sexta-feira, 25 de abril de 2025

Um Cardeal Negro contra a Babilônia Moderna

Marcos Paulo Candeloro 

A morte do Papa Francisco encerra uma era que, para muitos católicos e observadores do colapso civilizacional do Ocidente, será lembrada não como um tempo de renovação espiritual, mas como o triste epílogo de uma Igreja sequestrada por ideias alheias ao seu fundamento eterno. Sob o disfarce de humildade e inclusão, o papado de Francisco abraçou sem pudor a agenda globalista, as palavras de ordem do progressismo e a estética sentimental do humanismo sem Cristo. Preferiu afagos retóricos aos poderosos deste mundo a exortações francas à verdade. O resultado é uma Igreja confusa, dividida, acuada — e cada vez mais irrelevante no jogo espiritual da história. 

É nesse cenário de ruína moral e desorientação teológica que o nome do cardeal Robert Sarah [foto] ressurge com uma força quase simbólica. Africano, negro, conservador e profundamente enraizado na tradição espiritual da Igreja, Sarah representa tudo o que o establishment liberal odeia e teme: um homem que fala com autoridade, não por ser produto de cotas ou de marketing religioso, mas por sua fidelidade ao Logos encarnado. Num mundo onde tudo é fluido, Sarah é rocha. Numa Igreja que tenta se adaptar ao mundo para não ser rejeitada por ele, ele clama pela cruz e pela conversão. É, portanto, natural que sua possível eleição ao papado esteja gerando pânico nos círculos que fizeram de Francisco seu porta-voz oficioso. 

Sarah é, antes de tudo, um profeta da decadência europeia. Denuncia, com voz serena mas intransigente, a apostasia do Ocidente, sua renúncia às raízes cristãs, sua entrega voluntária a um multiculturalismo suicida que dissolve as fronteiras, as identidades, as verdades. Ao contrário do que pregam os bispos entorpecidos por ONGs e comitês da ONU, ele não considera a imigração massiva um sacramento. Vê nela o que de fato é: o instrumento de uma transformação civilizacional guiada por elites que odeiam aquilo que a Europa foi e tentam reconfigurá-la como laboratório da nova ordem global.

 Se os conservadores genuínos do mundo todo se sentem atraídos por Sarah, não é por nostalgia ou fetiche pelo “Papa duro”. É porque sabem que ele entende — e vive — o que está em jogo. Sarah não quer salvar a Igreja da impopularidade; quer salvá-la do Inferno. Ele não propõe reformas administrativas, mas penitência. Ele não fala de sustentabilidade, mas de salvação. E essa clareza, numa época de disfarces, vale mais do que toda a verborragia dos sínodos contemporâneos. 

O contraste com figuras como José Tolentino Mendonça não poderia ser mais gritante. Onde Sarah fala em raízes, Mendonça acena para uma “fé” líquida, moldada pelo espírito do tempo. Onde Sarah evoca o sacrifício e o juízo, Mendonça celebra a inclusão como dogma, o aborto como direito e a agenda LGBT como expressão da “misericórdia divina”. Sua aliança com feministas pró-aborto e teólogas progressistas não é sinal de abertura — é a confirmação do abandono do Evangelho em nome da aceitação universal. É o culto da tolerância que tolera tudo, menos a verdade. 

A eleição de Sarah não seria apenas um gesto teológico. Seria um terremoto simbólico. Um Papa africano, negro, ortodoxo e crítico feroz da degeneração cultural do Ocidente abalaria profundamente as certezas da elite liberal, que está acostumada a moldar “papáveis” como molda celebridades. Seria a irrupção do real no teatro da simulação. E é precisamente por isso que os defensores da nova ordem moral — inclusiva, abortista, relativista — farão de tudo para impedir sua ascensão. Porque Sarah, como Clarence Thomas na Suprema Corte americana, revela o que eles mais temem: a possibilidade de que um homem não branco, não europeu e não progressista os confronte com a verdade que fingem defender. 

Num mundo que jaz no maligno e numa Igreja que há muito perdeu o senso do sagrado, é natural que a esperança assuma a forma de um improvável. Deus, que se revelou em uma manjedoura e triunfou numa cruz, não se impressiona com os bastidores do Vaticano nem com as estratégias das conferências episcopais. Ele opera onde menos se espera, e talvez, dessa vez, esteja preparando um guerreiro silencioso vindo da África para lembrar à cristandade — e ao mundo — que o trono de Pedro ainda é o lugar da Verdade, e não da negociação. 

Se for assim, que venha Sarah. E que venha como um raio contra os vendilhões do templo. 

Título e Texto: Marcos Paulo Candeloro, ContraCultura, 25-4-2025 

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