domingo, 15 de dezembro de 2024

[As danações de Carina] Sob a sombra de centenárias árvores o silêncio tardio se levantou

Carina Bratt 

SOB A SOMBRA gostosa e benfazeja de antigas árvores frondosas, existentes lá no ‘Sitio Shangri-Lá,’ onde os galhos centenários tecem cautelosamente um grande emaranhado de fios (como se estivessem soltos), me deparei com um dossel de sabedoria e mistério me fazendo acreditar que o silêncio tardio se levantava todas as manhãs. Era um silêncio diferente, obeso, denso e teimoso, como o peso das eras — e, ao mesmo tempo —, leve livre e solto abrilhantando todo o envolvente como o sussurro das folhas caídas. Essas árvores se fizeram testemunhas de incontáveis amanheceres e crepúsculos, uma vez que guardam em suas mais profundas raízes segredos que nunca vieram à tona, como igualmente, em cada anel de crescimento, criaram vidas próprias, ou seja, escreveram histórias que se desdobraram na quietude mansa e pacífica das suas sombras. 

Quadro: Gustave Caillebotte

O chão se estendia a se perder de vista, coberto de musgos ao tempo em que as folhas secas amorteciam cada passo me convidando à reflexão. Longe do burburinho da Borges de Medeiros, apesar da auspiciosa Lagoa Rodrigo de Freitas, a vida moderna, do corre-corre, das motos barulhentas, das buzinas de carros e ônibus disputando espaços mínimos, numa espécie de loucura anunciada, o tempo parecia desacelerar, e cada segundo ganhava uma nova profundidade, por assim, me vi completamente perdida. Ou melhor, achada. O som suave do vento, filtrado pelas folhas caídas, criava uma melodia serena que ecoava numa entonação coadunada com a harmonia da natureza. Sob essas árvores, em meio ao silêncio que se levantava, encontrei um lugar de introspecção e paz.  Uma espécie de lembrete do poder da natureza e da tranquilidade que ela podia oferecer. 

Dito de forma mais evolvente. Uma abertura de convite raro, para eu me reconectar com o essencial, também para ouvir as proezas que a Terra e as outras plantações existentes tinham a bailar, e principalmente, para permitir que o silêncio do vazio penetrasse profundamente na alma. Também, sob aqueles antigos troncos, que as histórias que se desdobravam se faziam tão variadas quanto os ciclos das estações. Poderia ouvir, e ouvi, por exemplo, sobre as primeiras tribos que habitaram esta região, utilizando as árvores como pontos de encontros e cerimônias, onde os xamãs invocavam os espíritos da floresta. Cada árvore, por assim dizer, poderia, ainda agora, contar sobre os animais que abrigou em seus troncos e galhos, ou narrar as peripécias das aves que fizeram ninhos terminando nos insetos que procuravam refúgios em suas cascas. 

Essas árvores também poderiam trazer à luz, as histórias de amores secretos, promessas feitas sob os mantos das noites, entrelaçadas nos silêncios murmurantes dos bosques. Os sussurros das folhas narrariam, igualmente, as aventuras de exploradores e cientistas que vieram em nome de novas descobertas, colecionando amostras e deixando as suas pegadas efêmeras no útero do solo macio. Além disso, as árvores mais envelhecidas, as de raízes brancas que por lá residem, contariam as peripécias de sobrevivência dos tempos das secas e tempestades que enfrentaram, e como, juntas, renasceram sem temerem as adversidades. Cada cicatriz em suas entranhas, seria um capítulo de superação, uma prova robusta e cabal da passagem do tempo inexorável e da força da natureza. 

As histórias seriam sempre de contemplação e transformação pessoal, de indivíduos que deram frontalmente com a sabedoria e a paz ao descansar sob as suas copas, levando consigo lições que moldaram as suas vidas. Sob as sombras dessas árvores, a conexão com o passado e o presente se perpetuaria, criando uma espécie de mosaico rico e inspirador. Entre mortos e feridos, o que seria exatamente o ‘essencial?’. O essencial poderia variar para cada pessoa, mas, de forma geral, referenciaria ao que é fundamental e realmente importante na vida, despido de superficialidades e distrações. No sítio me deparei ainda com algumas ideias que entendo ser essencial para a Natureza. Conexão com a Terra. Se sentir totalmente como parte do ambiente natural, entender e respeitar o ciclo da vida e a interdependência entre todas as formas de plenitude da vida. 

Simplicidade. Valorizar a beleza e a serenidade da natureza sem a necessidade de artifícios ou luxos. Ou o essencial no Indivíduo. Autenticidade. Ser verdadeiro consigo mesmo, seguindo os próprios valores e crenças. Saúde Mental e Física. Priorizar o bem-estar físico, mental e emocional. Gratidão e Paz Interior. Cultivar a gratidão pelas pequenas coisas e encontrar serenidade mesmo em meio às adversidades. Essencial nas Relações. Amor e Amizade. Construir e nutrir relacionamentos genuínos e significativos. Empatia e Compreensão. Praticar a empatia e se esforçar para compreender os outros profundamente. Teria, ainda o essencial na vida, ou o propósito e sentido. Ter um vínculo de propósito, é algo que inspira e motive. Sem falar no Aprendizado e Crescimento. Continuar aprendendo e crescendo ao longo da vida, abraçando novas experiências e desafios. 

Sob a sombra dessas árvores antigas, o essencial é o que traz a verdadeira satisfação e o significado mais envolvente da vida, o que aliás, diga de passagem, permanece quando tudo o mais é despojado. Apesar de tudo o que acima disse, ainda resta uma dúvida. O que exatamente seria trazido ou resgatado com a conexão do passado? A conexão com o passado poderia trazer e resgatar muitos elementos valiosos e significativos. Elencarei alguns exemplos que considero fundamentais. Identidade e Herança. Cultura e Tradições. Ao nos conectarmos com o ontem, trazemos aspectos culturais e tradições que moldaram a nossa identidade. Isso pode incluir celebrações, costumes, arte, música e culinária, fatores preponderantes que nos darão um sentido de pertencimento e continuidade. 

Sabedoria e Conhecimento. Lições aprendidas. O passado está repletado de lições de vida, seja através de histórias familiares, eventos históricos ou experiências pessoais. Aprender com os erros e acertos de quem veio antes de nós pode guiar nossas decisões e ações. Valores e Princípios. Ética e Moralidade. Muitos valores e princípios que seguimos hoje foram moldados por gerações anteriores. Conectar com o passado nos ajudará a entender e valorizar esses fundamentos morais, fortificando nossa orientação ética. Conexão Familiar. Histórias de Família. Bailar a história da nossa linhagem poderia robustecer laços entre gerações e nos dar um profundo senso de raiz e conexão. Saber de onde viemos pode iluminar quem somos e para onde estamos indo. 

Não devemos nos esquecer da Inspiração. Exemplos de Superação. Histórias de superação de dificuldades por parte de nossos antepassados podem ser uma fonte poderosa de inspiração e vulnerabilidade. Essas narrativas nos lembrariam que desafios careceriam de ser enfrentados e superados. Continuidade e Evolução. Evolução Pessoal e Coletiva. Ver como as ideias, tecnologias e sociedades evoluíram ao longo do tempo nos daria perspectiva sobre o progresso e nos ajudaria a valorizar a inovação e a mudança. Autoconhecimento. Reflexão e Crescimento. A reflexão sobre o passado nos ofereceria a oportunidade de compreender melhor nossos próprios caminhos e escolhas, promovendo o crescimento pessoal e a introspecção. 

Quando a gente se conecta com o passado é como explorar um vasto arquivo de experiências humanas, até a boca de sabedoria, histórias e lições que poderiam engalanar a nossa vida presente e guiar nossas sendas para um futuro mais promissor. E o que seria, em resumo, o essencial para uma vida plena? Uma vida plena, se constrói sobre alguns pilares imprescindíveis. Bem-Estar Pessoal; Saúde; manter uma boa saúde física e mental é fundamental para aproveitar a vida plenamente. Equilíbrio. Encontrar uma proporção entre trabalho, lazer, e descanso é vital para a harmonia pessoal. Relacionamentos significativos. Amor e Amizade. Cultivar relações genuínas e significativas ofereceria apoio emocional e um sentido de pertencimento. Empatia. Praticar a empatia e o entendimento em todas as interações. 

Na sequência, viria o propósito e o significado. Propósito. Ter um esquema claro e objetivos que inspirem e motivem. Contribuição. Sentir que se está contribuindo positivamente para a vida dos outros e para a sociedade. Crescimento e Aprendizado. Autoconhecimento. Buscar o autoconhecimento e a autorrealização. Aprendizado Contínuo. Estar sempre aprendendo e se desenvolvendo, abraçando novas experiências e desafios. Gratidão e Paz Interior. Gratidão. Engrandecer a gratidão pelas pequenas e grandes coisas da vida. Paz Interior. Encontrar e manter um estado de paz interior, independente das circunstâncias externas. Esses elementos juntos, de mãos dadas, todos irmanados num mesmo foco, ajudariam a criar uma vida rica e significativa, onde se encontraria facilmente a alegria e a satisfação nas jornadas cansativas e estafantes do dia a dia 

Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 15-12-2024 

Anteriores: 
No espelho do meu quarto... a ‘re-descoberta’ de ser feliz 
Existe uma saudade imensa chorando dentro de meu coração. O que fazer?! 
A terrível saga das baratas e a famosa lata de inseticida (Parte 2 – Final) 
[As danações de Carina] A terrível saga das baratas e a famosa lata de Inseticida 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-