Francisco Vianna
![]() |
O Presidente Nicolás Maduro
durante a rodada de imprensa da terça-feira, no Palácio Miraflores. Foto: EFE
|
O Banco Central da Venezuela
confirmou oficialmente aquilo que todos os mercados já sabiam, que a economia
do país sob o tacão do “socialismo do século XXI” mergulhou numa recessão
profunda ao longo deste ano. O documento, ao invés de tentar explicar as causas
económicas da situação caótica em que se encontra o país sulamericano, preferir
culpar os adversários políticos do governo socialista de Nicolás Maduro por
terem-se dedicado a “sabotar a atividade econômica”...
Com uma contração de 2,3 por
cento do PIB registrado apenas no terceiro trimestre de 2014, a economia
venezuelana, o Banco Central da Venezuela afirmou que o relatório é o primeiro
oficial sobre o desempenho econômico do país ao longo do ano que termina. No
segundo trimestre desse ano a queda foi de 4,9 por cento, logo após registrar
uma contração de 4,8 por cento nos três primeiros meses do ano. Conforme os
parâmetros internacionais mais usuais, com dois trimestres contínuos registrando
quedas no PIB, o país já é considerado em recessão econômica.
A contração ocorre enquanto so
preços internacionais do petróleo caem de forma constante, já sendo cotados em
torno de 46 dólares o barril. Com isso a Venezuela fecha o ano com uma inflação
acunulada de 63% anual e é o segundo país do mundo com as maiores taxas de
homicídio no ano que se finda.
![]() |
Enquanto isso, o líder
oposicionista Capriles aceita a convocação de Maduro para explicar como
conseguiu comprar em Nova Iorque um apartamento no valor de 5 milhões de
dólares.
|
A Venezuela praticamente não
produz quase nada pelo fato de ter sido submetida por muitos anos a ideia de
que o petróleo que tem seria o suficiente para prover todas as necessidades de
seu povo.
As necessidades da população
fortemente dependente do petróleo consomem 96 por cento de toda a renda que o
país consegue auferir de todas as suas exportações petrolíferas.
Como a queda dos preços
internacionais ocorre numa hora em que a Venezuela enfrenta uma inflação
galopante e severos problemas de escassez e desabastecimento de produtos
básicos para a sua população, e o fato da contração econômica ocorrer em meio a
um contexto de aceleração de aumento de preços, os analistas estimam que a
Venezuela entrou num ciclo de “estagflação”, que implica contração econômica e
inflação alta.
Seria se esperar que o
Presidente Maduro anunciasse ontem algumas medidas econômicas, e de política
monetária, recomendadas por analistas para reverter essa situação, entre elas a
desvalorização do “Bolívar” e o aumento do preço da gasolina que é a mais
barata do mundo. No entanto, depois de uma verborragia inútil que levou varias
horas consumindo a paciência dos ouvintes, quase ininterruptamente numa
entrevista de imprensa, o mandatário apenas apresentou algumas metas de seu
“programa de recuperação econômica” para 2015, sem anunciar qualquer medida
concreta imediata.
“Estou convencido de que o ano
de 2015 será o ano da ‘grande mudança’ do modelo econômico”, assegurou Maduro,
que deixou para depois do fim de ano as medidas na política cambial. Maduro
disse aos jornalistas que “parece haver uma recuperação da dinâmica de
crescimento, e talvez possamos ter a possibilidade de controle dessa inflação
induzida”, que é esperada chegar a 64% em 2014, em termos oficiais. No câmbio
negro, a inflação já supera os 110 por cento.
“Já desde o segundo trimestre
estávamos em recessão. Dois trimestres consecutivos de queda na economia já é
tecnicamente uma recessão”, afirmou o economista José Guerra, ex-gerente de
Investigações Econômicas do BCV. Por outro lado, essa expectativa inflacionária
de 64% será a más alta taxa de inflação desde 1996, segundo a consultoria
Ecoanalítica.
A Venezuela, ao longo de 2014
viu secar sua reserva de moedas fortes graças aos pagamentos de armamentos das
compras feitas por Chávez à Rússia e outros itens bélicos adquiridos inclusive
do Brasil. Com isso a importação caiu em 12,3 por cento no já reduzidíssimo
setor privado, e a queda do preço do petróleo fez o resto do estrago criando
uma forte escassez de alimentos e medicamentos, entre outros itens. A queda dos
preços de petróleo reduziu em menos de meio ano à metade a renda do país com a
exportação da mercadoria, que também diminuiu em volume.
Maduro, com a cara de pau que
Deus lhe deu, alegou que com a queda do preço do barril de petróleo que está em
$46.77 dólares o barril, mas tudo não passa de uma “estratégia da elite dos EUA
para destruir a OPEP e golpear outras economias, como a da Rússia, a do Irã e a
da própria Venezuela”.
Os maus resultados econômicos
afetam a popularidade de Maduro – que beira os 24 por cento – e ameaçam a
possibilidade de que o chavezismo vença as eleições parlamentares que devem se
realizar em 2015. Maduro e aliados asseguram que a oposição venezuelana e
interesses estadunidenses e colombianos têm dirigido uma “guerra econômica” que
– afirma – aspira destruir a economia da Venezuela. Ou seja, os maus resultados
dos socialistas são sempre atribuídos aos outros, nunca à própria incompetência
ou insustentabilidade do sistema.
A complicada situação
econômica do “bolivarianismo” fez com que o governo impedisse a divulgação dos
indicadores como a taxa de inflação, o PIB e a balança de pagamentos,
levantando entre a oposição dúvidas sobre a autonomia do Banco Central frente
ao executivo e denunciando a ingerência de Havana no governo venezuelano. O
Banco Mundial qualificou as medidas de Caracas como práticas ultrapassadas.
Recentemente, a agência de
graduação financeira FITCH baixou de forma severa a qualificação de solvência
da Venezuela, de “B” para “CCC”, uma gradação destinada aos países nos quais o
calote é uma “possibilidade real e iminente”. A Venezuela deverá enfrentar,
pelo menos, o vencimento de $10 bilhões de dólares de sua dívida externa em
2015.
Título e Texto: Francisco
Vianna, (da mídia internacional), 1-1-2015
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-