domingo, 22 de dezembro de 2024

[As danações de Carina] Sobre mágoas, luto e solidão, um pouquinho de cada coisa

Carina Bratt 

AS MÁGOAS PODEM SER e na verdade são, difíceis de se lidar. Elas costumam se acumular quando sentimos que fomos injustiçadas ou que as nossas expectativas não se fizeram atendidas como gostaríamos. Uma forma que descobri para começar a trabalhar com estes sentimentos trazidos por elas, foi reconhecer e aceitar a desgranhenta e suas enfermidades, sem me julgar impotente por senti-las dentro de mim. 

Passei a escrever sobre meus reveses e esta válvula de escape está me ajudando. Muitas vezes, colocar nossos pensamentos no papel podem trazer clareza e aliviar o peso desses males perturbadores. Conversar com alguém de confiança, compartilhar as nossas preocupações com uma pessoa querida ou amiga, proporciona apoio emocional e nos direciona para novos pontos de vista. 

Passei a praticar a empatia e o Perdão. Tento entender as perspectivas das outras pessoas e isto tem me ajudado, sobremaneira a suavizar os sentimentos negativos e abrir espaços para o Perdão, que aliás, pode ser libertador. Procurei me adequar ao autocuidado. Reservei um tempo para atividades que gosto de pôr em prática e que me fazem um bem danado. 

Estas intervenções estão me conduzindo a renovar as minhas energias e aliviar as tensões emocionais que pleiteiam me dominar e me tirar do foco. Não conseguem. Cada pessoa deve encontrar as suas próprias formas de lidar com as mágoas. O importante é dar a nós mesmas tempo e espaço necessários para nos cicatrizarmos de uma vez para sempre dessas pragas que se acham dominadoras. Não são. 

Outra coisinha chata que me tira do sério. A solidão. A solidão pode ser uma sensação muito difícil de lidar. Estar longe dos entes queridos, por exemplo, pode aumentar esse sentimento de forma avassaladora. Em se tratando de parentes (no meu caso, a minha mãe) procuro me posicionar perto dela virtualmente, em face das minhas constantes ‘fugidas’ de casa para fora do Estado onde moro. 

Mesmo apartada, aprendi e tento aceitar que a tecnologia está me mostrando novas tendências. Faço chamadas de vídeo e envio mensagens regularmente para a autora dos meus dias, e acreditem, tais saídas vêm me ajudando a manter o vínculo e não deixar que ele se rompa. Passei a explorar novos objetivos. Me dediquei a um, em especial e ele está me trazendo distrações e alegrias. 

Acreditem, amigas e amigos, pequenas coisas insignificantes podem ser e são importantes como algo que sempre quisemos aprender e por algum motivo, deixamos para depois. No meu caso, para ficar conectada comigo mesma, toco um instrumento (tenho um piano aqui na minha sala). De repente, largo do piano e corro para o meu escritório e escrevo uma crônica nova, ou pinto um quadro, ou desenho. 

Pela manhã, quando não quero descer até a padaria e o restaurante (ambos logo aqui perto), me enfurno na cozinha e dou um trato no meu dejejum. O mesmo caminho para a hora do almoço. Mãos na maça, faço receitas novas (de um livro que a ‘Mami’ me deu) e em outras oportunidades ociosas, perco um bom tempo cuidando do jardim da minha varanda e do jardim da varanda do Aparecido. 

Mágoas e solidão, são como sombras difusas e confusas. Fantasmas errantes que teimam voltar, tipo essas obstruções sádicas que se instalam em nossos corações, se tornando, contra a nossa vontade, em companheiras silenciosas e persistentes. Inconvenientes que surgem num abrir e piscar de um momento de bobeira, ou de desilusões, perdas e expectativas não atendidas. Nesses instantes, redobro os cuidados. Podem nos levar a um estado de profundo exílio. 

Entre tapas e beijos, quando me sinto sozinha, ou deixada de lado, à deriva do silêncio, parece que o mundo ao meu redor se fecha e me isola ainda mais. No entanto, é possível encontrar formas hercúleas para lidar ferrenhamente com esses sentimentos peçonhentos e, eventualmente, superá-los. Ao confrontar minhas mágoas e resquícios de solidão, reconheço a dor que carrego. E em seguida, mando nas intrusas um tremendo pé na bunda. 

Este é o primeiro passo para a cura. Pé na bunda. O segundo. Escrever sobre as minhas mazelas, compartilhar com pessoas de confiança e buscar compreensão podem trazer alívio. E trazem. A prática do Perdão igualmente desempenha um papel crucial me permitindo libertar o mais profundo do meu ‘ser’ das garras do ressentimento. Em momentos de solidão (vai de retro), é de bom alvitre ter em mente, que a conexão humana, embora ausente fisicamente, pode e deve ser cultivada de outras maneiras. 

A tecnologia permite que mantenhamos contato com entes queridos distantes, e novas atividades e sugestões podem nos proporcionar distrações e alegrias. Participar de grupos de pessoas amigas (amigas, não chatas de galocha, que isso fique claro) ou ler um bom romance. Ouvir músicas não barulhentas, ou assistir um filme de amor, são formas eficazes de criar novos laços e reencontrar um sentido de pertencimento. Mesma tática pode e deve ser usada para essa tranqueira do luto. 

O luto aparece geralmente pela perda de um ente querido, como meu ‘papito’, que já se foi.  O seu ‘não estar aqui,’ intensifica ainda mais a sensação de mágoa, solidão e luto. Nesses momentos, cuidar de nós mesmas e procurar apoio são fatores essenciais. Permito me sentir livre, leve e solta, mantendo as lembranças vivas e buscando ajuda em algumas coisas que me distraiam. 

Enfim, esses são passos importantes nas sendas da total recuperação. A superação das mágoas, do luto e da solidão, não é um processo linear, e cada pessoa encontra o seu próprio meio de escape. O importante é continuar garimpando a pérola preciosa na busca da cura, mantendo a esperança e a força de vontade num patamar que não deixe dúvidas. 

Voltando as mágoas, elas também podem ser (e na verdade são) sentimentos que se alojam em nosso íntimo, frutos de desilusões, injustiças e expectativas frustradas. Carregamos essas feridas na alma e elas podem nos acompanhar por muito tempo, afetando nosso bem-estar e nossas relações. Nesse tom, sentir mágoa é natural, pois todos nós, em algum momento da vida, enfrentamos situações que nos causam dores. No entanto, é importante não deixarmos que esses sentimentos daninhos se tornem permanentes. Eles podem nos impedir de seguir em frente e encontrar a verdadeira PAZ INTERIOR. 

Meus amigos, amigas leitores e leitoras da ‘Grande Família Cão que Fuma.’ De coração aberto, quero que fiquem bem. Feliz Natal. Até domingo que vem. 

Título e texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro,22-12-2024 


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