Walter Biancardine
Só nos saímos vitoriosos se combatemos algo que podemos substituir. O grande malefício de mentes como a de Karl Marx ou Auguste Comte foi criar o que chamamos de “ideologia”, que combateu e venceu, substituindo, a nossa “vida que sempre tivemos”.
Eles tinham algo a oferecer,
ainda que fosse um sonho mentiroso e maquiado para esconder as perversidades
embutidas. Nos acenaram com um novo mundo, toda uma nova geração repleta de
paz, amor, justiça, compaixão com os pobres e uma liberdade de sonhos enquanto
nós, “retrógrados reacionários”, nos agarrávamos à “vida que sempre tivemos”.
Agora que conhecemos o engodo,
que percebemos se tratar apenas de mera vigarice para a imposição de ditaduras
opressoras, como combatê-la? O que temos para oferecer, em seu lugar? Apenas “a
vida que sempre tivemos”?
Sim, e deveria ser o
suficiente – mas a psique humana não a aceita. A recusa deve-se ao fato de não
possuir uma “embalagem” palpável, com promessas e sonhos futuros, um
messianismo ideológico a empolgar multidões – não há como oferecer sonhos
vindouros vivendo “a vida que sempre tivemos”, tal proposta cheira a
mediocridade e conformismo.
Este é o grande dilema e fator de dificuldade do conservadorismo: não ser uma ideologia, por mais que o grande filósofo brasileiro Olavo de Carvalho e outros assim o considerem. Se nada oferece, nada promete, não a será.
Pior: inúmeras gerações foram
criadas no caldo de cultura ideológico – revolucionário, e tais formações de
pensamento não serão apagadas pela simples substituição de uma conjuntura
política por outra, elas persistirão e serão transmitidas às gerações vindouras
por um prazo incalculável. Trocar conjunturas políticas não é a garantia de
trocar pensamentos.
É fácil concluir que a criação
das ideologias decretou o fim da sociedade humana, pelos demônios que despertou
e por oferecer promessas que a obstinação em “viver como sempre” jamais trará.
Homens como Karl Marx e
Auguste Comte prestaram-se ao papel de verdadeiros “emissários do diabo”, ao
plantarem as sementes da destruição do convívio humano saudável.
Havemos de aguardar o
surgimento de um filósofo que formate o conservadorismo aos moldes de uma
ideologia, oferecendo vantagens e promessas como
as demais – e que me perdoem os puristas mas, sem uma boa embalagem, não
chegaremos a lugar algum – para que tentemos uma cura.
Olavo de Carvalho, prudente,
jamais aceitou tal tarefa.
Título, Imagem e Texto: Walter Biancardine, ContraCultura, 14-1-2025
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