O Coral do Aerus

Jonathas Filho

Logo que comecei na 4ª série no antigo Primário, fui convidado para fazer parte de um coral. Em princípio pensei “preconceituosamente” que isso era coisa de meninas, ou“mariquinhas” como se dizia na época, mas vencido pela minha curiosidade, fui até à Coordenadoria e conversei com um Inspetor de Alunos que lá estava. Ele me explicou que seria extremamente importante que nós, alunos, pudéssemos representar a Escola em ocasiões em que o Coral se apresentasse. Perguntei-lhe quantos já tinham se inscrito e ele, meio sem graça, respondeu com  voz grave e em tom quase imperceptível: - somente um, você é o segundo. Naquele momento, senti que fiquei com o rosto rubro, com vergonha de ter escutado o “UM” que ele disse.  Pensava que vários alunos, todos entrando na “adolescência” como eu – ou  até mesmo só  as meninas – pretendessem participar do Coral num número de pelo menos 12 alunos... talvez 5 mas, UM (?!)... foi como ter levado um empurrão e caído numa poça de água lamacenta. Me recompuz e pensei como seria importante mostrar a nossa capacidade, a nossa competência, o nosso despreendimento, o nosso orgulho em pertencer a uma Instituição e lutar por ela, mesmo que cantando!

Fiz a minha inscrição e comecei a pensar em músicas que poderiam causar impacto, chamar a atenção. Junto com o outro colega, formamos um dueto, cujo apelo das músicas cantadas em tom alto na hora do recreio, em 1ª  e 2 ª voz, causaram empatia e simpatia, o que atraiu mais dois colegas e nesse quarteto começamos a praticar músicas a capella. A repercussão chamou, de fato, mais colegas  até chegarmos ao número de 14 rapazes e 16 garotas. Ensaiamos e fizemos várias apresentações na Escola e em alguns clubes próximos.

Como sempre, o tempo passa, e hoje na atual situação em que nos encontramos, depauperados econômico-financeiramente, tudo isso tendo sido provocado pelos desvios de dinheiro do nosso Fundo de Pensão AERUS e também porque a nossa Justiça permite recursos que obstam a todo instante uma decisão final e o acatamento fiel ao cumprimento da sentença.

Pergunto se isso nos remete somente à audição de blá- blá- blás?  Eu mesmo respondo: NÃO!!! NÃO MESMO!!! Nós temos VOZ... podemos e devemos usá-la!!

Então, retorno e retomo a mesma  idéia de um passado distante. Nosso kirido colega e amigo José Manuel, vai entrincheirar-se num novo e perigoso combate com a GREVE DE FOME, para com isso chamar a atenção das autoridades governamentais que “nos propuseram um acordo” há 2 meses e 10 dias e até então NADA ACONTECEU!!!                                                                                       

De fato não dá para aguardar mais. Façamos um CORO junto a ele, todos os dias em que ele permanecer no SDU, e como pacifista que sou, SUGIRO a todos aqueles que tenham interesse em participar, a criação de um CORAL para que, de hora em hora (aquela que seja a mais propícia) cantemos em alto e bom som os refrões de  músicas que sugiro: “Que país é esse”, de Renato Russo, “Ideologia”, de Cazuza, “O tempo não para”, de Cazuza, entre outras que possam ter um “apelo” político mais interessante e/ou com “inserções” que sejam colocadas tais como em “Que país é esse”:

“O  Aerus... foi roubado

Acordo proposto só é falado!

Ninguém respeita a Constituição...

e quem se prejudica é o aposentado sem tostão!

Que país é esse?

Que país é esse? 

Que país é esse?” 

Criação: Jonathas Filho

Com certeza, independentemente de quem lá estiver fazendo coro,  outras músicas de amplo conhecimento público (com o Aerus políticamente inserido), poderão ser adotadas para também não ficarmos na mesmice que tanto criticamos. Que se apresentem Sopranos, Contraltos e Tenores, Maestros e Diretores de Corais pois serão muito bem-vindos. Quem sabe, vira e virá a Voz do Brasil,  já que estamos todos espalhados por todo o território nacional?!?!

Aqueles que puderem levar uma fantasia de palhaço para ser trocada nos toilletes do SDU também serão de grande importância para evidenciar a nossa situação perante esse “acordo” que não se apresenta.  Aqueles que não puderem comparecer, rezem, pois as intenções sempre ajudam.

O sucesso só poderá pertencer àqueles que tentam...

Título e Texto: Jonathas Filho, Ex-Comissário Varig, Aposentado do Aerus, 23-10-2013