Marcio Moreira Alves, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1.ª edição: 1978, 314 páginas.
Mantenho, no presente trabalho, as conclusões
gerais a que chegara em 1973 sobre o papel que a Igreja Católica, tomada no seu
conjunto organizacional, poderá vir a desempenhar na luta pelas transformações
de uma das sociedades mais injustas e violentas que existem no mundo de hoje.
No entanto, procuro aprofundá-las, justificá-las melhor e, em alguns casos,
matizá-las tendo em conta a evolução de dois fatores de imensa importância: o
agravamento do conflito Igreja-Estado, do qual resultou recentemente o assassínio
de dois padres e o seqüestro de um bispo, e o florescimento de uma nova
estrutura organizacional, potencialmente transformadora, as comunidades
ec1esiais de base.
Para os teólogos, igreja é “a Palavra, o Sacramento, a presença do Bispo e a comunhão com todas as demais igrejas” (Pe. Alberto Antoniazzi) e a igreja local é “a porção do Povo de Deus confiada a um Bispo que, aderindo ao seu pastor e por ele congregada ao Espírito Santo, mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitui uma igreja particular” (Christus Dominus, 11/1034, documento conciliar). Para o objeto deste estudo, a igreja é uma instituição sociológica concreta, com os seus centros de decisão, as suas estruturas organizacionais, os seus recursos materiais e humanos e o seu discurso ideológico, existentes em um lugar determinado, o Brasil, em um tempo dado, o que vivemos.
É a ação política desta instituição e as razões que a instruem que
procuro examinar. Penso que a exemplificação e as lições contidas no caso
brasileiro podem ser extensivas a outras igrejas, latino-americanas e europeias,
em particular às de Espanha e de Portugal.
Finalmente, gostaria de
registrar a minha gratidão pelas severas e fraternais críticas de Magno
Villela, que muito influenciaram a reformulação deste trabalho.
Lisboa, setembro de 1977
É lembrado como o provocador
do AI-5, ao proferir no início de setembro de 1968, como deputado, um discurso
no Congresso Nacional em que convocava um boicote às comemorações do Dia da
Independência do Brasil e solicitava às jovens brasileiras que não namorassem
oficiais do Exército.
Em função do tom, considerado
radical, de seu discurso, o Ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva,
enviou à Câmara de Deputados um pedido de autorização para que o deputado
Márcio Moreira Alves fosse processado, mas, em votação realizada em 12 de
dezembro, o pedido do governo foi rejeitado por 216 a 141, com quinze
abstenções. Nesse mesmo dia, Márcio Moreira rapidamente abandonou o recinto da
Câmara e desapareceu, exilando-se depois.
A represália do governo foi
violenta: na manhã seguinte, foi convocado o Conselho de Segurança Nacional e
editado o Ato Institucional Número Cinco, considerado o mais duro ato
institucional editado durante o Regime Militar, que deu ao presidente o poder de
fechar o Congresso Nacional e as legislaturas estaduais e municipais, governar
por decreto e suspender os direitos políticos dos cidadãos. (…)
Em 1974, mudou-se para Lisboa,
onde foi professor do Instituto Superior de Economia. Durante seu exílio, em
1977, chegou a ser indiciado no Brasil em um inquérito instaurado no
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) do Rio de Janeiro, acusado de
redistribuir ilegalmente no Brasil o livro Suor e alegria: os trabalhadores
de Cuba, editado em Portugal.
Em 1978, porém, a investigação
foi arquivada.
Beneficiado pela Lei da
Anistia, em 1979, Márcio voltou ao Brasil e passou a colaborar, até 1986,
com o jornal Tribuna da Imprensa. (…) Wikipédia
Abstraindo a ideologia (e a intenção sequente), o livro tem relevantes informações factuais. Por exemplo:
1: Em 1951, depois de uma primeira reunião das equipes regionais e do
Nordeste, o MEB (Movimento Educacional de Base) lançava-se
na tarefa de “contribuir de uma maneira decisiva para o desenvolvimento
integral do povo brasileiro. tendo em vista as dimensões totais do homem e
utilizando todos os métodos autênticos de conscientização.
Isso deveria ser levado a cabo
a partir de uma perspectiva de autopromoção e deveria conduzir à transformação
decisiva das mentalidades e das estruturas. Esta transformação parece-nos,
neste momento, necessária e urgente”.
Um ano mais tarde, os coordenadores
sentiam a necessidade de elaborar um texto para uma cartilha capaz de ajudar o
despertar das consciências que buscavam como seu objetivo primário. Formou-se
um grupo de estudos, preparou-se um texto e, depois da, aprovação por alguns
bispos, foi encomendada a impressão de cem mil exemplares a uma tipografia de
esquerda.
A 20 de fevereiro de 1964, o
livro foi apreendido pela polícia política do Estado da Guanabara, governado
por Carlos Lacerda, um dos principais chefes da conspiração contra Goulart.
A começar pelo título Viver
é Lutar, tudo neste livro foi apresentado como prova da “comunização”
da Igreja e da infiltração subversiva no MEB.
Os textos das cartilhas não
eram o único instrumento de trabalho dos militantes do MEB e de outras
organizações católicas empenhadas na mobilização camponesa.
Em 1961, Paulo Freire, professor
na Universidade Federal de Pernambuco e católico radicalmente votado à causa
das transformações sociais, tinha posto em prática um método para ensinar os
camponeses a ler em quarenta horas de aulas, mas a alfabetização não era, no
seu espírito, senão um objetivo quase secundário a atingir.
Fundamentalmente, Paulo
Freire queria ensinar os camponeses a pensar, a reconhecer o seu lugar na
sociedade, a ver as relações de dominação que impediam o seu progresso.
A razão desta insistência na
análise da realidade era idêntica à que compelia os quadros do MEB para a via
“não diretiva” — uma profunda crença na possibilidade que o homem tem de
modificar o seu mundo e a si próprio, a partir do momento em que toma consciência
da opressão de que é vítima. Com efeito, as oito primeiras aulas de cada curso
de alfabetização eram exclusivamente destinadas a estimular a “consciência
crítica” dos camponeses.
2: Em 26 de maio de
1969, o padre Henrique Pereira Neto, capelão dos estudantes do Recife, foi sequestrado
por um grupo não oficial. o CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Na manhã
seguinte o seu corpo, torturado e degolado, foi encontrado num campo vizinho à
Universidade Católica. A censura impediu a publicação da notícia pela imprensa
local. O Exército ocupou a cidade, que o cortejo fúnebre, conduzido por D.
Hélder Câmara, desfigurado de dor, atravessou de ponta a ponta.
Um ano mais tarde, dia por
dia, D. Hélder decidiu denunciar publicamente a tortura dos prisioneiros
políticos no Brasil.
Sabendo que a imprensa
brasileira não poderia publicar as suas declarações, preferiu fazê-las em Paris,
durante uma conferência no Palácio dos Desportos. Limitou-se, então, a citar
apenas casos que havia comprovado pessoalmente, entre os quais o de um jovem
advogado, tornado paralítico, que visitara no hospital do Recife.
Foi o bastante para reforçar a
avalanche de denúncias feitas pelos próprios presos políticos, por
correspondentes estrangeiros no Brasil, pelas organizações internacionais de
proteção aos direitos do homem e, finalmente, pela própria CNBB.
O Pe. Joseph Comblin, um dos
inovadores da Teologia da Libertação e conselheiro de D. Hélder até ser expulso
do país, considera a defesa dos direitos do homem como sendo atualmente uma
parte integrante dá estratégia política da Igreja por ter ela de opor-se a um
novo tipo de regime sócio-político fascizante, em formação na América Latina.
Em 2025, políticos, jornalistas,
blogueiros, juízas, exilados, brasileiros, também preferem fazer as suas
declarações no Exterior…😉
👏👏👏👏
Anteriores:FRONTIÈRES: Enquête sur la Galaxie anti-France
Front Populaire
Lidas e a ler
The New American
O Prazer da Leitura
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-