sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Papel do cliente


Erich Fromm

A insignificância do indivíduo na nossa época diz respeito não só ao seu papel como empresário, empregado ou trabalhador manual, mas também ao seu papel enquanto cliente. Nas últimas décadas, ocorreu uma mudança drástica no papel do cliente

O cliente que ia a uma loja de retalho detida por um empresário independente tinha a certeza de que receberia uma atenção especial: a sua compra individual era importante para o dono da loja; era recebido como alguém que importava, os seus desejos eram estudados; o próprio ato de comprar dava-lhe um sentimento de importância e dignidade.

Muito diferente é a relação de um cliente com uma grande superfície comercial. Fica impressionado com a vastidão do edifício, com o número de empregados, com a profusão de produtos em exibição; tudo isto fá-lo sentir-se relativamente pequeno e pouco importante.

Como indivíduo, não tem importância para a grande superfície comercial. É importante como “um” cliente; a loja não quer perdê-lo, pois isto indicaria que alguma coisa estava errada e poderia significar que a loja perderia outros cliente pela mesma razão.

Enquanto cliente abstrato, é importante; como cliente concreto, é absolutamente sem importância. Ninguém fica contente com a sua vinda, ninguém se preocupa particularmente com os seus desejos.
O ato de comprar tornou-se semelhante ao de ir aos correios comprar selos.

Texto: Erich Fromm, in “Medo da Liberdade”, Edições 70, Capítulo III – A liberdade na era da Reforma, página 135.
Digitação: JP, 31-1-2025

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