Henrique Pereira dos Santos
Eu sei que não faz muito
sentido fazer comentários ao que escreve Luísa Semedo, uma tripla vítima da
sociedade (por ser mulher, mulata e bissexual), professora de filosofia e cuja
clareza de ideias pode ser avaliada facilmente por isto: "Este tipo de
dominação cobarde, violenta e criminosa sobre os corpos das mulheres é
semelhante à dominação colonial. Um poder que domina mentes e corpos,
enfraquecendo-os previamente através da criação de relações de dependência
vital, maus tratos, aprisionamento, trabalho forçado, violações e outros atos
de violência extrema, sempre num desequilíbrio absoluto de forças".
Por si só, esta confusão
mental entre violações continuadas ao longo de anos sobre a mesma mulher
drogada e a dominação colonial não me faria fazer um comentário, apesar do que
isto significa de suavização da violência absurda a que foi sujeita Gisèle
Pelicot.
"ao acompanhar ... o caso
de dezenas de homens que violaram uma mulher em França e a rusga que humilhou
dezenas de emigrantes em Portugal, não pude deixar de refletir sobre as
semelhanças entre ambos".
Não, não se trata de uma
tontinha que não tem noção do que está a dizer, tanto tem noção que
imediatamente ensaia um arremedo de justificação para a barbaridade do que se
está a escrever "Apesar de serem situações consubstancialmente distintas,
ambas revelam uma perturbante continuidade nas dinâmicas de poder e na
domesticação dos corpos".
Por que razão uma pessoa que branqueia alarvemente a violação de uma mulher, repetida vezes sem fim ("violações e outros atos de violência extrema", escrever-se-á mais à frente, numa demonstração de que se tem perfeita noção de que a violação, repetida ao longo de anos, daquela mulher em concreto é de uma violência inacreditável e excepcional), pode escrever num jornal de esquerda caviar o que escreveu neste caso, sem que se ouça um murmúrio de indignação?
Aparentemente, porque na
verdade o mais relevante para esta esquerda sem princípios nem vergonha, o
essencial, é apresentar uma rusga policial, acompanhada pelo ministério
público, em que as pessoas são encostadas a uma parede, revistadas e mandadas
seguir, como sendo uma ação de violência inaudita "uma domesticação dos
corpos" na formulação ridícula escolhida para garantir o efeito retórico
pretendido, sem o menor pudor em usar uma situação como a de Gisèle Pelicot
como paralelismo.
Pedro Adão e Silva, por
exemplo, tem mais juízo, mas não tem dúvidas em classificar o que se passou
como uma "operação policial assente em violência gratuita", razão
pela qual lhe dá jeito que haja maluquinhos que fazem paralelismos que ajudem a
fixar a ideia de que uma operação policial da qual não resulta uma única
escoriação, um único insulto reportado, uma única queixa por parte de qualquer
vítima, é uma operação policial assente em violência gratuita.
Depois queixem-se de que os
eleitores, percebendo que "todas as palavras estão gastas", concluam
o mesmo que o Eugénio: "Adeus".
Título e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
27-12-2024
Diferente, porém, igual
Alienígenas? Não quero mais imigrantes no meu país
Giorgia Meloni e a "revolução do presépio".
Só déspotas argumentam que liberdade faz mal para a sociedade
The perpetrator of the Christmas market attack in Magdeburg, Germany, is a fugitive from Saudi Arabia
Carros malvados
Um estulto bispo, nada católico
Jornalistas da CNN libertam um infame carrasco de Assad, a pensar que ele era um dissidente do regime😃😃
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-