Afonso Belisário
O acordo extrajudicial de 16 milhões de dólares entre a ABC e o queixoso Donald Trump representa um castigo bem merecido por anos de desonestidade descarada e impenitente por parte dos meios de comunicação social corporativos.
Mesmo aqueles que se apercebem
da deliberada e continuada estratégia de enganos perpetrada pela indústria
tendem a não reconhecer a sua extensão. Muitas vezes, descrevem o fenómeno como
uma questão de reportagem seletiva, em vez da flagrante propagação de mentiras diretas.
Essa explicação argumenta que a imprensa não vomita falsidades, apenas escolhe
os factos que se adequam à sua agenda e omite os que não se adequam.
Isto não é verdade, de todo.
A publicação que gentilmente
abriga a opinião deste humilde escriba tem documentado consistentemente
a lógica fraudulenta da imprensa corporativa na esfera ocidental, mas para
amparar esta crônica enumero uns poucos exemplos específicos da realidade
norte-americana.
No Verão de 2020, os meios de
comunicação social insistiram que os protestos Black Lives Matter eram
pacíficos por natureza, apesar do caos que criaram em todo o país. A CNN
forneceu o caso mais famoso do encobrimento, colocando um
oráculo onde se lia “PROTESTOS GERALMENTE PACÍFICOS APÓS TIROTEIO DA POLÍCIA”
sobre um plano em que o seu aterrorizado repórter figurava num cenário de
destruição incendiária.
Durante a pandemia COVID-19, os americanos receberam garantias constantes da imprensa de que as novas vacinas impediam a transmissão do vírus e eram definitivamente, inequivocamente, sem sombra de dúvida, “seguras e eficazes”. Essa proclamação nunca fez sentido. Como é que alguém podia saber com certeza quais eram os efeitos a curto ou longo prazo das vacinas? Não podiam. As terapias genéticas eram novas e experimentais. E falharam em impedir a transmissão da gripe chinesa tanto como em serem seguras, como hoje sabemos.
Naturalmente, quando as
pessoas vacinadas começaram a apresentar resultados positivos para o vírus
contra o qual estavam supostamente protegidas, os meios de comunicação social
foram notoriamente parcos em desculpas. E mantiveram-se em silêncio quando Anthony
Fauci admitiu que
não podia “dizer com confiança que as vacinas podem prevenir a transmissão”.
Em 2022, o mundo ficou chocado
com as explosões do gasoduto Nord Stream. A destruição destas enormes infraestruturas
teve sérias implicações econômicas, cortando uma das formas mais convenientes
dos russos exportarem os seus bens energéticos e afetando a sua economia.
Apesar disso, a imprensa americana rapidamente assumiu que
os russos eram os prováveis autores do atentado. É claro que nenhum país iria
fazer explodir o seu próprio oleoduto, seria uma das decisões mais estúpidas da
história dos combustíveis fósseis. Mas o Kremlin, insinuaram, é assim
diabólico.
É agora claro que o regime
Zelensky, com a possível ajuda da
administração Biden, terá sido responsável pelo desastre. Mas não vamos ouvir
falar muito sobre isso na MSNBC.
E quem poderia esquecer que a
imprensa americana noticiou que
Donald Trump apelou à violência política quando previu que a indústria
automóvel do país enfrentaria um banho de sangue se ele perdesse as eleições,
ou quando disse que
Liz Cheney seria provavelmente menos entusiasta da guerra se ela própria
tivesse a experiência de trincheira? A vitória de Trump torna essas mentiras
hilariantes, mas se ele tivesse perdido, seriam recordadas como ataques
prejudiciais e evidentes à democracia.
É claro que podíamos enumerar milhares de exemplos mais, mas nem vale a pena. O que vale a pena é sublinhar que os meios de comunicação social convencionais nunca enfrentaram uma punição tangível por essas mentiras, até aqui. A falência das suas audiências e este castigo de 16 milhões de dólares que a ABC vai pagar ao Presidente Eleito por ter dito repetidamente que ele foi considerado “responsável por violação” são sinais de que as coisas estão a mudar e que o crime tem afinal o seu justo castigo.
A desonestidade só pode
prosperar durante algum tempo. Porque a verdade tem esta teimosa característica
de emergir invariavelmente sobre o ruído do mundo.
Título e Texto: Afonso Belisário, Oficial fuzileiro (RD), Polemista, Português de Sagres, ContraCultura, 18-12-2024
Inside Disney’s Decision to Settle a Trump Defamation Suit
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