O sofrimento, embora cruel e avinagrado, truculento e carniceiro, implacável e sanguinário também é um mestre. Um mestre?! Como assim? No ‘Livro da Esperança’, de Francisco Candido Xavier, em palavras psicografadas pelo espírito de Emmanuel, se faz claro e ‘cristalinizado’ que ‘o sofrimento molda o caráter, fortalece e engrandece o espírito e mais que centuplicar, ensina a importância da compaixão e do amor ao próximo. As almas que sofrem, apesar de suas cicatrizes, possuem uma sabedoria própria, única, indiscutível, que só aqueles que enfrentaram a escuridão podem alcançar’’.
Nós, seres vivos, que estamos de fora desse trilhar sem luz, sem volta, sem retorno, sem um norte certo, que possamos olhar com mais acuidade e atenção para essas almas, oferecendo a elas, não apenas a nossa simpatia, ou a nossa empatia, desde que efetivamente se faça genuína. Obsequiar pela metade, é a mesma coisa que chover no molhado. As almas que passam pelo sofrimento enfrentam uma jornada singular, terrível, insana, onde cada passo é uma lição, e cada desafio uma oportunidade de crescimento. O sofrimento não é apenas um estado de flagelo, também um desvão para a descoberta interior e para o fortalecimento do espírito.
O Padre Alex Nogueira (em seu blogue ‘Deus Caritas Est,’ contatos via redes sociais pelo https://www.padrealexnogueira.com/) leciona que ‘No silêncio da noite, quando a escuridão parece mais densa, essas almas que sofrem encontram momentos de reflexão profunda. É nessas horas que a dor se transforma em introspecção, e as perguntas mais difíceis emergem: “Por que estou aqui? Qual é o propósito desta dor? O que posso aprender com isso?"’’. Essas questões são como lanternas que iluminam os cantos mais escondidos da alma, revelando verdades que, de outra forma, permaneceriam ocultas.
Amigas e amigos da ‘Grande Família Cão que Fuma’, no próximo domingo, se me permitirem, falarei um pouco mais dos moradores de rua, ou seja, de uma multidão infindável de almas em sofrimento eterno (almas vivas, não mortas). Seres humanos como nós, que a cada novo dia aumentam assustadoramente no fluxo das nossas ruas, avenidas e praças, não só da nossa cidade, vergonhosamente em todo o país. E o mais afrontoso e cruel. Ou o mais torpe e ignóbil. Entra governo, renovam se os políticos sujos, pulam fora os ladrões de nossos bolsos de algibeiras empanturradas de grana, se inovam e se maquiam as fuças sorridentes, de (risos falsos) e etc., etc., e tal, que em final de suas roubalheiras, igualmente sumirão do mapa de rabos abarrotados. NINGUÉM, se ‘toca’, em pelo menos para minimizar tais sofrimentos que a cada dia batem em nossos rostos em safanões doloridos e invariavelmente profundos.
Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, 5-12-2025
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