domingo, 1 de dezembro de 2024

[As danações de Carina] Existe uma saudade imensa chorando dentro de meu coração. O que fazer?!

Carina Bratt

VIROU ROTINA. Em todas as noites, chova ou não, escuto o vento sussurrando segredos em meus ouvidos. Eles ficam o tempo todo atentos. Só aguardando. Descobri que há uma saudade imensa chorando dentro de meu coração. Ela não pede permissão para entrar, tampouco para sair. E quando vem, não espera convite para que eu permita ou não a sua entrada. Ela apenas chega. Se aproxima, assim do nada, sem aviso, como uma visitante inesperada, trazendo consigo memórias antigas e fragrâncias de um passado que insiste em não ir embora. Nessas horas, me lembro de tardes douradas, onde o sol se punha preguiçosamente no horizonte, tingindo o céu de laranja e rosa.

Caminhávamos, eu e Heitor (meu namorado), juntinhos, de mãos dadas, pelos campos de flores silvestres. Nossas risadas ecoavam como músicas para meus ouvidos, e seu sorriso, tipo um farol que iluminava meus dias mais sombrios. Essas lembranças, agora distantes, são como fotos amareladas pelo tempo. Relíquias guardadas com carinho em um baú de sentimentos. A saudade de Heitor virou companheira aqui de casa. Com o passar do tempo, virou uma lembrança silenciosa, se agigantou fria, chata, nojenta, persistente, medonha. Para aumentar meus dissabores, ela agora se aninha nos cantos do meu coração, enchendo cada espaço vazio deixado pela ausência dele. Meu querido Heitor.

Às vezes, vejo a coisa como uma dor suave, acompanhada de uma nostalgia doce trazendo um sorriso melancólico nos lábios. Em outras ocasiões, se transforma num golpe inesperado. Uma lembrança totalmente maldosa, indecente, pegajosa e dolorosa do que foi e de tudo o que aconteceu entre nós. Tenho consciência, nada voltará ao meu mundo real. O mesmo ocorre nas noites de chuva, notadamente quando as gotas batem contra a janela, a semelhança de lágrimas de cristal. Sinto, doendo cada vez mais forte e intensamente. Há um vazio do meu lado na cama. Um espaço que antes se via preenchido pelo seu calor, seu cheiro, sua voz... também pelo seu abraço reconfortante e pelo amor gostoso que fazíamos.

A saudade se transformou em um lamento meditabundo, um eco de um amor que foi embora, e sempre será, mesmo que não mais presente fisicamente, sempre que se achegar, me tirará do chão. Entendo que a saudade também é uma prova de que vivemos, amamos e fomos amados. Cada lágrima derramada é uma testemunha de momentos preciosos, de conexões profundas que deixaram marcas indeléveis na alma. Ela nos lembra que, apesar da distância e do tempo, os sentimentos verdadeiros nunca desaparecem. Nunca somem. Eles apenas mudam de forma, como o vento que continua a soprar, levando nossas preces aos olhos mansos do céu.

Dessa forma, na quietude da noite, não me resta outra coisa senão aceitar a saudade como parte de mim. Em razão disso, permito que ela chore dentro de meu coração, que se desbulhe em lágrimas sabendo que cada gota dessas lágrimas nada mais será que um tributo ao amor que compartilhamos. Porque, no final das contas, vendo a coisa por outra ótica, a saudade é o preço que pagamos por termos vivido momentos inesquecíveis, por termos conhecido a verdadeira essência do amor. Apesar de entender tudo isso, indagações persistem e me explicam uma série de motivos, contudo, a saudade por ser grande demais, me tira do centro de mim mesma, me rouba a paz e me afasta do foco.

Oxente, o que será que causa essa saudade imensa? Qual a sua verdadeira origem? Magoar? Matar? Ferir? Dar a goles poucos ao destino ingrato um pedacinho que seja, da minha alma atribulada. A saudade é uma emoção complexa que surge de várias causas e origens. Não importa de onde venha, por qual motivo surja do nada. Apenas sei que as suas nuances podem ser profundas e variadas. Como agora, nesse momento, está me importunando. Será que euzinha seria capaz de identificar esses contratempos que ela me traz? Eis aqui algumas dessas possíveis causas e origens. Causas da saudade pela perda de alguém querido. A ausência física de uma pessoa amada, seja por falecimento, separação ou distância, costuma ser a principal fonte de uma saudade intensa.

A memória dos momentos compartilhados e o desejo de revivê-los alimentam essa sensação de modo grandioso. Mudanças de Vida. Mudanças significativas, como se mudar para uma nova cidade, trocar de emprego ou terminar um relacionamento, podem trazer uma saudade pelo que foi deixado para trás. A familiaridade e o conforto dos antigos hábitos geram essa indecorosa e negra nostalgia. Tempo que Passa. A passagem do tempo nos afasta de certas fases da vida, como a infância ou juventude. Recordar essas épocas, com suas simplicidades e alegrias, pode gerar uma saudade profunda. Origem da Saudade De onde ela vem, para que vem e para onde vai?

A verdadeira origem da saudade acredito, está enraizada nas nossas experiências e emoções. Ela é um reflexo do quanto valoramos e amamos algo ou alguém que já fez parte da nossa vida. Saudade é, em essência poderosa, um produto da conexão emocional e do apego profundo que temos com pessoas, lugares e momentos. Impacto da Saudade. Magoar. A saudade pode, sim, magoar. Em decorrência disso, ser uma dor constante que nos lembra de algo ou alguém que não podemos ter de volta. Como é o meu caso com o Heitor. Essa dor pode ser um lembrete cruel da impermanência da vida e dos nossos laços afetivos. Desgaste Emocional. Quando não lidamos bem com a saudade, ela pode corroer a nossa alma, trazendo tristeza e ansiedade e as vezes, até depressão.

É importante encontrar maneiras saudáveis ou salutares de processar e aceitar essa emoção. Lidando com a Saudade, podemos pensar em aceitação. Aquiescer a saudade como parte natural da vida, acredito, pode ajudar a aliviar o seu peso. Entender que sentir saudade significa que tivemos experiências valiosas. Conexão com o Presente. Se manter conectado com o agora e criar novas memórias pode ajudar a equilibrar a saudade do passado. Não podemos esquecer da expressão. Falar sobre a saudade, escrever, ou até mesmo criar uma arte ainda não posta em prática, pode ser uma forma terapêutica de lidar com essa emoção.

A saudade, por derradeiro, pode ser barbara e avassaladora, sinistra e arrasadora. Como esta que existe chorando dentro do meu coração. Mas, também, acreditem amigas, aconteça o que acontecer, ela nunca deixará de ser um testemunho vivo e imorredouro do amor e das experiências ricas que criamos ou que tivemos. O que fazer? Num primeiro momento, não esquecer que ela nos lembra que, apesar das perdas e mudanças, a nossa capacidade de amar e nos interagir com novos horizontes, novos amores e caminhos (sejam esses caminhos incertos e obscuros), acima de tudo e de qualquer coisa, mais hoje, mais amanhã e, quem sabe, até depois, se transformará numa das maiores forças que temos para desfrutar desta vida. E até de outras mais, se porventura existirem.

Título e Texto: Carina Bratt, de Magé, Rio de Janeiro, 1-12-2024

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