Rodrigo Constantino
Chega a ser contrastante, à
primeira vista, ler a minha coluna de
hoje no GLOBO, falando de esperança, e depois ler o artigo de Paulo Rabello de Castro, logo abaixo
do meu, com um grave tom de alerta para o que nos aguarda em 2015. Mas não
divergimos tanto assim. Falamos apenas de prazos diferentes.
A análise do Paulo, quem muito
respeito, é precisa: o Brasil está regredindo na gestão da economia, e na
melhor das hipóteses podemos esperar mais do mesmo no ano que vem. Se assim
for, creio que já será motivo para soltar fogos de artifício. O mais provável é
a situação se deteriorar ainda mais, entrando em recessão apesar da alta
inflação. Diz o economista:
O que mais estarrece e faz
congelar o sentimento empresarial é não conseguirmos enxergar um palmo à
frente. Aquela sensação de o país ser “a bola da vez”, na hora da arrancada
para a prosperidade, foi se desmanchando nos anos recentes pela constatação de
que a economia brasileira não estava indo a lugar nenhum, isso se não estiver
rumando para uma quebradeira bestial, ao início de 2015. Os gestores da
economia confiaram cegamente no hiperciclo das commodities, surfando os altos
preços do agronegócio e dos minérios, como se a bonança pudesse durar para
sempre. Concentraram fichas no setor de óleo, gás e petroquímica, sem o mínimo
cuidado de planejar uma indústria forte e diversificada. O retorno ao que já
fomos será duríssimo, isso se caminho houver.
São palavras duras, que
estragam nosso otimismo típico da véspera da Natal. Mas ele está certo, claro,
e o realismo é necessário. Colocar um nome forte à frente da economia não
resolve nada, como lembra Paulo. São muitas trapalhadas feitas pelo governo Dilma,
e a conta vai chegar inevitavelmente. O modelo tem sido completamente
equivocado, desestimulando o empreendedorismo e estimulando o ócio. Os
pagadores de impostos não aguentam mais.
Como, então, conciliar essa
visão lúgubre com meu texto em tom mais esperançoso? Simples: concordo com tudo
o que Paulo diz, mas acho que há a possibilidade de revertermos isso. Não hoje,
tampouco em 2015 ou mesmo 2016. Mas olhando mais à frente. Há ventos de mudança
no ar. O país do “governo grátis”, como ele diz, entende cada vez mais que de
gratuito não há nada quando se trata de governo. Ele custa, e muito caro, além
de ser muito ineficiente.
Ainda é preciso levar tal
mensagem a muito mais gente, e por isso os esforços de instituições como o Instituto Liberal e
o MovimentoBrasil Eficiente são tão importantes. Educar o eleitor é o passo
fundamental para mudar. A mentalidade do brasileiro médio precisa mudar. Ele
precisa se dar conta de que quanto mais demandar do governo, maior será a
parcela de seu salário subtraída por Brasília. E já chega a
quase metade do que ganha hoje!
É impossível olhar o Brasil de
hoje e ser otimista no curto prazo. Mas é possível ter esperança no amanhã,
desde que de forma realista, como reforço no meu texto, e ciente de que é
preciso arregaçar as mangas e lutar por isso. A esperança num futuro melhor
começa pelo combate às ideias erradas, e também pela oposição ao atual governo,
que representa justamente todo esse equívoco intelectual, sem falar da
roubalheira desenfreada.
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