terça-feira, 14 de janeiro de 2025

[Aparecido rasga o verbo] O mistério do “Amigo Oculto”

Aparecido Raimundo de Souza

O NATAL sempre foi e continuará sendo, indubitavelmente sinônimo de celebração, família e, claro, tempo de “amigo oculto.” Todos os anos, no mês de dezembro, o escritório da redação de uma das revistas para a qual escrevo, se transforma em um verdadeiro campo de mistério e expectativas. Os nomes são sorteados, os presentes comprados e as especulações correm soltas pelas salas, banheiros recepção e corredores. 

Foi nesse clima que se deu o nosso último “amigo oculto.” Coube à Carina, minha secretária, escolher um restaurante próximo da torre onde fica o centro nevrálgico da redação, que o magnânimo evento aconteceria. Sem sombra de dúvidas, um lugar aconchegante, com luzes espalhadas por todos os cantos e uma árvore decorada no centro. Todos estavam ansiosos, especialmente eu, pois, este ano de dois mil e vinte e quatro, resolvi me arriscar e comprar algo completamente inusitado para a minha “amiga oculta.” 

Chegamos ao restaurante e, aos poucos, os presentes começaram a se amontoar embaixo da árvore. Os sorrisos, olhares cúmplices e cochichos tornavam o ambiente ainda mais agasalhador e misterioso. Quando chegou a minha vez de entregar o presente, caminhei com passos calculados até a árvore e peguei o pacote com um laço de fita de cor amarela. Era para a Beatriz, a garota que cuida da cozinha, que faz o café e prepara as nossas refeições e lanches. Ela se fazia a mais séria de todos nós. 

Beatriz me olhou com curiosidade e um sorriso tímido nos lábios bem torneados. Ela desembrulhou o pacote vagarosamente com calma e cuidado e, ao ver o que havia dentro, a sua expressão foi de total surpresa. Eu havia lhe dado um quebra-cabeça de mil peças, retratando a famosa escritora, Agatha Christie. Ficara sabendo que ela tinha quase todos os livros dessa autora. A minha ideia. Tirá-la de sua zona de conforto, em face de algo que a bela moçoila dos cabelos compridos nunca esperaria. 

A reação de Beatriz foi inesperada. Ele começou a rir e a chorar, não uma gargalhada de deboche, ou lágrimas de tristeza, e sim de pura gratidão: "Obrigada” –, disse ela, me abraçando: – "Há muito tempo não monto um quebra-cabeça. Vai ser um ótimo passatempo." O resto da noite, até a hora de irmos embora, o ambiente seguiu com regozijos de muitas satisfações e histórias. Os presentes, variando entre brincos, roupas e canecas personalizadas, culminando com romances de autores famosos, mostravam o quanto cada um conhecia o seu amigo oculto. 

O que realmente marcou aquela minha amiga tão simplória que segue cuidando do nosso almoço e do nosso lanche da tarde, foi perceber que, às vezes, o verdadeiro presente está na surpresa e no carinho com que escolhemos algo para presentear alguém. No final, altas horas, todos fomos embora com nossos presentes, mas também com um novo mistério a ser desvendado para o próximo ano: quem seria o meu amigo, ou a minha amiga oculta da vez? 

Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha, no Espírito Santo, 14-1-2025

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