Carina Bratt
A GUIA DE TURISMO e monitora está com uma turma de estudantes chegada do interior de Cacetés, em Pernanlalubuco. Ao todo, vinte e cinco alunos entre 12 e 15 anos que, pela primeira vez vêm em visita à cidade de São Paulo, ou mais precisamente em São Berranardo do Cansanto, região do Grande A... B... C... D... E... F... G... H... I... J... K... ... M... N. Deslumbrados, os jovens espiam ávidos pelas janelas panorâmicas do ônibus de viagem fretado especialmente para o evento.
À medida em que as avenidas vão passando, a guia turística e monitora mostra os lugares importantes, ao tempo em que relata a importância deles no cenário cultural da cidade:
— Agora, se olharem para o lado esquerdo, verão o famoso Palácio das Artes. Neste local, vários seguimentos dela se encontram à disposição para serem vistos e agraciados pelo público, notadamente para os estudantes, como vocês, no sentido de formarem maior conhecimento e, logicamente, tornarem mais popular os trabalhos dos profissionais que o realizaram.
A formosa guia turística e monitora segue explanando os roteiros. Toma um gole de água da sua garrafinha cor de rosa e continua:
— São pintores, cantores, músicos, poetas, contadores de histórias, ‘puxadores de sacos,’ cineastas, enfim... a ideia dessa galera é mostrar, ou melhor, sincronizar seus talentos, com os olhos dos que amam a arte e vivenciam seus sonhos e desejos, tornando os reais e palpáveis. Ainda do mesmo lado, o novo espaço onde será construída a futura cidade olímpica para os jogos dos deficientes em geral...
Repete a água e conclui:
— Aí compreendido, os cadeirantes, os sem braços, os pernetas, os de um olho só, enfim... ficará pronta em 2028 se o próximo prefeito não meter as mãos na grana em proveito próprio.
— Jogos olímpicos, senhorita?
— Exatamente, Eustáquio.
— E ali, o que é? – Indagou uma menina de tranças sentada no banco logo atrás do motorista. Parece uma nave espacial enorme...
— Boa observação. Ali, Mariana é o famoso “Zicão”, com capacidade para 30 mil pessoas sentadas e outras tantas em pé.
— Por que Zicão? — meteu o bedelho na conversa o Leporace. — Quem foi esse cara?
— Vou explicar meu jovem Leporace. Zicão é o apelido do carioca Arthur Antunes Coimbra, ex-futebolista e ex-dirigente brasileiro que atuava como meia...
— Meia? Quis saber um outro guri, desta vez, o Elísio? O que é meia? Alguma coisa a ver com sapatos?
— Calma Leporace e calma Elísio. Vamos por etapas. Deixa primeiro concluir quem foi o Zico. Esse cidadão nasceu em 03 de março de 1953, portanto, neste ano que vem, 2025, ele fará 72 anos. Pois bem! Em homenagem a ele, foi construído o Zicão, para relembrar seus feitos e amanhã os filhos e netos de vocês saberem qual foi a importância deste personagem para o futebol brasileiro.
— E a minha pergunta? – Reclamou uma segunda vez o pestinha do Leporace:
— Ok, Elísio. Meia —, não é uma coisa relacionada a sapatos. Vamos lá. Meia, no futebol, é o jogador centro-campista ou aquele que atua principalmente na zona do meio-campo, entre a defesa e o ataque, cuja função é criar...
— E o Garrincha, quem foi Garricha? – Interrompeu Juliana, pressurosa:
— Um imbecil de galocha. Ganhou muito dinheiro, mas se envolveu com uma cantora (na época famosa) e ela tomou todo o dinheiro dele. O sujeito acabou na merda com uma simples casinha e a cordinha da descarga do banheiro arrebentada. Esta residência famosa fica em Pau Grande, um distrito de Magé, lá no Rio de Janeiro. Em dias atuais, temos o Neimar. Percebam. Já arranjou um monte de filhos, tem uma renca de mulheres. Logo aparecerão novas espertalhonas que o deixarão a ver helicópteros voando sem hélices de cabeça para baixo e apartamentos tomados e ajuizados no Fórum de Balneário Camboriú sendo levados pelas águas da estupidez galopante, aí incluindo carros e outros bens que provavelmente serão apreendidos para pagamentos de pensões atrasadas. Por este cenário seguirão se avolumando novas ‘marias chuteiras’ de bocas largas e gargantas profundas.
Uma mocinha com cara de franja nascida em União da Vitória, no Paraná, até aquele momento quieta, se fez presente:
— Se o Garrincho de Pau Grande foi tão importante, ele também não deveria ter um estádio com seu nome?
A professora riu:
— Não é Garrincho, minha boneca. É Garrincha.
— Desculpe, professora. Então seria um Garrinchão? E o de Neimar, um Neimarzão?
— Bem lembrado, observou a professora com um novo sorriso ainda mais encantador...
A Lucinha, uma magrinha só de butuca, observando, não deixou pôr menos. Mandou vê:
— Professora, e se fosse o Lula um jogador famoso, qual seria o nome do estádio de futebol em homenagem a ele?
O Leporace, meio que pê da vida, voltou à carga. Levantou a mão e quase aos berros, antes que o Elísio ou a professora pudessem falar alguma coisa, o engraçadinho, muito sério, se antecipou à guia de turismo e mandou bala:
— Essa eu respondo...
— Fique à vontade, Leporace... – passou a palavra ao moleque a guia de turismo:
— Ladrãozãoooooooooooooooo...
Elísio, trepado nos cascos, partiu com toda sua fúria para cima do Leporace e o agarrou aos beliscões, tabefes e puxões pelos cabelos.
Foi preciso o motorista parar o ônibus e ajudar a monitora desapartar os dois valentões.
Título e Texto: Carina Bratt, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 30-12-2024
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